Este sim está completamente manchado de hipocrisia e oportunismo, mostrando bem as fragilidades do projecto europeu. Estes irlandeses votaram não, numa altura em que pensavam que viviam num país económica e financeiramente sólido e que portanto não queriam compartilhar a sua (fictícia) prosperidade com os newcomers. Contudo e depois de terem constatado que o seu país era um tigresinho de papel à beira da rotura, que estavam falidos e que o uncle Sam não lhes iria valer...toca a votar sim, pois agora precisamos dos outros, pois com certeza! Portanto, não posso estar tão feliz quanto você.
Estou duplamente feliz: o projecto europeu avança (sou tão ferrenho federalista quanto benfiquista!)e provam-se (pela oscilação de atitude dos irlandeses em função de questões que nada têm que ver com o Tratado) as fragilidades das democracias plebiscitárias, uma das formas mais rasteiras de populismo. Provou-se tb que os europeus encaram a UE como algo igual ao lema do n/ clube: "e pluribus unum". Fragilidades do projecto europeu? Claro que as tem, como não podia deixar de acontecer com um projecto inovador e apenas sessenta e tal anos depois de uma guerra civil. Mas as maiores fragilidades residem na tibieza com que se encara o federalismo. Há mtº que os poderes dp Parlamento Europeu deveriam ter sido ampliados e este dotado de poderes constituintes e eleito um Senado.
Também eu sou academicamente federalista. Só que acho que podemos estar perante um projecto a roçar a utopia. Os EU foram construídos de raiz e por isso naturalmente evoluiram para uma situação federal. Ao contrário, a Europa é velha e com idiossincrasias muito diferentes e portanto delicieis de conciliar. As constantes guerras de que a foi palco, no passado milénio, assim o demonstram. E, individualmente, cada governo não quer ceder ao interesse geral, porque é eleitoralmente arriscado... O que temos assistido é que grande parte dos países que integram a CEE, fazem-no compreensivelmente, por interesses meramente económicos e não por convicções políticas. Veja-se o que se passa por exemplo com o UK e a moeda única. Mas enfim, a esperança, será a ultima coisa a morrer...
Os USA evoluiram naturalmente para uma solução federal? Oh, meu caro Rui!!! Com uma secessão e uma sangrenta guerra civil pelo meio, um enorme estado (Texas) transformado em república independente durante 9 anos e uma guerra com o vizinho México onde foram buscar território vasto?! Olhe que para evolução natural...
Às vezes parece que o amigo tem alguma relutância em querer perceber o sentido das minhas ideias. Não venho para aqui discutir semântica e por isso reitero que a constituição do federalismo norte-americano, foi apesar dos factos a que se refere, verdadeiramente natural e só possível por um somar de circunstâncias, que nunca poderão existir na velha Europa. Como refere e bem H.G.Wells “era a própria civilização europeia ocidental, desligada e libertada dos traços do império e da cristandade: não lhe ficara vestígio da monarquia e não tinha qualquer religião de Estado. Nao possuía nem príncipes, nam condes que exigissem submissão ou respeito, como se de um direito se tratasse”. E, recordo-lhe que os tais factos foram muito rápidos e que não se arrastaram nem se enquistaram. Desde o começo da chamada guerra da independência em 1775 , por exemplo, até que George Washington, reunisse em Nova York, sob a sua presidência, o primeiro Congresso moderno, apenas distaram 13 anos!
Poderia invocar um rosário de razoes que tornaram possível a “natural”constituição do federalismo americano. Não resisto no entanto, a destacar uma: a revolução mecânica, que teve o seu começo nos princípios do XIX. Sem caminho-de-ferro e sem telégrafo, provavelmente não teria sido possível construir federalismo e em vez de estados unidos, teríamos, quem sabe uma mão cheia de estados independentes.
Tem razão na sua observação, principalmente no que diz respeito à ausência de uma herança aristocrática e, acrescento, ao facto de não existir posse da terra (estão ligados) e esta não ser um bem escasso, ao contrário do que acontecia na Europa. Tb a influência do "ancien régime", da aristocracia, quase não existe ao nível das ideias e das prácticas. Tudo isso facilitou e tornou o processo constitutivo da União mtº único, e simplificou-o. Apenas quis salientar que, apesar de tudo isso, mesmo assim a "coisa" teve os seus escolhos... É verdade, ontem correu tudo bem. Até o Carlos Martins jogou bem!!!
6 comentários:
Caro JC,
Este sim está completamente manchado de hipocrisia e oportunismo, mostrando bem as fragilidades do projecto europeu. Estes irlandeses votaram não, numa altura em que pensavam que viviam num país económica e financeiramente sólido e que portanto não queriam compartilhar a sua (fictícia) prosperidade com os newcomers. Contudo e depois de terem constatado que o seu país era um tigresinho de papel à beira da rotura, que estavam falidos e que o uncle Sam não lhes iria valer...toca a votar sim, pois agora precisamos dos outros, pois com certeza!
Portanto, não posso estar tão feliz quanto você.
Estou duplamente feliz: o projecto europeu avança (sou tão ferrenho federalista quanto benfiquista!)e provam-se (pela oscilação de atitude dos irlandeses em função de questões que nada têm que ver com o Tratado) as fragilidades das democracias plebiscitárias, uma das formas mais rasteiras de populismo. Provou-se tb que os europeus encaram a UE como algo igual ao lema do n/ clube: "e pluribus unum". Fragilidades do projecto europeu? Claro que as tem, como não podia deixar de acontecer com um projecto inovador e apenas sessenta e tal anos depois de uma guerra civil. Mas as maiores fragilidades residem na tibieza com que se encara o federalismo. Há mtº que os poderes dp Parlamento Europeu deveriam ter sido ampliados e este dotado de poderes constituintes e eleito um Senado.
Também eu sou academicamente federalista. Só que acho que podemos estar perante um projecto a roçar a utopia. Os EU foram construídos de raiz e por isso naturalmente evoluiram para uma situação federal. Ao contrário, a Europa é velha e com idiossincrasias muito diferentes e portanto delicieis de conciliar. As constantes guerras de que a foi palco, no passado milénio, assim o demonstram. E, individualmente, cada governo não quer ceder ao interesse geral, porque é eleitoralmente arriscado... O que temos assistido é que grande parte dos países que integram a CEE, fazem-no compreensivelmente, por interesses meramente económicos e não por convicções políticas. Veja-se o que se passa por exemplo com o UK e a moeda única. Mas enfim, a esperança, será a ultima coisa a morrer...
Os USA evoluiram naturalmente para uma solução federal? Oh, meu caro Rui!!! Com uma secessão e uma sangrenta guerra civil pelo meio, um enorme estado (Texas) transformado em república independente durante 9 anos e uma guerra com o vizinho México onde foram buscar território vasto?! Olhe que para evolução natural...
Às vezes parece que o amigo tem alguma relutância em querer perceber o sentido das minhas ideias. Não venho para aqui discutir semântica e por isso reitero que a constituição do federalismo norte-americano, foi apesar dos factos a que se refere, verdadeiramente natural e só possível por um somar de circunstâncias, que nunca poderão existir na velha Europa. Como refere e bem H.G.Wells “era a própria civilização europeia ocidental, desligada e libertada dos traços do império e da cristandade: não lhe ficara vestígio da monarquia e não tinha qualquer religião de Estado. Nao possuía nem príncipes, nam condes que exigissem submissão ou respeito, como se de um direito se tratasse”. E, recordo-lhe que os tais factos foram muito rápidos e que não se arrastaram nem se enquistaram. Desde o começo da chamada guerra da independência em 1775 , por exemplo, até que George Washington, reunisse em Nova York, sob a sua presidência, o primeiro Congresso moderno, apenas distaram 13 anos!
Poderia invocar um rosário de razoes que tornaram possível a “natural”constituição do federalismo americano. Não resisto no entanto, a destacar uma: a revolução mecânica, que teve o seu começo nos princípios do XIX. Sem caminho-de-ferro e sem telégrafo, provavelmente não teria sido possível construir federalismo e em vez de estados unidos, teríamos, quem sabe uma mão cheia de estados independentes.
Abraço
Tem razão na sua observação, principalmente no que diz respeito à ausência de uma herança aristocrática e, acrescento, ao facto de não existir posse da terra (estão ligados) e esta não ser um bem escasso, ao contrário do que acontecia na Europa. Tb a influência do "ancien régime", da aristocracia, quase não existe ao nível das ideias e das prácticas. Tudo isso facilitou e tornou o processo constitutivo da União mtº único, e simplificou-o. Apenas quis salientar que, apesar de tudo isso, mesmo assim a "coisa" teve os seus escolhos...
É verdade, ontem correu tudo bem. Até o Carlos Martins jogou bem!!!
Enviar um comentário