Existem duas decisões políticas de fundo a serem tomadas pelo governo nos próximos meses que irão ajudar a definir muito do seu futuro político, e do PS, nas legislativas de 2009: a questão do referendo sobre o Tratado Reformador Europeu e o futuro do aeroporto de Lisboa.
Sou, por princípio e em termos gerais e abstractos, contrário às “democracias” plebiscitárias e/ou referendárias (e não vem aqui ao caso a minha posição favorável ao federalismo europeu), com possível excepção para questões simples e concretas de âmbito local, mas reconheço que, no primeiro caso, uma decisão favorável ao referendo, até pelo contraste que estabeleceria com a decisão já tomada pelo PSD, iria, disso não tenho dúvidas, contribuir para um aumento da popularidade do governo, mais a mais quando se lhe apontam vícios vários de autismo e arrogância. Se este assim o decidir, será uma decisão irresponsável, ditada pela demagogia e o eleitoralismo fácil, arriscando-se a comprar um conflito com os seus parceiros europeus e, eventualmente, com o Presidente da República e a contribuir para hipotecar o futuro do aprofundamento político da União em troca de uma cedência aos vários eurocepticismos e basismos, por princípio seus adversários políticos, à esquerda e à direita. Mais ainda, arrisca-se a uma participação ridícula (não será pessimismo prever uma afluência na casa dos 30%) e, no caso de derrota (será de prever que apenas os partidários do “NÂO” serão susceptíveis de uma mobilização significativa), a actuar tal qual qualquer aprendiz de feiticeiro, criando um problema cuja necessária solução futura, por burocrática ou de gabinete mas sempre obnóxia, o colocaria numa situação de fragilidade política extrema, interna e externamente, e o afastaria ainda mais de qualquer pretensão de popularidade futura.
Quanto à nova estrutura aeroportuária, sabida da oposição da maioria dos portugueses, tem aqui o governo uma oportunidade de se tornar mais popular tomando uma decisão baseada na razoabilidade e num consenso alargado, definindo um corte, se não radical pelo menos significativo, com o modelo de desenvolvimento adoptado nos últimos decénios. Desconheço qual o grau dos compromissos já assumidos, mas, estando de fora, não me parece que, aqui, a decisão mais popular fosse coincidente com a decisão de risco ou com a decisão errada, antes pelo contrário. Enquanto adversário do projecto “grande cidade aeroportuária” e também enquanto cidadão e eleitor desconfiado da credibilidade das alternativas ao actual governo, espero bem que o governo tome uma decisão sensata. Terá tudo a ganhar, ele e nós.
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