Frequentei o COM do SMO (descodifique-se, Curso de Oficiais Milicianos do Serviço Militar Obrigatório), não muito tempo antes do 25 de Abril; portanto, ainda em plena guerra colonial. Como é fácil de imaginar, a preparação era relativamente dura, pois estava em causa a formação de futuros oficiais para comando de tropas num dos teatros de guerra então existentes. Mesmo assim, quando da execução de exercícios que teoricamente comportavam um maior risco ("pórtico", "slide", "galho" e outros cujo nome já não recordo), a preparação era cuidada, rigorosa e acompanhada de muito perto pelos instrutores de cada pelotão, no meu caso Aspirantes do Quadro Permanente (profissionais acabados de sair da Academia Militar). Esse cuidado chegava ao ponto desses exercícios ("slide" e um outro que consistia em atravessar uma improvisada ponte feita com cordas) serem efectuados sobre uma das pequenas lagoas existentes na Tapada de Mafra, o que sempre permitia algum amortecimento no caso de queda, e de alguns desses exercícios apenas serem obrigatórios para as especialidades de combate (nunca fiz o "slide", por exemplo). Aliás, um colega (na tropa dizia-se "camarada") teve mesmo uma vez de se deixar cair, por avaria do "slide", e depois ainda de mergulhar novamente para... procurar os óculos! No fundo, um oficial miliciano era "bem" escasso e a sua preparação custava muito dinheiro ao governo da ditadura. Por isso mesmo, era bom que não morresse antes de cumprir integralmente a sua função, até porque morte de um soldado-cadete durante a instrução, apesar do regime censório existente, era sempre uma "carga de trabalhos" para o regime.
Tudo isto vem a propósito da recente morte de uma rapariga de dezoito anos quando fazia o "slide" no dia de "não sei bem o quê" (acho que da Defesa Nacional). A pergunta que fica é como é que o exército autoriza tal coisa a rapazes e raparigas sem qualquer preparação prévia para o efeito? Que brinquem aos "índios e cowboys", vejam como funciona uma G3, façam uns jogos de "paintball", entrem dentro de um tanque de guerra, ainda enfim: as FA lá têm de se esforçar para "venderem o seu peixe" que esta vida está mal para todos. Agora que realizem algumas actividades radicais, de risco, desnecessárias e sem preparação específica para o efeito, tal já me parece ridículo e um risco desnecessário; e como o que pode correr mal arrisca-se mesmo a correr mal...
Espero agora que o Estado e o exército português assumam, sem hesitações, todas as suas responsabilidades e saibam mostrar-se à altura das circunstâncias depois de terem falhado naquilo que era essencial: proteger a integridade física de quem é colocado sob a sua responsabilidade.
2 comentários:
En total acordo. Existe uma mão cheia de opções para "entreter" a juventude portuguesa e porque não os desempregados... Mas como sempre... Trancas à porta. Se eu fosse Pai da jovem que teve este grande azar, havia de os comer vivos,
Vamos ver o que acontece... Espero bem o exército seja obrigado a pagar umas centenenas de milhar. Ou mais!
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