Pode Paulo Portas ser acusado, como o faz a facção mais radical dos apoiantes do actual governo moribundo, de ter pensado mais nos seus interesses e nos do partido a que preside do que num qualquer "interesse nacional" identificado com a manutenção do "status quo"? Mais devagar, e principalmente não entremos por raciocínios simplistas e redutores que só menorizam quem os produz, embora seja esse o caminho que mais favorece a ainda actual "vanguarda" dirigente.
Como qualquer general competente que vê dificilmente as suas forças conseguirão vencer a batalha em curso, desde a chamada crise da TSU, de Outubro de 2012, que Portas percebeu que o governo tinha entrado na sua curva descendente, decidindo então afastar-se dele o suficiente e tentando assim, recuando em boa ordem, salvaguardar o máximo possível do seu exército e dos seus homens, reservando-os para batalhas futuras travadas em condições mais favoráveis. Os sinais foram muitos e bem evidentes e o demolidor comunicado das associações patronais contra o governo, em conjunto com um quase-apelo à greve geral e com a aproximação entre a UGT e a CGTP, foi visto - e bem - por Paulo Portas como o toque a finados pelo governo em exercício. Faltava - tal como nos rompimentos conjugais - um pretexto, mesmo que fútil, e esse foi a nomeação de Maria Luís Albuquerque, como poderia ter sido qualquer outro. A decisão estava tomada.
Mas atenção: se esta decisão pretende salvaguardar Paulo Portas e o CDS de um desastre mais do que anunciado, tentando salvar o que resta do partido para futuras batalhas e assim prejudicando o PSD e Passos Coelho, ela tem um objectivo bem mais vasto e consequente: perante um possível cenário de "pasokisação" do PSD, que poderia arrastar consigo o CDS caso este se mantivesse em comunhão plena com Passos Coelho, evitar uma enorme crise de representação política na direita portuguesa, o que seria dramático para o regime e para a democracia. Tendo isto em atenção, embora neste momento, numa reacção primária e ainda demasiado a quente, alguns possam ver em Paulo Portas o carrasco executor do actual projecto político, a prazo, o espaço ideológico que normalmente se reconhece na direita, mas também todos os outros, à esquerda ou á direita, que se revêem no actual regime, ainda um dia se mostrarão gratos à inteligência e perspicácia políticas reveladas pelo cidadão Paulo Sacadura Cabral Portas. veremos se tenho razão.
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