Os problemas entre José Mourinho e Jorge Valdado, com o despedimento deste último que, recorde-se, teoricamente era seu superior hierárquico, vão muito mais longe do que a vitória do português sobre o argentino, do comandado sobre o comandante. Eles remetem para as estruturas organizacionais dos grandes clubes de futebol profissional e, mais concretamente, para a definição de funções de um treinador e a necessidade ou não de existência, nessa mesma estrutura, de um "director desportivo", "director geral" ou como lhe quiserem chamar.
Sejamos claros... Com o perfil dos grandes treinadores actuais, que em muito transcende o do antigo praticante com jeito para a função e assenta numa preparação adequada, muitas vezes universitária, e a evolução do futebol em termos científicos, o treinador de futebol tende a transportar consigo uma ideia de organização, um modelo de jogo, princípios de actuação bem definidos. Já não é mais o rapaz com jeito a quem se entregava um grupo de jogadores contratados pelo presidente ou pelo chefe do departamento de futebol para "armar" (era assim que se dizia) uma equipa. É, normalmente, um conhecedor dos mercados e transformou-se num gestor do futebol profissional do clube que o contrata, o que tem como consequência que uma parte significativa deste perfil coincida com o do director desportivo, transformando-se tal coisa numa fonte de potenciais problemas. Essa situação agrava-se ainda mais nos clubes de regime presidencialista, isto é, em que o presidente-dono não é um mero "Chairman" mas tende a assumir as funções de um efectivo CEO. Ninguém está a ver, por exemplo, Pinto da Costa ou Roman Abramovich a funcionarem com um "director desportivo", ou Mourinho, Arsène Wenger, Alex Ferguson, Hiddink ou, até, o neófito André Villas-Boas a aceitarem de bom grado a tutela de um "director desportivo" (O Barça de Guardiola é um caso muito particular). Quando muito, fará sentido nos clubes de "investidores" (e só nesses) em que o presidente é um mero "Chairman", como acontece no modelo organizativo tradicional do UK, a existência de um "director geral", verdadeiro CEO que entrega ao "manager" (é este o nome dado ao treinador principal nos clubes ingleses) a gestão do "core business "do clube: o futebol.
É portanto tudo isto - o modelo organizativo - muito mais profundo do que um mero choque de personalidades entre Mourinho e Valdano, que está em causa no Real Madrid e nos grandes clubes que têm o futebol profissional como actividade principal. É também tudo isto que está em causa no meu clube quando, depois de, num gesto contra-natura em função da personalidade de LFV e apenas para sua salvaguarda, Rui Costa foi nomeado "director desportivo" e depois esvaziado de funções quando da contratação de Jorge Jesus e a assunção por parte de LFV de um modelo presidencialista, mais à sua medida. Com um pequeno senão, contudo: Nem LFV nem JJ têm perfil, conhecimentos ou características para assumir a condução do futebol profissional do clube. Os resultados estão á vista.
2 comentários:
Caro JC:
O problema entre Mourinho e Valdano é uma questão simples: chama-se cultura.
Se o presidente do Real, clube que nunca acolheu a minha simpatia, entende colocá-lo nas mãos do Mourinho, ao que parece com o apoio dos sócios, é criar um autêntico barril de pólvora.
Pode ser que me engane...
Quanto a Rui Costa, os deuses sabem o quanto gostei dele como jogador, como pessoa, mas não tem a tarimba suficiente para cumprir o cargo de director desportivo do Glorioso.
Hélas!
Não estou assim tão certo quanto a Rui Costa. Quanto a Mourinho e Valdano são, de facto, 2 galos para uma capoeira, mas, como digo no "post",a questão é mtº da estrutura organizativa: ou Florentino é "chairman" e delega num Director-Geral as suas actuais funções executivas; ou é, como acontece agora, CEO e Mourinho reportará a ele directamente.
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