A presença do Cardeal Patriarca de Lisboa hoje na "Grande Entrevista" de Judite Sousa (na RTP 1, serviço público de televisão), a quinze dias do referendo sobre o aborto onde a Igreja Católica tem demonstrado não só ser parte interessada como manifestamente interveniente – e não se vislumbrando qualquer outra questão de actualidade que a justifique - vem colocar algumas questões interessantes e importantes:
- Em primeiro lugar que longe vão as intenções expressas por D. José Policarpo em deixar para os leigos o fundamental da discussão sobre o assunto; a hierarquia católica tem-se envolvido de forma bem directa na discussão, por vezes num tom demagógico ou até mesmo manifestando intenções persecutórias e inquisitoriais que se julgariam remetidas para a memória dos tempos. Estou certo não será esse o caso do Patriarca de Lisboa, personalidade de estatura cívica e intelectual insuspeita, mas seria bom ouvir-lhe uma palavra crítica sobre esses casos. Não discuto a legitimidade da Igreja para participar directamente na discussão (a sua rádio oficial assumiu mesmo uma posição e tem todo o direito de o fazer), mas apenas a não conformação com as intenções expressas, o que retirará aos bispos portugueses qualquer autoridade futura para criticar comportamentos semelhantes a personalidades de outras áreas (i.e. políticos).
- Em segundo lugar, tratando-se do serviço público de televisão, que deveria manter uma posição de neutralidade e independência e não sendo a Igreja Católica parte integrante de nenhum dos movimentos ou grupos de cidadãos legalizados (ou constituindo-se ela própria como tal), questiona-se a oportunidade e legitimidade da entrevista a quinze dias do referendo, concedendo aos partidários do “Não” um tempo de antena suplementar, ainda mais através daquele que é, de facto (pela posição que ocupa), a sua personalidade mais influente e destacada.
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