quarta-feira, julho 17, 2013

A "estratégia da aranha" presidencial e os partidos políticos

  1. Cercados por um Presidente da República com tendências "cesaristas", sem formação de democrática e para quem a democracia tem um carácter puramente instrumental (do tipo "chewing gum": mastiga enquanto tem sabor e depois deita fora); uma chamada " sociedade civil" fraca, sem tradições democráticas ou participativas  e onde o populismo encontra solo fértil para se desenvolver; uma crise económica e financeira internacional que, como é habito, atingiu preferencialmente os mais fracos (cidadãos e países); e pelos seus enormes e inúmeros erros, os partidos políticos sairão desta semana de negociações, com ou sem acordo final, ainda mais fragilizados. Até pode acontecer que, no caso de acordo, pensem o contrário, mas perderão a sua autonomia, num regime sob tutela presidencial, e ficaram à disposição de quaisquer outras exigências futuras, quer do populismo, quer deste ou qualquer outro "cesarismo" mais ou menos suave: amanhã, um dia, alguém lhes exigirá a cabeça. Esta semana - repito, quer haja ou não acordo - a democracia e o caminho de Portugal no sentido de aproximação às nações civilizadas sofrerá pesada derrota.
  2. Não sou constitucionalista, nem sequer jurista e aceito por isso a unanimidade dos constitucionalistas que afirmam estar a actual situação conforme a Constituição. Mas falando puramente em termos políticos, o que está em curso é uma espécie de tentativa de "golpe de Estado" constitucional, em versão soft core, que acentuará a vertente presidencialista do regime e esvaziará, pelo menos parcialmente e com o consentimento dos chamados "partidos do arco da governação", o papel da Assembleia da República e dos partidos. Percebe-se agora melhor a acção de Cavaco Silva - em conluio com Carlos Costa - desde o primeiro governo de José Sócrates, tentando enfraquecer e afastar o único líder partidário forte e também único obstáculo sério a estas suas intenções. A seu tempo (aqui e aqui) o fiz notar.
  3. Haverá acordo? Bem, não tenho dons de pitonisa, embora ache, e ao contrário do que muito gente afirma, que a racionalidade não anda assim tão ausente dos acontecimentos em curso (basta ler os dois primeiros pontos deste "post"). Arrisco dizendo que o mais provável será um certo acordo de "fachada", sem grande conteúdo, ou pelo menos muito parcial. Colocando-me no lugar dos partidos em causa e no modo como pensam a política, parece-me ser a solução que acham estará mais perto de lhes salvar a face e de minimizar as perdas eleitorais. Enfim, será a vitória dos fracos, mas a partir do momento em que se deixaram enredar na teia pacientemente tecida por Belém, nada de muito diferente será de esperar. Eu é que espero bem estar enganado.   

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