Muito curioso o post de Carlos Abreu Amorim no "Blasfémias" sobre o facto da protégée de Salazar, Maria da Conceição Rita, “nunca ter falado de política com o ditador, não se ter apercebido da campanha de Delgado e não ter a noção da gravidade da guerra em África”. Nada de muito estranho, contudo: no Portugal de então pouco se falava de política, menos ainda nos meios afectos ao regime, muito menos com mulheres e nada com criadas, supondo que “Micas”, apesar de não o ser de facto, teria, vinda de onde veio, um estatuto que não andaria muito longe do reservado ao pessoal doméstico. O próprio facto de ter cursado a escola comercial, em vez do liceu, o confirma, pois esse era, no Portugal classista e de escassa mobilidade social de então, a máxima sorte a que poderia aspirar quem vinha de um meio humilde e conseguia ter acesso a um “padrinho” protector. Nada disto, portanto, individualiza o ditador, serve para dele traçar um perfil específico ou para descobrir paradoxos – nem CAA o afirma, note-se. Mesmo a própria campanha de Delgado, apesar da mobilização popular conseguida, terá passado quase despercebida fora de Lisboa e Porto – e Portugal era então um país rural – e dos meios comunistas e “reviralhistas” republicanos, mais alguns “curiosos” e aderentes tímidos ou mais ou menos tácitos de última hora. Quatro ou cinco mil pessoas nas ruas (ou mesmo 10. 000), pelos padrões de então e riscos que isso comportava (na "baixa" - contam-me - acabou a tiro e a carga da GNR), era uma multidão, os jornais (apenas o “Diário de Lisboa” e o “República” estavam ligados à oposição) eram lidos por uma elite e controlados pela censura e da rádio e televisão nem vale a pena falar.
Quanto ao facto de Maria da Conceição Rita escolher Aristides Sousa Mendes como o segundo “melhor português de sempre”, a seguir a Salazar, nada de especialmente estranho, muito menos paradoxal. Tal como Salazar quando a protegeu a ela, “Micas”, e lhe deu a oportunidade de escapar ao seu destino, também Aristides Sousa Mendes protegeu os mais fracos e necessitados, dando-lhes uma oportunidade de, também eles, escaparem a esse mesmo destino, no caso a morte quase certa nos campos de extermínio. Desconhecedora da política e do mundo (este reduzido "ao seu mundo") ambos, Salazar e Sousa Mendes, para Maria da Conceição Rita foram homens que pautaram a sua vida pela dedicação e bondade, pela devoção a uma causa, pela vontade de abdicarem de si próprios em prol do “bem fazer”. Uma escolha "lógica", portanto!
Quanto ao facto de Maria da Conceição Rita escolher Aristides Sousa Mendes como o segundo “melhor português de sempre”, a seguir a Salazar, nada de especialmente estranho, muito menos paradoxal. Tal como Salazar quando a protegeu a ela, “Micas”, e lhe deu a oportunidade de escapar ao seu destino, também Aristides Sousa Mendes protegeu os mais fracos e necessitados, dando-lhes uma oportunidade de, também eles, escaparem a esse mesmo destino, no caso a morte quase certa nos campos de extermínio. Desconhecedora da política e do mundo (este reduzido "ao seu mundo") ambos, Salazar e Sousa Mendes, para Maria da Conceição Rita foram homens que pautaram a sua vida pela dedicação e bondade, pela devoção a uma causa, pela vontade de abdicarem de si próprios em prol do “bem fazer”. Uma escolha "lógica", portanto!
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