Por razões profissionais (trabalho de consultoria para um dos patrocinadores), acompanhei, aqui há uns anos, duas Voltas a Portugal em bicicleta. Para quem não sabe, a Volta a Portugal, principalmente nos locais das chegadas, é lugar privilegiado de distribuição de brindes, "gadgets", promoção e exibição de marcas várias. E tanto faz o que se oferece e a marca em questão: "marcha tudo" (t-shirts, bonés, algo que faça barulho, etc) desde que seja bem visível na televisão já que nos locais da chegada, com sorte, raramente estão mais do que uns poucos, escassos, dois ou três milhares de pessoas. Como dizia uma vez, dirigindo-se a uma promotora, uma velhota colocada junto à meta, "ó menina, é para a minha Bánéssa que tenho lá em casa".
Lembrei-me disto ao ver na televisão as tais "arruadas" da campanha eleitoral; e, confesso, não me parece possa existir grande diferença. Na rua, os acompanhantes são escassos; mas passeiam-se umas bandeiras, faz-se muito barulho, presumo se distribuam uns brindes a quem os colecciona de todos os quadrantes para todas as Bánéssas do mundo, distribuem-se uns beijos para dar um ar de intimidade, de "querido líder" ou líder muito querido, e logo, nos telejornais, vê-se como resulta e até pode ser que resulte bem.
E também pode ser que, tal como acontece na Volta a Portugal, esta exibição se destine a aumentar a notoriedade da marca ou, neste caso, do partido. Mas, para além de estranhar de estranhar o facto de partidos com ideologias diferentes (diria, "posicionamentos") e até antagónicas utilizarem os mesmos métodos (as tais "arruadas" copiadas a um "papel químico" que as novas gerações desconhecem), custa-me a entender de que modo este tipo de práticas uniformizadas pode influenciar o voto, até porque me parece não ser a notoriedade o principal problema dos partidos junto do tal eleitorado indeciso (nem este seja homogéneo). Mas pronto, prefiro pensar que se calhar estou enganado.
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