sexta-feira, maio 30, 2014

Friday midnight movie (91) - Sci-Fi (XIV)

"Bride of the Monster", de Ed Wood (1955)
Filme completo c/ legendas em italiano

Jagger & Richards por Chris Farlowe (5)

"I'm Free" - Immediate IMLP 006 (1966)

O que têm a ver o PS, a "moção de censura" e Ricardo Araújo Pereira?

Alguém entende a posição do PS face à moção de censura do PCP? Primeiro, as eleições europeias indiciaram que nenhuma maioria estável e com forte liderança de um partido (PS ou PSD) deverá sair de próximas eleições legislativas. Depois, Seguro afirma que a moção de censura é "um frete ao governo" mas decide que o seu partido iria votar a favor, mesmo sem conhecer os respectivos considerandos e fundamentação. Mais tarde, perante esses mesmos considerandos e a decisão prévia de voto a favor, o deputado José Junqueiro faz um péssimo discurso na Assembleia da República, encostado à direita e de forte contestação ao PCP, e em resposta leva uma "abada" de Jerónimo Sousa. Por fim, António José Seguro decide não estar presente na discussão da moção, sofrendo justas críticas de deputados da sua bancada e sujeitando-se a algumas críticas de oportunidade vindas da maioria. Que raio, em vez de se auto-flagelarem com consecutivos tiros nos pés e mãos, teria sido muito difícil, face aos resultados eleitorais, à correcta opinião inicial do secretário-geral ("um frete ao governo"), aos considerandos da moção, à situação actual do PS e à própria actuação política do PCP e tendo em conta a conjuntura política, optarem pela abstenção, a decisão mais lógica e consentânea com a que deveria ser a posição do partido? É de deitar as mãos à cabeça e, para me fazer soltar uma boa gargalhada, só fico à espera de um "gag" de Ricardo Araújo Pereira em conformidade. Já tarda.

quinta-feira, maio 29, 2014

Seguro, Costa e as suas diferenças políticas

Existem diferenças programáticas claras entre António José Seguro e António Costa que possam levar os militantes do PS a preferir um a outro? Estando de fora - isto é, não sendo militante do partido mas apenas um observador interessado - confesso não sei, mas se a candidatura de Costa se efectivar será então esse o tempo de tirarmos conclusões mediante o que cada um deles tiver para dizer a todos os cidadãos. No entanto, convém enfatizar desde já que a questão não se esgota em eventuais diferenças ou coincidências programáticas. Na política, mesmo perante eventuais semelhanças ideológicas e programáticas, há sempre que considerar também quem, entre vários candidatos - pelo seu perfil político e pessoal, personalidade, experiência política e governativa, imagem, etc -, inspira mais confiança e se encontra melhor preparado para implementar e levar por diante um mesmo, ou semelhante, programa. 

Não vale portanto a pena os defensores do "não há alternativa" (à actual política dominante na UE, entenda-se) "esfalfarem-se" a tentar demonstrar desde já não existirem diferenças políticas significativas entre Seguro e Costa, pelo que, depreende-se, tudo não passará de uma quiçá mesquinha luta pelo poder. Nunca menorizando a importância dos programas políticos, o assunto, pelo menos enquanto a política fizer parte da actividade humana e não se limitar a textos em Word ou programas de Excel, é bem mais vasto e complexo do que apenas uma questão programática. Felizmente.

Fats Domino & Imperial Records (6)

"Rose Mary" (Imperial 5251 - 1953)

quarta-feira, maio 28, 2014

4ªs feiras, 18.15h (81) - "Sword & Sandals" (VII)


"Ulysses", de Mario Camerini & Mario Bava (1955)
Filme completo c/ legendas em português

Motor City (20)

Mary Wells - "Bye Bye Baby (Setembro de 1960)

PS: um partido refém

Se fosse efectuada uma sondagem junto dos habituais votantes no PS e dos cidadãos em geral perguntando qual a personalidade preferida para dirigir o partido e um eventual futuro governo por ele liderado, estou certo António Costa ganharia de forma destacada. E no entanto... No entanto Costa terá sérias dificuldades, já não digo para se fazer eleger internamente, mas para conseguir sequer disputar a liderança. Este é o retrato exacto do modo como os grandes partidos estão reféns das suas lógicas internas de funcionamento, dos pequenos poderes locais, dos "sindicatos de voto", da mesquinha troca de favores e do tráfico de influências nas distritais e concelhias. No fundo, dos "gauleiters" de ocasião. Esta é, aliás, uma das razões porque se recusam a discutir o chamado voto preferencial nas listas para eleições legislativas e autárquicas (não tendo posição definida, sou dos que acham o assunto merece discussão), não fossem os cidadãos alterar, por sua iniciativa, os laboriosos acordos conseguidos no interior do aparelho.

E quando falo de "gauleiters" não o faço levianamente. Basta perder (ou ganhar) algumas horas a ler o livro de Ian Kershaw sobre os últimos meses da Alemanha hitleriana ("The End" - "Até ao Fim") para se perceber como esses poderes, essas "lealdades pessoais", esses pactos "thick and thin" muitas vezes sem qualquer conteúdo político ou programático, essa inércia de funcionamento é capaz de se manter e até intensificar mesmo quando tudo se desmorona sua volta, para esse desmoronamento inclusivamente contribuindo. Qual a alternativa a este modelo de funcionamento? Francamente, não sei, embora seja urgente procurá-lo antes que este "way of doing things" acabe por subverter a própria democracia. 

Nota: Basta ter ouvido hoje os apoiantes de António José Seguro no "Fórum TSF" para se perceber que não é só à direita que o fantasma de José Sócrates ainda ensombra. No fundo, conclui-se que o algum silêncio último da direcção de Seguro sobre o legado do ex-secretário geral e ex-primeiro-ministro não passa de manobra táctica, uma espécie de "rabo escondido com o resto do gato de fora".

terça-feira, maio 27, 2014

O que mudou no PS?

O que é que mudou no PS desde há um ano e pode levar agora António Costa à liderança do partido? A forte possibilidade do PS poder não ganhar as legislativas ou vir a fazê-lo por uma pequena margem, o que fez acender uma luz de perigo no aparelho do partido avisando os que levaram António José Seguro à liderança - o tal "aparelho" - de que pode não haver "benesses" suficientes para distribuir ou que elas podem ser bem muito escasso. Se até agora existia uma clara dessintonia no partido entre o tal "aparelho" que Seguro, no seu silêncio, foi pacientemente mobilizando em seu redor nos tempos dos governos Sócrates e muitos dos ex-dirigentes, militantes e potenciais votantes no partido, o actual secretário-geral arrisca-se agora, em função do perigo de derrota, a ver muito desse aparelho transferir-se de armas e bagagens para quem lhe possa prometer um futuro mais risonho. Tem muito disto, infelizmente, a vida partidária, circunstância agravada pelas chamadas "directas", o que não impede António Costa, Pedro Silva Pereira, Augusto Santos Silva e mais um punhado de dirigentes e ex-dirigentes do partido de serem bem melhor opção do que os Seguro, Brilhante Dias, Zorrinho e Assis deste mundo. Aguardemos os próximos capítulos.

Jagger & Richards por Chris Farlowe (4)

"Yesterday's Papers" - Immediate 049 (1967)

segunda-feira, maio 26, 2014

O pós-eleições de Seguro

A reacção de António José Seguro no pós-eleições é a típica de alguém inseguro (e não estou a jogar com o trocadilho fácil do seu apelido), que tem consciência do seu falhanço e, perante um resultado que desmente os seus desejos ou quase-certezas, opta por não enfrentar os problemas, tenta auto-convencer-se, e a todos os que estão à sua volta, de que tudo está bem e resolve ensaiar uma "fuga para a frente" que normalmente é meio caminho andado para uma posterior e bem mais grave derrota. Pedir ao Presidente da República para convocar eleições antecipadas que substituiriam uma maioria absoluta em crescendo de coesão (mesmo que por via do quase desaparecimento de um dos partidos que a compõem e governando mal - não é isso que está aqui em causa) por não se sabe bem o quê e optar por votar favoravelmente uma moção de censura do PCP - atrelando-se ao carro de vencedor - depois de afirmar que a sua apresentação é "um frete ao governo" (cito de cor), só pode mesmo vir de alguém de cabeça perdida e à procura desesperadamente de algo a que se agarrar. Junto dos eleitores, arrisca-se a perder a réstea de credibilidade que ainda possa ter e quanto ao partido "queria ser mosca" para assistir por dentro à intriga que se vai seguir. 

Para já, é ele, e não os comentadores, que, com estas atitudes, está a transformar a esmagadora derrota da direita numa quase-vitória do governo.

Girls, Girls, Girls (4)

Carole King - "It Might As Well Rain Until September" (1962)

Eleições europeias

  1. Se nada de anormal se passar, os chamados "partidos do arco da governação" (prefiro chamar-lhes "partidos do consenso europeu") chegarão às próximas eleições legislativas em posição de quase-fraqueza extrema, ou pelo menos muito fragilizados por uma derrota estrondosa (PSD/CDS), por via de três anos de enorme austeridade e da promessa de sacrifícios sem fim, e de uma vitória pírrica (PS) fruto da incapacidade de, em Portugal e na Europa, se apresentarem como alternativa, situação que, inclusivamente, tem potenciado o aparecimento de líderes sem carisma (Seguro, Hollande, Rubalcaba, etc), que são consequência e não causa. Não podendo existir candidaturas independentes, essa fraqueza proporcionará o aparecimento de alguns partidos do tipo "barrigas de aluguer" (quer se queira quer não, uma espécie de subversão legal do sistema de partidos), ao estilo MPT, protagonizados por líderes carismáticos e portadores, em maior ou menor grau, de propostas anti-sistema. Terão, no entanto, uma limitação: não basta apresentar uma lista de 21 nomes; será, se não necessário, pelo menos desejável, concorrer num número elevado de círculos eleitorais, o que dificulta a sua acção, embora exista a possibilidade real de um ou outro (não mais) elegerem deputados em círculos como Lisboa, Setúbal ou Porto.
  2. Se o PCP (a par de Marinho Pinto, claro) foi o grande vencedor da noite, também ficaram bem à vista as suas limitações: o partido dificilmente ultrapassará um patamar situado à volta dos 13% de votos. Ontem, tinha tudo a seu favor (incluído a abstenção) e ficou abaixo deste número. A sua ideologia, imagem, origem social de uma maioria dos seus dirigentes e homogeneidade social dos seus militantes, em que se baseia uma boa parte da sua força política, constitui também um entrave à sua expansão eleitoral. Mas não é a expansão eleitoral o principal objectivo do PCP, que tem e exerce a sua força em outros terrenos. 
  3. Discutir até à exaustão os resultados internos sem analisar o que se passou na Europa é como limitar-mo-nos a discutir a Liga portuguesa sem nos preocupar-mos com a Champions, a Premiership ou La Liga. Ou é ainda mais revelador de uma mentalidade provinciana e tacanha, de um espírito "umbiguista". Ontem, um autêntico vendaval político varreu a Europa (França, Áustria, Dinamarca, GB, Finlândia, Grécia) e, num ou noutro sentido, é ainda daí que poderão soprar ventos capazes de conduzir a UE à mudança. Mas não estou nada certo a UE (ou quem actualmente a dirige "de facto") queira mesmo mudar.  E não apenas por cegueira política; mas muito na medida isso possa também servir os seus interesses.
  4. O que acontecerá um dia se um qualquer Marinho Pinto, com este ou outro nome, for eleito Presidente da República? Já esteve mais longe, e é também por essas e por outras que sou um adepto do parlamentarismo, sistema bem mais limitador desse tipo de aventuras "unipessoais", mais ou menos populistas.
  5. Quando o voto de protesto sobe, o "Bloco de Esquerda" desce e sofre uma derrota histórica. Perdeu o seu "momentum", fruto das ideologias e práticas políticas dos núcleos duros de dois dos partidos (UDP e PSR) que estão na sua origem, e muito dificilmente algum dia o recuperará. O que é ainda mais penalizador para quem tem dirigido o "Bloco" é que isto acontece num momento em que o PS e a social-democracia europeia estão em enorme conflito com as sua própria "alas esquerdas", o que significa existia (ou poderá existir) espaço político para a afirmação de um pequeno partido nessa área. Incompetência pura e simples das direcções do Bloco de Esquerda ou apenas impossibilidade de ultrapassar as suas origens? Inclino-me para esta última.

domingo, maio 25, 2014

Sobre a "final" de ontem

  1. O que mudou no Real Madrid do ano passado para este ano? Bom, Carlo Ancelotti mexeu no coração da equipa, no seu meio-campo, fazendo recuar Modric e Di Maria para Bale poder entrar na equipa. Com isto, não só abdicou do "duplo pivot" (Xavi Alonso/Khedira com José Mourinho), sem grande perda de segurança defensiva, como transformou Modric - um jogador que se realiza "com bola" - de um "10" infeliz e pouco influente naquele modelo de transições supersónicas (quase um corpo estranho) numa espécie de João Moutinho "em bom", um "8" que ataca e defende marcando assim o ritmo da equipa. Também Di Maria ganhou mais espaço com esse seu recuo e ontem, com o Atlético a fechar os espaços no último terço do campo, defendendo o 1-0, viu-se como foram os movimentos de Di Maria desde trás que acabaram por levar o Real Madrid à vitória. Uma grande "chapelada", pois, para inteligência táctica de Carlo Ancelotti.
  2. A outra grande chapelada vai para a UEFA e para o modelo de profissionalismo que transformou as finais da Champions League em espectáculos de extraordinário impacto mediático e mundial. Em função disso, sugiro que os jornalistas e comentadores portugueses comecem a pensar duas vezes antes de se decidirem pela maledicência habitual com que gostam de presentear as duas organizações (UEFA e FIFA) que presidem ao futebol europeu e mundial.  

Matiné de Domingo (67)


"That Hamilton Woman", de Alexander Korda (1941)
Filme completo c/ legendas em castelhano

sábado, maio 24, 2014

Documentário de sábado (33 - II)

"La Guerre d'Algérie" - 2ª Parte (1960 - 1962)

O "Gato Maltês" e a "Biografia do Ié-Ié"


Texto do autor deste "blog", publicado no "Gato Maltês" no dia 1 de Abril de 2007, que Luís Pinheiro de Almeida teve a gentileza de incluir no seu novo livro "Biografia do Ié-Ié",  acabado de editar pela Documenta e que hoje é apresentado, pelas 17h, no Cine-Teatro da Encarnação. Ficam a referência e os meus públicos agradecimentos.

"No dia 1 de Abril de 1965, um pouco depois das sete horas da tarde, Pedro Castelo anunciava, após alguns acordes do instrumental “Revenge”, dos Kinks, na frequência modulada (uma novidade) do Rádio Clube Português, “Em Órbita”: “um programa feito por nós e dito por mim”. Não sei se a frase foi dita logo na abertura do primeiro programa, ou mais tarde por Cândido Mota, o seu apresentador nos anos subsequentes, mas sei que se tornou frequente, ao longo dos anos, e é isso que importa. Uma frase que funcionava como se de uma assinatura, uma síntese se tratasse, encapsulando em si um novo conceito ou parte dele: não estávamos perante um programa que promovia “estrelas da rádio” (muito comuns na época), quer fossem os seus autores ou o apresentador (na altura dizia-se “locutor”), mas anunciava, isso sim, uma certa radicalidade, um corte com a tradição de falsa intimidade com o ouvinte, tantas vezes expressa, pelos chamados “locutores da voz doce” e suas companheiras de emissão, no “amigos ouvintes, muito boa noite; somos a vossa companhia durante estes próximos minutos”.


Radicalidade, intransigência, fidelidade aos princípios definidos pelos seus autores (Jorge Gil, João Manuel Alexandre – falecido no dia 29 de Setembro de 1969 num desastre de automóvel -  e Pedro Albergaria, entre outros) sem qualquer tentativa de ir “ao encontro do gosto do público”, era este o conceito, o que só era “permitido” por se tratar da rede de frequência modulada, algo que, ao tempo, era uma novidade que só um número limitado de receptores possuía, o que a tornava numa frequência elitista, e o custo da respectiva emissão, e da publicidade que a mantinha, substancialmente mais baixos e acessíveis a um maior número de anunciantes. Aliás, até no caso da publicidade o “Em Órbita” foi de certo modo pioneiro, pois, se bem lembro, tinha um patrocínio único seleccionado pelos próprios autores do programa com “spots” adaptados ao seu “mood and tone”, o que, longe de ser um acaso, era essencial à apresentação da sua unidade conceptual.



Mas a sua marca mais identificativa foi o facto de ter sido o primeiro programa de rádio a apenas “passar”, de modo consistente e intransigente no gosto, música popular anglo-americana, "rock & roll", a música que mudou o mundo e era considerada na altura, no Portugal ultraconservador da ditadura, como “música e batuque de pretos” (sim, no Portugal “multirracial”), pecado original que conduzia directamente à depravação dos costumes, diluição da moral e delinquência juvenis. Aliás, o que era curioso verificar era o facto da esquerda comunista e a ditadura salazarista terem perante o "rock & roll" uma atitude idêntica, embora com propostas diferenciadas: a música de variedades, para o regime, e a canção de texto francesa para a esquerda comunista.



Essa radicalidade, esse “desprezo” (chamemo-lhe assim) pelo gosto das maiorias substituído pelo gosto dos seus autores, essa “arrogância” assumida (sim, não há mal nenhum nisso) ajudou a formar e a formatar o gosto musical (e não só) de uma geração, mas foi muito para além disso: contribuiu para a criação, em muitos adolescentes de então, onde felizmente me incluo, de uma personalidade e um novo modo ver e entender o mundo. Foi esta “atitude” que levou Jorge Gil a abrir uma excepção para chamar a atenção para José Afonso, ainda no tempo das baladas de Coimbra, e a “passar” a “Lenda de El-Rei D. Sebastião”, do Quarteto 1111, na altura uma pedrada no charco da música portuguesa. Foi também essa atitude que levou o “Em Órbita" a eleger, num dos seus anos de emissão, “Strangers In The Night”, de Frank Sinatra, um dos temas mais “passados” nesse ano nos vários programas de rádio, como a pior canção do ano, para grande escândalo da maioria e gozo dos autores do programa e dos seus indefectíveis."

sexta-feira, maio 23, 2014

Friday midnight movie (90) - Gothic/Horror (XXVI)

"Dolls", de Stuart Gordon (1986)
Filme completo c/ legendas em português

Jagger & Richards por Chris Farlowe (3)

"Ride On Baby" - Immediate 038 (1966)

3 notas 3 sobre a campanha

  1. Como tenho ouvido e lido, os pequenos partidos foram os mais prejudicados pela decisão fundamentalista da Comissão Nacional de Eleições sobre o tratamento mediático das candidaturas, principalmente o "Livre" e a candidatura unipessoal de Marinho e Pinto? Sim, sem dúvida que sim, mas a má influência estendeu-se a todas as candidaturas, já que sabendo os principais partidos apenas teriam direito a alguns segundos de tempo de antena nos telejornais, pouco ou nada mais lhes restaria que não fosse a opção pelo "soundbite", pela acção mediática impactuante em detrimento de qualquer opção  pela discussão com conteúdo ou pelo esclarecimento sereno, que não são incompatíveis com o comício, a reunião com apoiantes ou o "lombo de porco assado". É chegado pois o momento de pedir responsabilidades. Mas não só aos partidos políticos; também a quem, com as suas decisões insensatas (para não dizer "estúpidas"), esteve na base de uma campanha que a quase todos nos envergonha.
  2. O que esta campanha eleitoral deveria trazer também para a discussão é a sua capacidade para transformar gente tido por inteligente, com bagagem política e cultural e considerados estrelas em ascensão (pelo menos segundo comentadores e jornalistas) nos seus partidos, como Rangel e Assis, em autênticos trauliteiros ou trogloditas políticos, a pedirem meças ou até mesmo a ultrapassarem sem vergonha que se veja os comentadores da "bola" de programas do tipo "Os Três Estarolas". Das duas uma: ou não têm as qualidades que uma maioria de jornalistas e comentadores neles vislubraram - e eu acho e sempre achei que não têm, nem nunca tiveram; ou, pura e simplesmente, não têm um mínimo de vergonha na cara e dignidade suficiente para se recusarem a fazerem figuras ridículas e que acabam por prejudicar o regime e a democracia, o que ainda é pior. 
  3. Podemos gostar ou não deste governo - e eu não gosto. Mas a atitude de Marcelo Rebelo de Sousa ao justificar a sua participação na campanha exclusivamente pelo seu apoio a Jean-Claude Junker é indigna de um político de corpo inteiro, de um ex-presidente do seu partido e, principalmente, de um putativo candidato a Presidente da República. Das duas, uma: ou tinha a coragem, como o fez Mário Soares (estou à vontade: raras vezes, nos últimos tempos, tenho estado de acordo com ele), de não participar na campanha; ou, com maior ou menor entusiasmo, lá fazia o frete de ir ao "lombo de porco" e apelar ao voto na coligação, mesmo que de modo discreto e com um entusiasmo muito comedido. Razão parece ter Passos Coelho em querer afastar tal personagem da corrida a Belém, mesmo todos sabendo que depois de Cavaco Silva até o Rato Mickey poderá ocupar o lugar com vantagem.  

quinta-feira, maio 22, 2014

The Satellite/Stax records story (30)

The Del-Rios - "Just Across The Street" (22 de Maio de 1962)

Resultados e avaliação de treinadores

Em Portugal, o único critério para avaliação de um treinador parece ser a classificação ou resultados alcançados pela(s) equipa(s) que treinou nos últimos anos. Paulo Fonseca levou o Paços de Ferreira ao 3º lugar? É o "máximo das bolachas". Domingos levou o SC Braga ao vice-campeonato? É "the next big thing". Nuno Espírito Santo o Rio Ave FC a duas finais (devem estar esquecidos do modo com uma delas foi alcançada), apesar de um 11º lugar no campeonato? Está pronto para "novos desafios". Marco Silva conseguiu dois 4ºs lugares  com o GD Estoril-Praia em anos consecutivos? Só pode ser " the one and only". Depois, Paulo Fonseca deu com "os burros na água no FCP, Domingos Paciência coleccionou insucessos e que dizem jornalistas e comentadores? Nada, esquecem, a memória é curta.

Mas, perguntar-me-ão, não serão os resultados alcançados, pelo menos os que o são de forma sustentada, o principal parâmetro de avaliação do trabalho realizado por um clube e não é o treinador peça importante nesse trabalho? Sim, claro, mas o treinador é apenas uma peça (importante, mas apenas uma peça) e os resultados de uma equipa de futebol profissional, hoje em dia, dependem de uma série de factores organizacionais internos (gestão global e financeira, "scouting", investimento realizado, relacionamento com empresários de jogadores e capacidade de se movimentarem nos tão famigerados "fundos", modo como o treinador encaixa na filosofia e cultura do clube, etc, etc) e de condicionantes externas, incluindo variáveis macroeconómicas. Exemplos? Alguma vez Jorge Jesus poderia ter alcançado os resultados dos últimos anos no SLB sem o investimento realizado, a relação privilegiada do clube com alguns empresários, o modo como o clube se tem movimentado no terreno complexo dos "fundos", o trabalho de "scouting", a relação de confiança que estabeleceu com a Banca, etc, etc? Os resultados alcançados por Marco Silva e pelo GD Estoril-Praia teriam sido possíveis sem a Traffic Sports, a sua capacidade organizativa, o investimento no clube e a sua experiência com os "fundos" e representação de jogadores? E o crescimento do SC Braga é independente da respectiva Câmara Municipal e do crescimento da cidade nos últimos anos, via "bolha imobiliária"? Ao invés, não se gabava o FCP, e com alguma razão, de qualquer treinador poder ser campeão no clube? 

Enfim... algum rigor acrescido na forma como se analisa o trabalho de treinadores e os resultados alcançados pelos clubes talvez evitasse a criação de ídolos de "pés de barro" ou de "underdogs" precoces. Com maior justiça para todos, claro. 


terça-feira, maio 20, 2014

Ferreira Leite

Manuela Ferreira Leite tem sido uma das vozes mais críticas deste governo no espaço mediático, considerada mesmo por muitos como mais fundamentada do que a do próprio Partido Socialista. Em função disso, e por uma questão de coerência política, esperar-se-ia de si algum afastamento da campanha do seu partido (ou de qualquer outro, por respeito pelo seu passado recente de dirigente do PSD) nestas eleições europeias; digamos que a assumpção de um período de "nojo" que preservasse no essencial a opinião política expressa publicamente nos últimos tempos. Mais ainda quando, reconhecendo-lhe idoneidade pessoal e intelectual, a campanha caiu numa vulgaridade que, sem ter medo das palavras, roça a rasquice e na qual prevalece o insulto e a baixíssima política. Por isso mesmo, ao aceitar agora apoiar publicamente a coligação PSD/CDS, mesmo que de forma envergonhada (só pode mesmo ter vergonha), Ferreira Leite pode estar a prestar um bom serviço ao seu partido de sempre (embora até disso tenha dúvidas), mas presta de certeza um mau serviço à democracia, justificando a "vox populi" que clama serem "os políticos todos iguais" e movidos por interesses que nada têm a ver com o serviço e defesa do interesse público. Mais ainda: pessoalmente, perde a imagem de alguma independência alcançada e o seu comentário político, no futuro, qualquer grau de credibilidade; e, politicamente, a sua eventual influência numa evolução do PSD e qualquer papel que pudesse vir a desempenhar em negociações futuras com o PS fica reduzido a quase nada. Infelizmente, e em função desta atitude de Ferreira Leite, somos forçados a concluir que "coerência" e "dignidade" são valores inexistentes, ou quase, na vida política portuguesa. Depois admirem-se.   

"For sentimental reasons" - original doo wop classics (27)

The Five Satins - "To The Aisle"

segunda-feira, maio 19, 2014

Campanha eleitoral e televisões

Qual a principal conclusão que se pode e deve tirar da ausência de debates eleitorais nas TVs? Pura e simplesmente que, no formato a que seriam obrigados, a campanha eleitoral não atrai o interesse dos telespectadores, não gera audiências e "não vende". E que isto não acontecendo, ela - a campanha - arrisca-se a não existir. Diferente seria, e maior interesse geraria, talvez um debate entre Rangel e Assis, mas mesmo estes são já presença habitual em programa de debate político, num canal de televisão, o que também prova a escolha de candidatos em função da sua popularidade mediática contém também em si o perigo da ausência de novidade - essencial para gerar interesse entre os telespectadores - de cansaço da fórmula e de esgotamento do modelo. Seria pois mais avisado, em vez de criticarem as televisões, os partidos políticos repensarem o modo como fazem campanha e o papel que nessa mesma campanha pode caber às televisões, em particular, e ao espaço mediático, em geral, incluindo, claro está, "blogs" e redes sociais.

Jagger & Richards por Chris Farlowe (2)

"Think" - Immediate IM 023 (1966)

Futebol à 2ª feira

  1. Sou um "tradicionalista", mas como não me considero um "conservador" penso a tradição pode reformar-se e deve sempre ceder o seu lugar quando estejam em causa valores mais importantes e que por isso devem prevalecer. Por isso mesmo, e perante as imagens que ontem vi da entrada do público para o estádio do Jamor, colocando em sério risco a integridade física e a vida de muitos (lembrei-me de Hillsborough), penso não faz qualquer sentido manter a disputa da final da Taça de Portugal num estádio irreformável e com setenta anos de vida, deixando vazios estádios modernos onde os poderes públicos investiram algumas centenas de milhões de euros. Os acessos por transporte público (hoje em dia o meio de transporte preferencial para aceder a um estádio de futebol) são muito deficientes, a comodidade e visibilidade para o público, com bancadas pouco inclinadas, um corredor de escoamento para espectadores e uma pista de atletismo a afastarem-nos do relvado, é má de qualquer lugar, as estruturas de apoio (casas de banho, bares, etc) escassas e as condições de segurança para esquecer. A sorte foi que ontem era um SLB - Rio Ave FC, mas gostaria de saber o que teria acontecido num SLB-FCP ou SCP. Espero nunca se venham a trocar uma febras e uns "picnics" na mata do Jamor por vidas humanas.
  2. Sim, eu sei que os 120' da final de Turim e os muitos jogos disputados constituem atenuante de peso, mas o "meu" SLB continua a chegar aos finais de época fisicamente mais desgastado do que acho seria aceitável. Responsabilidade do modelo de jogo que, apesar da mais assisada rotação de jogadores permitida por um plantel qualitativamente superior, continua a causar enorme desgaste. E é o momento das vitórias o mais indicado para, com sensatez, identificar os problemas.
  3. A escolha de jogadores para uma fase final de um Europeu ou Mundial não é propriamente um concurso de popularidade, muito menos a atribuição de um prémio aos que mais e melhor se distinguiram no seus clubes durante uma época. Deve ter na sua base, para além da experiência de cada jogador no "grande futebol", um conceito de gestão de grupo por parte do seleccionador, bem como uma ideia de jogo para a equipa englobando princípios, modelo e capacidade de entender o modo como a equipa joga. Parece-me ser isto que Paulo Bento desde sempre entendeu e interiorizou a a esmagadora maioria de jornalistas e comentadores ainda não percebeu. Continuar a insistir na discussão de nomes sem ter isto em atenção é enorme disparate.

sábado, maio 17, 2014

Ainda a final de Turim, agora para falar da arbitragem

Voltemos à final de Turim e para falar de um tema que muito raramente abordo, a arbitragem, tentando fazê-lo de um ponto de vista diferente dos que me habituei a ler e ouvir e pode ajudar a explicar as decisões de Felix Brich.

Sejamos claros: em condições normais, nenhuma equipa de arbitragem - a quem, para além de fazer aplicar as leis, compete também gerir o jogo - de uma final europeia (ou mundial, neste caso a nível de selecções) expulsa um jogador numa fase precoce do jogo a não ser por razões indiscutíveis e quando estas não lhe concedam alternativa. Do mesmo modo, não assinala uma grande penalidade a não ser quando o lance, analisado no campo e não depois de infinitas repetições, sob vários ângulos e em câmara lenta, vistas nas televisões, lhe parece indiscutível de tal sanção. São jogos-chave que devem ser geridos de forma cautelosa e sem protagonismos ou exposição excessiva por parte das equipas de arbitragem. Esta é a regra. Ora olhando para os lances mais polémicos do jogo de Turim, nem a falta sobre Sulejmani, num momento precoce do jogo, é passível de indiscutível expulsão (esta seria adequada, mas o "amarelo" é aceitável e corresponde à tal decisão "defensiva" da equipa de arbitragem em jogos deste tipo), nem as faltas sobre Lima (a que me parece mais evidente, depois de vista pela TV, mas mesmo assim num lance algo "embrulhado"), Gaitán (este exagera o espectáculo da queda o que com certeza ajudou à decisão de Brich) ou a "mão" de Carriço são dos tais lances que, mesmo que em rigor faltosos, se possam considerar, sem serem vistos via TV, escandalosos ou, falando de modo mais rigoroso e em termos jurídicos, "beyond reasonable doubt". Aliás, o facto de mesmo depois de visionamento televisivo ser difícil encontrar um consenso entre comentadores de arbitragem, antigos jogadores e jornalistas, relativamente a qual ou quais desses lances devia ser aplicada sanção diferente da decidida por Felix Brich, prova exactamente aquilo que digo e o racional que - penso - terá estado na base das decisões da equipa de arbitragem, infelizmente todas elas contrárias aos meus desejos e interesses do meu clube. No fundo, desde as ausências forçadas e uma lesão inoportuna até às decisões de uma equipa de arbitragem em que, como é normal nestas finais, o peso da gestão do jogo se sobrepôs a uma actuação em que a aplicação pura e dura das leis poderia ter assumido outro protagonismo, tudo o que poderia ter corrido mal, correu mesmo muito mal. E foi pena.

sexta-feira, maio 16, 2014

Friday midnight movie (89) - Gothic/Horror (XXV)

"Nightmare", de Freddie Francis (1964)
Filme completo c/ legendas em português

Jagger & Richards por Chris Farlowe (1)

"Out Of Time" - Immediate IM 035 (1966)

Ah!, a campanha eleitoral!

Confesso não tenho estado demasiado atento à campanha para as europeias. Mas por aquilo que tenho lido nos "media", parece-me que pela linguagem utilizada, mais própria dos "fóruns de opinião" ou daqueles programas de futebol onde apenas se discutem arbitragens, os candidatos Rangel e Assis, um género de Dupond e Dupont da política portuguesa, têm falado bem mais para um núcleo restrito dos seus apoiantes do que para os indecisos ou potencias abstencionistas. Para piorar as coisas, acresce que o debate (foi mais uma entrevista colectiva) entre os candidatos a Presidente da Comissão Europeia, transmitido ontem na RTPInfo, já de si pouco atractivo para a maioria esmagadora dos eleitores portugueses, pelo formato utilizado, incluindo a resposta/minuto e a tradução simultânea, provocava enorme afastamento entre esses candidatos e os telespectadores, quase transformando os primeiros em "robots" programados para debitarem um discurso político vago e pré-formatado. Digamos que perante o actual afastamento dos cidadãos da política, o convencimento quase generalizado de que os socialistas, aqui e na Europa, não oferecem uma verdadeira alternativa e a não existência de candidaturas de "fora do sistema" (neste caso, felizmente) - e isto apesar da oportunidade única para mostrar aceitação ou recusa das políticas radicais do actual governo e da "troika - o cenário, para os que, como eu, se situam no campo da democracia liberal e representativa e ainda não descrêem completamente da UE, não é lá muito motivador para nos fazer sair de casa no próximo dia 25. Espero estar enganado.

quinta-feira, maio 15, 2014

Big Maybelle - The Okeh sessions (4)

"I've Got a Feelin'" (Okeh 7026 - gravação de 20-01-1954)

A final perdida em 5 pontos

  1. A equipa chega a esta fase derradeira da época muito desgastada física e mentalmente. Paga o preço do desgaste mental para ser campeão, causado pela indispensabilidade de superar a frustração da época passada, e físico dos jogos  em inferioridade numérica contra FCP (Taça de Portugal e Taça da Liga) e Juventus. É essa "surménage" nesta altura da época, o que também já não é novo, que explica em boa parte a falta de espontaneidade no remate e de eficácia demonstrada na área contrária.
  2. Não é de hoje a dificuldade da equipa em jogar contra adversários que povoam o meio-campo e optam pela pressão alta. Sem Enzo - o que melhor sabe sair a jogar - e com o complicativo e "macio" André Gomes, a "coisa" só piora.
  3. Fejsa, Enzo Perez, Sílvio, Sálvio, Markovic e depois Sulejmani, quatro deles jogadores de jogo "exterior", fundamental no modelo de Jorge Jesus. Foi uma equipa dizimada, demasiada gente a menos em área tão importante, e isso paga-se caro.
  4. Jorge Jesus geriu bem a equipa. Adiantar Maxi e fazer entrar André Almeida para defesa-direito foi a melhor solução para resolver os problemas que o SLB defrontava a meio-campo. E até resultou bem.
  5. Ter Cardozo e Rodrigo a marcarem "penalties" significa sempre que a percentagem de existirem "falhanços" é potencialmente mais elevada. Mas admito não haveria ninguém melhor. Claramente, não foi mérito do guarda-redes do Sevilha; muito mais demérito dos autores de remates.

quarta-feira, maio 14, 2014

4ªs feiras, 18.15h (79) - Hitchcock (VII)



"Saboteur" (1942)
Filme completo c/ legendas em português

Gilbert & Sullivan (17)

Gilbert & Sullivan - "Trial By Jury" 
"Comes The Broken Flower..."

A final da Liga Europa e o filme da minha vida

Estava a entrar na adolescência quando o SLB ganhou a sua segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus. Confesso me lembro mal do jogo, tendo uma ideia bem mais nítida da final anterior, contra o Barça, mais pelas constantes interrupções da transmissão e pela má qualidade da imagem do que pelo jogo em si mesmo. Mas lembro-me bem da bola que bateu nos dois postes, ainda quadrados, da baliza do Costa Pereira. Uma sorte danada. Depois dos 5 a 3, "a conta que Deus fez" e quando já o SLB era favorito, talvez mesmo na única final europeia em que o foi, abateu-se sobre a equipa o "azar dos Távoras", com lesões de Coluna e Eusébio, a actuarem diminuídos grande parte do tempo, e uma dupla de centrais de "meter medo ao susto, constituída por uns tais Raul Machado e Humberto Fernandes, presas fáceis do tal Altafini, o verdadeiro, e não o de Cernache.

No resto da década foi o que se viu, nunca o SLB disputando uma final em condições de igualdade: contra o FC Internazionale, em S. Siro, o campo do adversário que mais parecia um pântano, um "perú" de Costa Pereira, o tal golo de Jair e Germano para a baliza; depois, bom, depois foi outra final jogada também quase no campo do adversário (Wembley) e Charlton e Best [toda a gente fala de George Best mas eu dificilmente vou esquecer a única vez que vi jogar Bobby Charton ao vivo, no Estádio da Luz (1-5)] a darem cartas no prolongamento perante uma equipa já a aproximar-se da decadência.

E de final em final, quando dei por mim era já adulto, casado, com filhos e lugar cativo no Estádio da Luz, onde assisti à 2ª mão da final da Taça UEFA contra o Anderlecht, na altura uma equipa bem superior ao "Glorioso". Depois... Bom, depois disso lá nos foram saindo as favas: uma final, da qual só vi metade e via TV, por razões profissionais, contra um PSV que era só a base da selecção da Holanda e que tivemos dificuldade em aguentar até aos "penalties", e um AC Milan com o que faltava da selecção holandesa (Gullit, Van Basten e Rijkaard) mais uns tais Maldini, Ancelotti, Baresi e Costacurta. Foi jogo de um só sentido ao qual finalmente assisti sentado nas bancadas do Prater.

E como tudo isto se parece passar com intervalos de vinte anos, respeitantes a fases bem definidas da minha vida, agora, reformado e já com uma prole de netos, depois de no ano passado termos feito o que pudemos contra um quase inacessível Chelsea da oligarquia russa, temos agora, em vez de um adversário mais ou menos alienígena, um oponente à nossa dimensão terráquea. E, caros Oblak, Luisão, Garay, Gaitán, Rodrigo e etc,  como daqui a vinte anos não tenho garantias de ainda por cá andar ou, se isso acontecer, ainda me restar  um pouco de razão e vontade própria, façam lá favor de ganhar hoje, se possível sem fazer sofrer demasiado. É que depois de uma vida a ver o meu clube perder finais europeias,caramba, já é tempo de um dia, se possível daqui a muitos anos, poder finalmente morrer descansado.

segunda-feira, maio 12, 2014

Fats Domino & Imperial Records (5)

"Mardi Gras In New Orleans" (Imperial 5231 - 1953)

"Under the Skin"


Confesso não me lembro de alguma vez ter saído do cinema sem saber muito bem o que pensar. Ou se isso alguma vez terá acontecido. Mas foi isso mesmo que se passou quando saí de "Under the Skin", misturado com um sentimento de estranheza que vai muito para além do "gosto"/"não gosto". E é essa mistura de sentimentos que acho nunca me aconteceu. Por vezes lembrei-me de Strange Days", de Kathryn Bigelow, ou também de "Blade Runner". E porque não da alguma estranheza que emana do ambiente de "The Shout", de Jerzy Skolimowski? E porque em vez do óbvio Kubrick me lembrei antes de Lynch? E porque razão Scarlett Johanssen me fez por vezes lembrar gente tão díspar como a Anna Karina de "Alphaville" ou a Marianne Faithfull de "Girl on a Motorcycle"? Jonathan Glazer vem da publicidade e do mundo dos telediscos e isso é razão suficiente para desconfiar. Mas também é por isso que saberá tão bem criar o ambiente para seduzir o espectador sem ultrapassar a superficialidade da pele. E é isso mesmo que "Under the Skin" é: tal como Scarlett Johansson no filme, um objecto de sedução que talvez seja bem melhor não levar mais fundo que a pele. Eu, como está bem de ver, gostei de me deixar seduzir assim.

domingo, maio 11, 2014

Matiné de Domingo (65)

"The Little Princess", de Walter Lang (1939)
Filme completo c/ legendas em português

Voto obrigatório?

Obrigar alguém a praticar um acto que não quer só pode provocar neste revolta e repúdio por esse mesmo acto e por quem o torna obrigatório. Num momento de afastamento dos cidadãos da política, de hiper-criticismo em relação aos políticos e de abstenção como forma de protesto, tornar o voto obrigatório arrisca-se a ter apenas como resultado um aprofundamento desse afastamento ou, mais grave ainda, um repúdio mais geral pela democracia e pelo regime. Que um político experiente como Marcelo Rebelo de Sousa o venha propor só pode mesmo acontecer por desespero, que, como sabemos, é normalmente inimigo da inteligência e da racionalidade. Esperemos esta ideia abstrusa e anti-liberal do "voto pela arreata" não passe mesmo de um desabafo para rapazola da JSD ouvir, o que, apesar de tudo, vindo de quem vem e dirigido a um grupo de "jotinhas" radicais e empertigados, não deixa de ter a sua gravidade. Mas um dos problemas de Marcelo Rebelo de Sousa é que, na sua ânsia de protagonismo, demasiadas vezes a rapidez com que usa a palavra excede a velocidade do seu raciocínio.

quarta-feira, maio 07, 2014

Lopetegui e Jorge Mendes

Não vale a pena jornalistas e comentadores esforçarem-se demasiado para encontrarem uma lógica, um racional, que explique a contratação de Julen Lopetegui pelo FCP. Ou tentarem passar ao lado do facto de Lopetegui não ter chegado ao final do contrato no único clube da 1ª Liga que treinou (Rayo Vallecano) e este ter descido de divisão. A escolha pode ou não dar certo (o futebol tem muitos factores imprevisíveis), mas para chegarem a uma conclusão é bem mais fácil e certeiro esses jornalistas e comentadores procurarem um nome, e esse é Jorge Mendes. Resta-nos agora ficar atentos aos fluxos financeiros e de jogadores com origem e destino no FCP, para depois tirarmos as respectivas conclusões. 

4ªs feiras, 18.15h (78) - Fritz Lang (I)


"Die 1000 Augen des Dr. Mabuse", de Fritz Lang (1960)
Filme completo c/ legendas em inglês

terça-feira, maio 06, 2014

Billboard #1s by British Artists - 1962/70 (20)

The Beatles - "Help" (04-09-1965)

O dilema do PS

Algo que ainda não entendi e o Partido Socialista terá de explicar: em caso de necessidade, e para redução do "déficit", o partido prefere, pelo menos em termos gerais e abstractos, optar pela redução da despesa, sacrificando necessariamente áreas fundamentais do Estado Social, ou aumentar a receita fiscal, mormente através do agravamento de impostos progressivos sobre o rendimento das famílias e das empresas? Como partido social-democrata que é, ou pelo menos pretende ser, eu diria que a segunda hipótese seria a que melhor se enquadra na sua ideologia e não deveria ter medo em assumi-la. Mas esse seu receio apenas demonstra até que ponto a ideologia ultra-liberal dos cortes no Estado Social e da redução de impostos impregnou todo o espaço político e toda a sociedade, acabando por retirar qualquer autonomia ideológica e de acção a uma social-democracia europeia que, assim, se vê condenada ao definhamento. 

segunda-feira, maio 05, 2014

Cavaco Silva, o "mesquinho"

Cavaco Silva até tem razão numa coisa: muitos políticos, economistas, comentadores, politólogos, jornalistas e afins enganaram-se redondamente quanto ao modo como Portugal iria sair do actual período de resgate. Podem até existir mil e uma razões e factos pouco ou nada previsíveis e sólidos para explicar o erro de tanta gente, mas enganaram-se. Como se terão enganado quanto à previsão de um período de agitação social. Ponto. 

Mas um Presidente da República digno do cargo que ocupa, que passa a vida a falar de consensos e entendimentos e que quisesse preservar a sua capacidade de intervenção, em vez de exercer o "magistério" da vingança vil e mesquinha, teria escolhido outra atitude para manifestar a sua legítima satisfação pelo acontecido e pelo facto de ter tido razão na sua análise. Atirar-se "como a gato a bofe" a quem teve opinião contrária à sua, pode até fazer-lhe bem ao "ego", deixá-lo "inchado" e a rebentar de contentamento, a salivar ao pensar em como se sentirão os que agora quer atingir, mas ao político português mais experiente no activo  exigir-se-ia não um desabafo, um acto vil de vingança ou um "atirar à cara", mas uma reacção exclusivamente política, deixando o resto para a intimidade dos seus. Cavaco Silva hipoteca assim, uma vez mais, a sua capacidade de actuação enquanto Presidente da República, dando uma vez mais razão àqueles que, como eu, são adeptos do parlamentarismo e não entendem a insistência numa fórmula semi-presidencial esgotada e, na realidade, fomentadora do mau funcionamento das instituições. Mas "pode alguém ser quem não é"? 

Nota: eu, pobre "blogger", estou à vontade, pois nunca me deitei a fazer previsões sobre a saída do actual resgate.

"Piscinar" e "espumantizar"

 Agora que está de volta o calor, o "Gato Maltês" recomenda dois bons espumantes para aqueles almoços leves (umas saladas, uns pimentos "padrón", salmão fumado, queijos frescos e o que mais deste género apetecer) de jardim e/ou piscina. O primeiro é o Vértice "Cuvée", da Região do Douro, feito a partir das castas brancas da região (Viosinho, Gouveio, etc). Custou-me menos de €15 a garrafa e se for preciso até acompanha bem outro tipo de "comidinha" um pouco mais de "interiores". O outro, o 3B (de Baga, Bical e Bairrada) "rosé", de Filipa Pato, já acho mais exclusivo de relva e piscina. Custou-me cerca de €10 cada garrafa na "Living Wine". E não digam que não sou vosso amigo!

Fats Domino & Imperial Records (4)

"Every Night About This Time" (Imperial 5099 - 1950)

Seguro e a "manchete" assassina

Conforme aqui então disse (14 de Janeiro deste ano), ao colocar o acento tónico nas condições de saída do resgate e não nas condições do país para se tornar mais competitivo e, pelo menos num futuro próximo, mais "amigo" dos seus cidadãos no final dos três anos de resgate, António José Seguro sujeitou-se a uma derrota previsível, não percebendo o que efectivamente estava em causa e que a aliança entre o governo e a "troika" construiria a solução que melhor se adaptasse aos interesses em jogo. Pior, sujeitou-se a "manchetes" assassinas como esta, certamente com origem num bom trabalho da agência de comunicação do governo, capaz, numa só penada, de colocar em causa muito do trabalho (bom ou mau, não é isso que de momento interessa) do partido enquanto oposição. Se fosse militante ou dirigente do PS (não sou) não hesitaria em em accionar todos os mecanismos existentes no partido (certamente os haverá) para obrigar Seguro a explicar-se junto dos respectivos orgãos dirigentes.

sexta-feira, maio 02, 2014

Friday midnight movie (87) - Gothic/Horror (XXIII)

"Carnival of Souls", de Herk Harvey (1962)
Filme completo c/ legendas em castelhano

Girls, Girls, Girls (3)

The Poni-Tails - "Born Too Late" (1958)

O DEO, a estratégia e as eleições.

  1. É verdade que o governo mentiu ao dizer que não aumentaria impostos para depois agravar o IVA e a TSU (aqui a funcionar como um autêntico imposto) em 0.25 pontos percentuais; embora não seja daqueles que dizem qualquer governo deve sempre dizer a verdade, abdicando de gerir a informação, penso, neste caso, apenas perdeu com o modo como a geriu.
  2. É verdade que continuamos na ignorância do que se irá passar com a chamada "tabela única" da função pública e dos reflexos que ela irá ter nas respectivas remunerações, tudo levando a crer será, globalmente, num sentido da redução de salários.
  3. É também verdade que o governo, ou mais propriamente alguns ministros do CDS, brincaram com a vida dos portugueses ao mencionarem a possibilidade da redução do IRS em 2015, o que ficámos a saber não acontecerá.
  4. É verdade, como veremos mais adiante, que com esta decisão o governo parece trocar estratégia por votos, mas também é verdade que os partidos se fizeram para ganhar eleições e ainda bem que estas permitem aos governos enfrentar a decisão popular sobre as suas políticas.
Tudo isto é verdade e é bem provável ainda me tenha esquecido de mencionar mais alguma coisa - num sentido negativo, claro. Mas o que é um facto é que o governo consegue, deste modo, substituir alguns cortes salariais - que, na realidade mais não são do que impostos - efectuados sobre dois grupos específicos de cidadãos (funcionários públicos e pensionistas), por um pequeno e quase imperceptível agravamento de impostos (€2.5 por cada mil euros de salário ou despesa) sobre todo um conjunto de portugueses (caso da taxa máxima do IVA) ou dos trabalhadores no activo (TSU, pese o facto negativo de esta ser uma "flat tax"), o que significa, apesar de tudo e de não ter tido a coragem de mexer nos impostos sobre o rendimento, o que é sempre a forma mais justa de distribuir sacrifícios, um muito pequenino passo na direcção de uma maior justiça nessa mesma redistribuição e no afastamento da ortodoxia ultra-liberal. Aliás, basta ver a forma como reagiram alguns dos comentadores mais ortodoxos, na imprensa e na "blogosfera", para perceber a desilusão que estas medidas provocaram nos sectores mais radicais de apoiantes do actual governo. Enfim, e ao contrário do que disse Passos Coelho, estamos perante um pensamento do tipo "que se lixe um pouco da estratégia se com isso puder ganhar alguns votos".