Digamos que o programa eleitoral do PSD será, nos últimos meses, talvez o primeiro sinal de que afinal há vida inteligente da Rua de S. Caetano. Porquê? É um excelente documento, no conteúdo global e nas medidas que propõe? Bom, direi que tal depende muito do posicionamento ideológico de quem o lê, mas reflecte, no modo como está estruturado, uma ideologia e uma estratégia clara na sua elaboração. De que modo isso é visível? Bom, vejamos:
- Em primeiro lugar, marca claramente, talvez pela primeira vez em muitos anos, uma clara diferenciação ideológica, não só para com o PS, como também para com um certo pensamento social-cristão e conservador que o CDS pretende assumir, o que poderá captar muitos indecisos, afastar outros, mas certamente contribuirá para fazer baixar a abstenção. E marca-a - essa diferenciação - não no terreno da "moral"e da "verdade", mas onde ela deve ser marcada, isto é, no campo político.
- Não deixando de, no seu conjunto, se tratar de um documento com um acentuado conteúdo ultra-liberal, consegue evitar dar destaque mediático a algumas das medidas mais polémicas e potencialmente "assustadoras" provenientes do Mais Sociedade, quer pelo modo, digamos, soft e "camuflado" como algumas dessas medidas são enunciadas no programa, quer pela inclusão de algumas propostas de carácter populista que sabe não poderá fazer aprovar (diminuição do número de deputados e "revisão" do TGV Lisboa-Madrid) e outras que me parecem evidentes para qualquer cidadão com bom-senso político (eliminação dos governos civis e dos executivos camarários pluripartidários). Ocupando estas o "frontline", remetem assim algumas das propostas ideologicamente mais liberais para algum back office mediático.
- Pelo conteúdo populista de algumas medidas com maior repercussão mediática, parece conter em si potencial para estancar as perdas do PSD nas últimas sondagens. Pelo menos, esse parece ser um seu claro objectivo. Tornará também mais difícil, em termos eleitorais, a habitual resposta "taco a taco" do PS. Algum silêncio institucional, so far, do Largo do Rato parece indiciar isso mesmo.
- Retoma a iniciativa política do partido e marca a agenda mediática, sabendo o PSD que o perfil do programa eleitoral apresentado, muito "au goût du jour", poderá contar com forte apoio na comunicação social. E retira alguma argumentação ao PS, que já não poderá agitar a falta de propostas do partido concorrente ou acusá-lo de ter uma "agenda escondida".
Em resumo, digamos que o já bem conhecido profissionalismo do PS na área da comunicação tem aqui, talvez, o seu primeiro sério problema para resolver. Veremos se o conseguirá enfrentar com a sua habitual eficácia.
3 comentários:
FT de hoje:
....." The political reason this crisis goes from bad to worse is an unresolved collective action problem. Both sides are at fault. The tight-fisted, economically illiterate northern parliamentarian is as much to blame as the southern prime minister who cares only about his own backyard. The Greek government played it relatively straight but Portugal’s crisis management has been, and remains, appalling.
José Sócrates, prime minister, has chosen to delay applying for a financial rescue package until the last minute. His announcement last week was a tragi-comic highlight of the crisis. With the country on the brink of financial extinction, he gloated on national television that he had secured a better deal than Ireland and Greece. In addition, he claimed the agreement would not cause much pain. When the details emerged a few days later, we could see that none of this was true. The package contains savage spending cuts, freezes in public sector wages and pensions, tax rises and a forecast of two years’ deep recession.
You cannot run a monetary union with the likes of Mr Sócrates, or with finance ministers who spread rumours about a break-up. Europe’s political elites are afraid to tell a truth that economic historians have known forever: that a monetary union without a political union is simply not viable. This is not a debt crisis. This is a political crisis. The eurozone will soon face the choice between an unimaginable step forward to political union or an equally unimaginable step back. We know Mr Schäuble has contemplated, and rejected, the latter. We also know that he prefers the former. It is time to say so.
munchau@eurointelligence.com "
"a monetary union without a political union is simply not viable. This is not a debt crisis. This is a political crisis. The eurozone will soon face the choice between an unimaginable step forward to political union or an equally unimaginable step back."
Em relação a isto 100% de acordo; sou um federalista da 1ª hora.Mas já não acho JS tenha agido mal na sua comunicação ao país, tal como já afirmei aqui no "blog". Nada adiantaria e seria um suicídio político ter sido ele a anunciar as más notícias.
Cumprimentos
De acordo, quanto ao conteúdo que quis realçar.
Só o que a mim o que me chamou a atenção foi:
“You cannot run a monetary union with the likes of Mr Sócrates, or with finance ministers who spread rumors about a break-up.”
Sorry about that…
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