Todos sabemos que a decisão dos eleitores não depende exclusivamente dos programas partidários, que a maior parte nem sequer lê. Depende, isso sim, de vários factores (ideologia, empatia e carácter dos líderes partidários, imagem, personalidade, afirmações públicas, etc), entre os quais se contarão também aquela meia dúzia (se tanto...) de ideias programáticas que através dos "media" os partidos conseguem "passar" para os eleitores.
Convém, no entanto, sublinhar que os partidos concorrentes a uma eleição não se encontram em igualdade de circunstâncias face a todos estes factores. Quem está no governo e mantém o seu líder já projectou, através do modo como governou, da personalidade já conhecida do seu candidato a primeiro-ministro, actuação das suas principais figuras, medidas tomadas enquanto governo, objectivos atingidos (ou não) e por aí fora, uma imagem, uma ideia juntos dos eleitores. Para seu bem ou mal, é isto que acontece: existe um lastro, uma "heritage" que lhes confere uma imagem junto desses eleitores. Tal significa que o seu programa eleitoral é apenas mais um elemento e não adquire assim a mesma importância para a formação de opinião do que no caso de um partido que está há alguns anos afastado do poder, candidata um novo líder com escassa experiência política e que se propõe efectuar alguma ruptura ideológica com o seu passado recente. É pois esta a razão que está na base da natural pressão existente junto do PSD para que apresente o seu programa eleitoral e pelo facto do mesmo documento do Partido Socialista, já apresentado, ter sido, eventualmente, sujeito a bem menor escrutínio geral da parte de comentadores, "media", blogosfera e comunicação em geral.
Está assim criada uma desigualdade de tratamento? Admito que sim; mas trata-se de uma desigualdade de tratamento, em boa parte dos casos, não ditada por qualquer preconceito ideológico ou simpatia partidária apriorística, mas por uma desigualdade originada, ela própria, pelas diferentes condições de partida com que PS e PSD concorem às próximas eleições: se o PSD pode apresentar-se como limpo de quaisquer responsabilidades governativas, também terá que aceitar um maior escrutínio e uma bem maior pressão sobre as ideias com que pretende vir a governar. É exactamente isto que tem mostrado dificuldade em compreender.
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