Falta de assunto sério, dediquemo-nos a trivialidades, antes que corra o risco de falar de assuntos tão importantes como o dos “grandes portugueses” da Srª D. Elisa, que, pelo vistos, ocupa a mente e os bites de muitos portugueses cultos e ilustres.
Pois no “Público” de hoje (não "linkável", claro), Rui Ramos escreve sobre o QREN. Mas não, não é essa a trivialidade de que vou falar, até porque não só não o é como subscrevo, na generalidade – mais “coisa” menos “coisa” -, o que RR diz sobre o assunto. Vou, isso sim, falar de dress codes e “telepontos”. Trivialidades, pois claro, reconheço-o perfeitamente. E que têm RR e o QREN a ver com tudo isto? Bom... é que RR começa hoje assim o seu artigo: ...”O primeiro-ministro põe o seu melhor fato e o seu melhor “teleponto”, blá, blá blá...” e isso traz-me à memória não só que os portugueses escarnecem, em geral, dos dress codes como também o uso de teleponto, por parte de José Sócrates, foi repetidamente glosado em termos jocosos por uma boa parte da comunicação social, pelo menos no início do seu mandato. E mal! Ou seja, nem os portugueses têm razões para escarnecer dos dress codes nem a comunicação social para "gozar" com a utilização do “teleponto” por parte de José Sócrates. Ora senão vejamos, e vamos por partes.
Os dress codes estão, hoje em dia, bastante aligeirados, mas independentemente de questões práticas (não dá jeito nenhum ir para a praia de fato e gravata ou jogar ténis de sobretudo), eles têm permitido, ao longo dos anos, marcar a importância e solenidade dos acontecimentos. Vestimo-nos de modo mais formal para um casamento ou um enterro, por exemplo, porque são considerados, cada um de seu modo, acontecimentos únicos e solenes, e o próprio traje utilizado contribui para essa solenidade, conferindo-lhe, inclusivamente, um mood and tone adequados. Vestimos fato e gravata para trabalhar, em certas profissões, porque estamos num terreno de relações formais, mas se essa profissão se exercer numa área onde o relacionamento é mais informal (nas áreas “criativas”, por exemplo) o nosso dress code acompanha essa maior informalidade, dispensando o fato completo e gravata. Do mesmo modo, o dress code é mais conservador, e formal, na banca e na advocacia, porque estamos em terrenos tradicionalmente considerados mais “sérios”, onde os negócios têm a ver com o dinheiro e a liberdade (ou a sua restrição) e onde, por isso, devemos inspirar confiança e “solidez” e não “ir com a moda do momento”. Noutra vertente, é um valor assumido que a solenidade dos acontecimentos aumenta com o decorrer do dia, por isso, em termos gerais, é comum um dress code mais formal para um jantar do que para um almoço, o mesmo acontecendo para uma festa à noite se comparada com um cocktail ao fim da tarde. Isto são as questões de base que permitem entender os dress codes, não sendo aqui tempo e local para aprofundamentos e detalhes. Mas, voltando ao primeiro-ministro, se vestiu o seu melhor fato para a apresentação do QREN, fez muito bem, pois embora eu também duvide da eficácia do “dito” QREN, tratou-se seguramente de um momento importante para o governo e para o país.
Quanto ao “teleponto”, ele não é - longe disso - um método “para enganar o pagode”, fingindo que se fala de improviso quando, na realidade, se está a ler. Ou uma manifestação de impotência oratória. O “teleponto” permite, isso sim, que se fale com o rigor conferido por um texto, que está escrito, olhando de frente o público a quem nos dirigimos, o que aumenta a eficácia da comunicação. Permite, também, com alguma facilidade e pouco treino, combinar eficazmente o “à vontade” de um improviso com o rigor de um texto, melhorando assim a comunicação, e facilita a ligação dessa intervenção com a utilização de outros meios audiovisuais (música, slides, filmes, etc). Antes da sua existência e vulgarização, no “dia a dia”, a alternativa era ler um texto ou falar de improviso. No primeiro caso havia a tendência para o discurso; no segundo, ficava-se demasiado na dependência das qualidades de cada um, enquanto orador, e como o melhor improviso é o que foi bem treinado, do tempo disponível para as exercitar.
Dress code e “teleponto” têm assim algo em comum: ambos contribuem para conferir algum rigor e método à nossa vida, algo que, pelos vistos, não agrada lá muito a outros tantos portugueses.
Pois no “Público” de hoje (não "linkável", claro), Rui Ramos escreve sobre o QREN. Mas não, não é essa a trivialidade de que vou falar, até porque não só não o é como subscrevo, na generalidade – mais “coisa” menos “coisa” -, o que RR diz sobre o assunto. Vou, isso sim, falar de dress codes e “telepontos”. Trivialidades, pois claro, reconheço-o perfeitamente. E que têm RR e o QREN a ver com tudo isto? Bom... é que RR começa hoje assim o seu artigo: ...”O primeiro-ministro põe o seu melhor fato e o seu melhor “teleponto”, blá, blá blá...” e isso traz-me à memória não só que os portugueses escarnecem, em geral, dos dress codes como também o uso de teleponto, por parte de José Sócrates, foi repetidamente glosado em termos jocosos por uma boa parte da comunicação social, pelo menos no início do seu mandato. E mal! Ou seja, nem os portugueses têm razões para escarnecer dos dress codes nem a comunicação social para "gozar" com a utilização do “teleponto” por parte de José Sócrates. Ora senão vejamos, e vamos por partes.
Os dress codes estão, hoje em dia, bastante aligeirados, mas independentemente de questões práticas (não dá jeito nenhum ir para a praia de fato e gravata ou jogar ténis de sobretudo), eles têm permitido, ao longo dos anos, marcar a importância e solenidade dos acontecimentos. Vestimo-nos de modo mais formal para um casamento ou um enterro, por exemplo, porque são considerados, cada um de seu modo, acontecimentos únicos e solenes, e o próprio traje utilizado contribui para essa solenidade, conferindo-lhe, inclusivamente, um mood and tone adequados. Vestimos fato e gravata para trabalhar, em certas profissões, porque estamos num terreno de relações formais, mas se essa profissão se exercer numa área onde o relacionamento é mais informal (nas áreas “criativas”, por exemplo) o nosso dress code acompanha essa maior informalidade, dispensando o fato completo e gravata. Do mesmo modo, o dress code é mais conservador, e formal, na banca e na advocacia, porque estamos em terrenos tradicionalmente considerados mais “sérios”, onde os negócios têm a ver com o dinheiro e a liberdade (ou a sua restrição) e onde, por isso, devemos inspirar confiança e “solidez” e não “ir com a moda do momento”. Noutra vertente, é um valor assumido que a solenidade dos acontecimentos aumenta com o decorrer do dia, por isso, em termos gerais, é comum um dress code mais formal para um jantar do que para um almoço, o mesmo acontecendo para uma festa à noite se comparada com um cocktail ao fim da tarde. Isto são as questões de base que permitem entender os dress codes, não sendo aqui tempo e local para aprofundamentos e detalhes. Mas, voltando ao primeiro-ministro, se vestiu o seu melhor fato para a apresentação do QREN, fez muito bem, pois embora eu também duvide da eficácia do “dito” QREN, tratou-se seguramente de um momento importante para o governo e para o país.
Quanto ao “teleponto”, ele não é - longe disso - um método “para enganar o pagode”, fingindo que se fala de improviso quando, na realidade, se está a ler. Ou uma manifestação de impotência oratória. O “teleponto” permite, isso sim, que se fale com o rigor conferido por um texto, que está escrito, olhando de frente o público a quem nos dirigimos, o que aumenta a eficácia da comunicação. Permite, também, com alguma facilidade e pouco treino, combinar eficazmente o “à vontade” de um improviso com o rigor de um texto, melhorando assim a comunicação, e facilita a ligação dessa intervenção com a utilização de outros meios audiovisuais (música, slides, filmes, etc). Antes da sua existência e vulgarização, no “dia a dia”, a alternativa era ler um texto ou falar de improviso. No primeiro caso havia a tendência para o discurso; no segundo, ficava-se demasiado na dependência das qualidades de cada um, enquanto orador, e como o melhor improviso é o que foi bem treinado, do tempo disponível para as exercitar.
Dress code e “teleponto” têm assim algo em comum: ambos contribuem para conferir algum rigor e método à nossa vida, algo que, pelos vistos, não agrada lá muito a outros tantos portugueses.
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