Concorde-se ou não com ela, a greve dos professores tinha objectivos concretos e bem definidos: lutar contra o chamado regime de mobilidade especial e as 40 horas de trabalho semanal. Estávamos, portanto, perante uma negociação que colocava em cima da mesa questões de ordem laboral, e não perante objectivos, digamos assim, "macro-políticos" (demissão do ministro ou do governo, etc, etc) ou de ordem mais geral e abstracta (contra a "austeridade", a "troika", etc). A greve foi, portanto, e neste caso, uma arma utilizada no sentido de dar mais força à posição negocial dos professores, fragilizando a posição do ministério de Nuno Crato e obrigando-o a maiores cedências. Tal como, aliás, e do lado do ministério, o foi o recurso à convocação de todos os professores para o dia da realização do exame de Português.
Não negando aos portugueses, como é óbvio, a legitimidade de fazerem greves por razões "macro políticas" ou de carácter mais abstracto, desde que respeitando a legalidade, penso que o acordo agora alcançado entre sindicatos e ministério da Educação é o corolário lógico de um processo negocial difícil mas exemplar, que prova a negociação, mesmo que nela ambas as partes possam recorrer por vezes a posições mais extremadas para fazerem valer as suas posições, acaba, na maioria das vezes, por compensar. Claro que o facto de estarmos neste caso perante dirigentes sindicais e um ministro ambos com larga experiência e sólidos conhecimentos e formação política só pode ter ajudado, mas até por isso mesmo estamos perante um caso que, no seu desenvolvimento e conclusão, pode ser visto como exemplar e que a democracia só pode saudar.
Nota final: que dirão agora Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Sousa Tavares, que consideraram a greve dos professores se saldou por uma derrota dos sindicatos?
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