segunda-feira, novembro 05, 2007

Daniel Oliveira e as posições europeias do "Bloco"

Daniel Oliveira retoma hoje no seu “Arrastão”, e a propósito das convicções anti referendárias de Vital Moreira, a explicação sobre as posições europeias do “Bloco de Esquerda”. Árdua tarefa, pois, como bem diz hoje no “Público” o próprio Rui Tavares, “a sua posição simultaneamente anti-Tratado e pró-Europa não vai ser fácil de explicar”. Pois não! Aliás, parece-me que no seio do “Bloco” a questão talvez seja bem pouco consensual, e esta aparente “quadratura do círculo” corresponda mais a uma “fuga” e a uma qualquer “coisa nenhuma”, capaz de realizar a síntese dialética entre posições contrárias, do que a qualquer posição “de fundo”, estrategicamente assumida. Ou então... Sim, eu sei que “todo o mundo é composto de mudança”, mas seria interessante, a este propósito, revisitar as opiniões de UDP e LCI quando da adesão à então CEE. Adiante...

Bom, coloquemos também agora de parte a questão das democracias plebiscitárias e referendárias, em termos gerais e abstractos, e vamos directos ao assunto.

Critica Daniel Oliveira em Vital Moreira a afirmação de que “quem é contra este tratado é contra a UE”. Não o direi de forma tão fundamental, mas sem dúvida que votar “NÃO” a este tratado, neste momento e não em qualquer outro tempo abstractamente definido, significa colocar a ideia UE em sérias dificuldades e levantar graves entraves ao seu aprofundamento político. Este é o resultado - e foi isso que aconteceu com os referendos em França e na Holanda - e não o reforço da Europa social, independentemente das motivações do voto de cada um, e é exactamente este o desígnio político da direita eurocéptica e atlântista, aliada conjuntural do PCP qual pacto germano-soviético dos tempos pós-modernos. Aliás o “Bloco” bem podia ter aprendido um pouco com o que aconteceu em França - e abandonar o papel de “idiota útil” - onde o voto “NÃO” de alguma esquerda “basista”e blasé, com as lutas internas a servirem de catalizador, acabou por fazer mergulhar a UE na sua maior crise de sempre e fazer recuar alguns anos a ideia de uma futura Europa federal que Daniel Oliveira diz defender. Não é ainda a Europa das ambições do “Bloco”? Admito que não - felizmente para uns e infelizmente para outros, não importa - mas a pergunta que o BE deve colocar a si próprio é a seguinte: “porque, e em nome de que valores, é que, votando contra um Tratado que continua a manter a Europa como o espaço político democrático onde a protecção e os direitos sociais são os mais elevados e onde posso continuar a bater-me com toda a liberdade pelas minhas ideias e convicções, me vou a aliar a sectores conservadores e nacionalistas, uns, ultra liberais e atlântistas, outros, e “estalinistas”, os restantes, na recusa de um aprofundamento político da União? Será, mais uma vez, a velha e relha ideia do social-fascismo, que deu no que deu? Ou apenas um pouco diáfano manto que cobre uma posição anti europeísta e isolacionista que o Bloco sabe poder correr o risco de colher pouca simpatia em meios jovens e urbanos, formados no "inter-rail" e no "Erasmus", do seu eleitorado? Sem esperança, aguardo resposta.

2 comentários:

Anónimo disse...

O post merecia um debate. Esclareço apenas que expressei a minha posição. Sou um militante de base, não explico a posição do BE. Apenas a minha.

De resto, só acredito na construção europeia se um tratado com a dimensão deste for aceite pelos europeus. Se for porque tem de ser acabará por correr mal. É da história. Por isso, porque sou europeísta e não apenas conformado, quero discutir o conteúdo de cada política europeia sem ter de estar sempre que se quer fazer o debate democrático em causa a sobrevivência da União. As coisas terão de seguir o ritmo que os europeus quiserem. Se assim não for, o projecto europeu acabará por colapsar.

JC disse...

Caro Daniel, muito obrigado pelo seu comentário. Deixe-me acrescentar:
1. A sua posição, enquanto militante de base, sobre o tratado é idêntica à oficial do BE, pelo que acho o meu post faz todo o sentido.
2. Quanto ao método, referendário ou não, que está na base do 2º parágrafo do seu comentário ao meu post, não era o que estava em causa. Sou contra referendos - com algumas excepções para questões muito concretas e tangíveis de âmbito local -, por princípio e em termos gerais e abstractos. Já o expressei anteriormente por aqui, expressando as razões. Mas votei em todos os anteriores: SIM pela IVG, NÃO à regionalização. Se ele vier a realizar-se, votarei SIM, não será preciso acrescentar.
Cumprimentos