Não costumo ver aquelas reportagens sobre a vida privada ou os tempos de lazer (apesar de tudo, são coisas diferentes) dos políticos: é coisa que não me interessa ou interessa quase nada. Não tenho qualquer intenção de ser amigo de nenhum deles e as minhas opções eleitorais não são por tais razões ditadas. Querem um exemplo? Seria bem capaz de ir beber umas imperiais, comer uns tremoços e dar uns gritos pelo "Glorioso" com Jerónimo de Sousa ou beber um bom vinho, comer um excelente jantar e discutir uns livros com Manuel Alegre. No entanto, nunca votei no PCP ou em Alegre enquanto candidato a PR.
Mas, por um acaso, vi por estes dias, à vol d'oiseau, pequenos excertos de reportagens de Fátima Campos Ferreira sobre os tempos de lazer, embora em campanha, de Paulo Portas e Francisco Louçã, e algo me chamou a atenção: enquanto Paulo Portas manifestava total à vontade e uma personalidade idêntica em ambos estes tempos da sua vida enquanto político, um pouco como sempre acontecia também com Mário Soares, a incomodidade e desconforto de Louçã, como se aí, e não nas "arruadas" e comícios, estivesse verdadeiramente a representar, chegaram a chocar-me. Questão de personalidade? De timidez? De educação? Talvez um pouco, admito-o, embora tal me leve também a concluir que os grandes políticos intuitivos das democracias, tal como os grandes cavalheiros, sejam aqueles, como Soares, Churchill ou, salvaguardadas as enormes distâncias, Portas, que se sentem à vontade em quaisquer situações e assumem na política a sua personalidade "civil". Mas pergunto-me, e voltando ao caso de Louçã mas lembrando-me também de Cunhal, se não estará aí também reflectida a dificuldade dos revolucionários, principalmente dos "marxistas-leninistas", em assumirem uma vida para além dessa sua função de "revolucionar" o mundo...
Sem comentários:
Enviar um comentário