Que semelhança poderá haver entre uma rapariga de dezanove anos pertencente à aristocracia inglesa, ao "inner circle" da família real e educada como tal, educadora de infância e uma outra de 29, oriunda da classe média e de uma família que fez fortuna nas últimas duas décadas, universitária e que viveu a sua vida de acordo com essse estatuto? Obviamente que nenhuma, a não ser nas cabeças tontas de alguns jornalistas e comentadores muito embrenhados na sua estratégia de mistificação.
Sejamos claros. Diana Spencer não foi nenhuma "princesa do povo". Foi alguém que, com mais esperteza-saloia do que inteligência (não era muito dotada...) usou o seu casamento e, depois, desejo de vingança em favor de uma deriva populista - quase "justicialista "à la Eva Péron" - que, levada às suas últimas consequências, tenderia a destruir a instituição monárquica no Reino Unido. Em última análise, foi Tony Blair que, com a sua actuação nos dias após a morte de Diana, acabou por fazer compreender à rainha Elizabeth que era preciso mudar algumas aparências para que tudo ficasse mais ou menos na mesma, salvando assim a monarquia e evitando mergulhar o país numa crise de dimensões imprevisíveis. A "coroação" de Diana após a morte - isto é, quando se torna apenas mito - como "princesa do povo", expressão usada por Blair, representa o culminar de toda essa estratégia. Um talvez-republicano, trabalhista, terá assim salvo a monarquia para preservar o país.
Quem anseia pela restauração dessa deriva populista - a que agora se convencionou chamar "o legado de Diana" - tenta, em primeiro lugar, afastar Charles (o mau da fita e que casou com a "megéra" Camila) do trono em favor de William e, depois, encontrar alguém que possa ocupar o lugar deixado vago pela "princesa dos corações". Assim sendo, a "plebeia" Catherine Middleton pareceria, para os menos avisados, a personagem ideal. Mas nada de ilusões: será apenas a pedra definitiva colocada sobre o projecto insensato de Diana Spencer e, vinda da classe média, do "povo", a possibilidade de manter o mito matando simultâneamente a perversão que ele continha. Catherine será, tal como acontece com as origens de ambas, muito diferente de Diana: alguém que não terá qualquer dificuldade em se adaptar à sua nova existência e ao papel que terá de desempenhar na defesa de uma instituição monárquica que praticamente se confunde com o próprio Reino Unido e com a ordem constitucional. Mudando uma ou outra aparência, claro.
2 comentários:
Muito boa análise. Partilharei no fb.
Thanks!
Enviar um comentário