sexta-feira, julho 12, 2013

O governo a três ou o último acto da conspiração de Belém

Ora vamos lá ser claros e deixar-nos de subterfúgios: propositadamente ou não, em conluio ou sem ele, com ou sem intenção (não faço ideia e julgo apenas os actos), o que está em curso, de facto, esta semana - e digo-o depois de ter ouvido as primeiras intervenções de hoje de Pedro Passos Coelho no debate na Assembleia da República - é uma tentativa, ao que parece nascida em Belém e com a adesão da actual maioria, de condicionar e, como resultado disso, levar a prazo à desagregação o Partido Socialista, impedindo assim o chamado centro-esquerda, a social-democracia ou que mais se parece com ela, de chegar ao governo em Portugal  e de, a nível europeu ou pelo menos dos países em dificuldades ou sob resgate, alguma vez vir a constituir uma alternativa, ou, pura e simplesmente, apresentar-se como partido de alternância, à politica actualmente dominante no continente. Por muitos e enormes erros que o PS tenha cometido - e foram muitos e variados -, por muito ou pouco que nos identifiquemos com a sua actuação, princípios e valores (não sou militante, nem sequer simpatizante e tenho aqui discordado frequentemente do seu comportamento) estamos agora, embora por outros meios, neste caso aceitáveis porque estritamente de ordem política, perante, nos fins que se pretende atingir, a sequência de acontecimentos como o "caso Freeport", as alegadas "escutas", a prisão de Paulo Pedroso, os boatos sobre Ferro Rodrigues, as intervenções de Cavaco Silva durante os governos de José Sócrates, etc, etc. Uma estupidez, porque o definhamento do PS iria deixar o regime bloqueado e à beira da implosão? Sem dúvida. Mas convém lembrar não só que já não são assim tão poucas as vozes a clamar por uma mudança de regime num sentido menos ou nada democrático, como a História, mesmo a recente, está cheia de actos e acontecimentos estúpidos cujos resultados acabaram por se virar contra os seus autores.

Em função disto que pode o PS fazer? Se nada de muito relevante alterar o actual estado de coisas, pode e deve negociar, colocar em cima da mesa condições razoáveis mas que sabe, no limite,serem inaceitáveis à luz do actual resgate, do pensamento de Belém e da maioria (40 horas de trabalho, corte dos 4 mil e tal milhões, etc), "marcar o seu território" e sair das negociações na altura mais propícia e perante a não aceitação de propostas que lhe permitam ser apoiado maioritariamente pela opinião pública nessa sua decisão. Mas acho que já estou a ensinar o padre nosso ao vigário". Ou será que não? 

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