quinta-feira, maio 19, 2011

DSK, democracia e igualdade

Vamos lá ser claros: o que está em causa no caso DSK - que, convém lembrar mais uma vez, é inocente até condenação por tribunal competente - não é o facto de Strauss-Kahn, enquanto director do FMI e político influente, dever ter direito a um tratamento preferencial que resguarde a sua imagem, bom nome e reputação. O que está em causa é o tratamento vexatório a que todos - repito, TODOS - os detidos em condições semelhantes, condenados ou não, são sujeitos pela lei penal dos USA, que não salvaguarda a sua intimidade e imagem. Quer se trate do DSK ou do "serial killer" condenado pelos crimes mais abjectos. Não se pretende, portanto, abrir uma excepção, mas generalizar uma regra de decência e de salvaguarda dos valores mais essenciais definidores do Estado de Direito Democrático.

Lembrei-me de escrever isto depois de ler o artigo de Pedro Lomba e uma pequena nota de Helena Matos no "Público" de hoje, demonstrativos de que o caso parece estar a tornar-se mais numa abjecta guerra política de trincheiras e menos numa oportunidade para defesa dos valores do humanismo, da igualdade e da democracia.

2 comentários:

Rui disse...

Meu Caro,

A propósito de DSK leia este notável artigo do Le Monde de hoje, onde se denuncia claramente o proteccionismo jornalístico nojento que este ex ministro comprou ao longo dos anos.

http://www.lemonde.fr/idees/article/2011/05/20/affaire-dsk-l-inquietant-pouvoir-des-communicants_1524821_3232.html#ens_id=1522342

Concordo com as suas críticas à lei penal dos USA. Contudo, quem lá vive conhece (ou devia conhecer) bem como funciona o sistema. O faço deste senhor aparecer algemado e menos bem tratado, não constitui novidade...É assim que lá funciona desde sempre.
No affaire DSK, mesmo que se tratasse de uma armadilha fabricada por inimigos com “sexo consentido” a salpicar o enredo, é inaceitável que o”patron du FMI” tenha colaborado e caído na esparrela... A ser verdade a acusação da vitima, então não há palavras...

Abraço

R

JC disse...

Ora vamos lá ver.
1.Não me admiro DSK tenha sido protegido des escândalos ao longo da vida: sou neto de uma francesa, tive um familiar relativamente próximo que lá viveu anos e, por isso, conheço bem o país e a sua cultura.
2. O que critico no sistema penal dos USA é exactamente o modo como funciona, independentemente do estatuto de cada um. Em nada resguarda a dignidade e direito ao bom nome e imagem que são pedras angulares da democracia, esteja em causa DSK ou um "serial killer". Há razões históricas para isso? Claro, todos as conhecemos. Mas temos de concordar que é um sistema desumano, e não só por estas razões.
3. E claro que estou de acordo consigo que, mesmo que se tratasse de uma armadilha (é uma hipótese plausível, apenas), alguém com o estatuto de DSK não se podia arriscar a cair nela. Nem que do outro lado estivesse a Sharon Stone ou coisa do género. Se foi mesmo tentativa de violação é abjecto.
Abraço