quinta-feira, fevereiro 24, 2011

O voluntarismo de Daniel Oliveira e um dos dramas da sociedade portuguesa


“Há uma forma de vencer o desespero: dar esperança. E para isso é preciso que as pessoas acreditem que há alternativas e que elas podem vencer. Ninguém se arrisca a troco de coisa nenhuma. Duas condições para que isso seja possível: credibilidade no que se propõe e uma ação política que se dirija a uma base social maioritária. Programa exequível e alianças alargadas

Estou a falar do Bloco de Esquerda, do PCP e dos muitos eleitores e militantes do PS que ainda acreditam que o poder pode ser mais do que gestor da desgraça. Estou a falar dos sindicatos, dos movimentos sociais, de quem tem espaço na comunicação social.”

Este pensamento de Daniel Oliveira, que embora sendo militante do “Bloco de Esquerda” (digamos em seu abono que pouco "ortodoxo"), tenho como democrata sincero e empenhado, constitui, de facto, um dos dramas da sociedade portuguesa: a existência, à esquerda, de um grupo significativo de defensores das instituições democráticas que, honestamente, ainda pensam qualquer acordo alargado (a velha “frente”...) que inclua o PCP, o BE e o actual sindicalismo conservador pode constituir uma alternativa democrática, não radical, solidária e modernizadora da sociedade portuguesa. Mais ainda, que é estrategicamente possível, para além de iniciativas tácticas localizadas, qualquer aliança entre o PCP, “vanguarda da classe operária”, e o BE ou quaisquer outras “forças” sem a hegemonia de quem se assume como “vanguarda” da classe a quem cabe um um papel histórico no derrube do capitalismo. Pior, que tal coisa é possível no quadro da UE ou não implicando o abandono desta, com todas as suas consequências.

Na realidade, as propostas voluntaristas de Daniel Oliveira, pela sua inexequibilidade já por várias vezes provada, muitas delas de forma trágica, acabam por demonstrar exactamente o contrário do que ele pretende: não existe qualquer alternativa democrática não radical e, portanto, não anti-capitalista (e o capitalismo é condição sine qua non da democracia política, note-se), modernizadora da sociedade portuguesa, geradora a prazo de maior justiça social (mesmo que com o dramático sacrifício actual de uma geração) que possa ser protagonizada pelo PCP, BE e o actual sindicalismo. Trazer quem neles se revê e acredita em soluções por si protagonizadas para o campo da democracia liberal e da economia baseada na livre iniciativa, lutando, neste campo gerador de desigualdades, por uma sociedade mais justa e solidária, mais aberta e tolerante, mais igual apesar das desigualdades que necessariamente gera, é uma tarefa de todos os que se revêm na democracia e no progresso social. Assim sendo, espero um dia seja possível dar as boas-vindas ao Daniel Oliveira. Digamos que já estivemos mais longe...

2 comentários:

Queirosiano disse...

O problema da esquerda "starry-eyed", que continua a ver o mundo actual segundo parâmetros de há 40/50 anos, em que era possível ser bem mais simplista.
Além de que não há um "capitalismo", pese embora à fúria (deliberadamente?) esquemática do PCP: há vários, do capitalismo da livre iniciativa industrail/comercial criador de riqueza e emprego, ao capitalismo financeiro especulativo e desregrado.
Meter tudo no mesmo saco, com o corolário inevitável de um estatismo extremo, é, no fundo, recusar qualquer solução viável. O problema (ou o propósito) do BE e do PCP.

JC disse...

Ao comentário, nada a acrescentar... No restante, a boa vitória do n/ "glorioso", c/ (finalmente!) um excelente lição de táctica de JJ.
Cumprimentos