quarta-feira, maio 18, 2011

O programa eleitoral do PSD: um bom programa apenas mal explicado?

Ao longo da minha vida profissional, nas áreas de gestão e marketing empresarial, de cada vez que me apresentavam uma nova campanha de publicidade e se propunham explicá-la a minha resposta era invariavelmente a mesma: não vale a pena; se eu, que sou um profissional do sector e estou aqui concentrado no assunto, não a conseguir perceber, o consumidor, que é ignorante na matéria e a vê de relance e sem prestar atenção, não a entende com certeza.

Bom, tenho-me lembrado disto a propósito do programa do PSD, a cuja qualidade se tecem louvores mas do qual se diz muitas medidas precisam de ser melhor explicadas. Discordo: a partir do momento em que tal explicação se torna necessária, há que concluir que alguma coisa está mal na própria concepção do programa, quer ao nível da clareza da sua redacção, quer no que diz respeito ao próprio conteúdo das propostas que podem não ser as mais adequadas à conjuntura e à necessidade serem facilmente aceites pelos seus destinatários, sejam, os eleitores aos quais se pretendem dirigir. Acresce que, se no caso da publicidade os "media" utilizados se limitam a reproduzir a campanha tal qual ela foi concebida, no caso de um documento como um programa político os "media" funcionam como intermediários, seleccionando e publicando notícias, com maior ou menor destaque, em função dos seus interesses comerciais, políticos, etc. Mais ainda: tendendo cada um a reagir ao que outros publicam, em amplificadoras ondas sucessivas...

Penso que foi nestas duas áreas que o PSD falhou na concepção do seu programa. Por um lado, não teve em conta, na elaboração das suas propostas, a conjuntura e o tipo de eleitores aos quais o programa se destinava ou, tendo levado tal em consideração mas não querendo abdicar de alguns pressupostos demasiado ideológicos, acabou por optar por uma redacção confusa, que abriu caminho a uma ainda mais nefasta desconfiança e à subsequente necessidade de explicação; e quando um assunto não é claro cada qual tende a explicá-lo à sua maneira, aumentando a confusão. Por outro, terá ignorado ou menosprezado o papel de intermediação dos "media" - mesmo de uma sua maioria mais favorável - com uma agenda e interesses próprios e relativamente autónomos e sempre demasiado interessados na polémica, na contradição e no soundbite que geram audiências.

Em resumo, penso que, ao contrário do que é voz comum, não estamos perante um programa bem elaborado e estruturado, o que o pressupõe adaptado às circunstâncias e conjuntura, mas sim de um documento originário de um PSD politicamente inexperiente que, de tanto se querer mostrar diferente quando apenas precisava de ser cauteloso e assumir um certo "low profile", acabou por brincar de aprendiz de feiticeiro. Até que ponto irão as consequências é o que veremos no dia 5 de Junho.

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