Quem, como eu, fez a maior parte do seu percurso profissional em empresas multinacionais, habituou-se a conhecer bem dois problemas que afectam os trabalhadores portugueses, principalmente quadros médios, mas também quadros superiores e até alguns executivos, no seu relacionamento internacional, por comparação com os seus homólogos dos países do norte da Europa: menor fluência no inglês e dificuldade em expor, de modo claro e estruturado, as suas ideias em público. Por isso mesmo, saudei e achei de importância decisiva a introdução, com carácter obrigatório, do inglês no 1º ciclo do ensino básico, como medida indispensável para aumentar a competitividade das empresas e trabalhadores portugueses num mundo globalizado. Sou mesmo de opinião que o castelhano deveria tornar-se obrigatório nos 2º e 3º ciclos: digamos que quem for fluente em português, castelhano e inglês trabalha em qualquer empresa e em qualquer parte do mundo.
Exactamente por isso, foi sem surpresa (deste governo há que esperar tudo) mas com alguma raiva mal contida que tomei conhecimento do fim da obrigatoriedade do ensino do inglês no 1º ciclo, decretado pelo ministro Crato. Mas, no fundo, e pensando bem, trata-se de uma medida coerente: se o objectivo é "empobrecer" e reduzir salários como estratégia de competitividade empresarial, para que serve saber falar e escrever inglês, para além da meia dúzia de palavras, mal pronunciadas, necessárias para servir umas "imperiais" aos turistas ou "engatar umas bifas"? A pergunta que faço é, no entanto, mais séria: como é que os portugueses (trabalhadores, empresários, gestores) aceitam tudo isto sem um sobressalto cívico digno desse nome? Sem esse sobressalto cívico, e digo-o com tristeza, acabam por ter o que merecem.
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