O discurso de Pedro Passos Coelho na abertura do debate quinzenal de hoje na Assembleia da República é um bom exemplo da linguagem, do tom e do léxico adoptados oficialmente por este governo e que derivam directamente do pensamento dominante nas mais importantes escolas de gestão (não consegui o link, infelizmente). Estamos perante um subalternização da linguagem e do raciocínio políticos, dos movimentos sociais, da História e da ideologia em favor de uma linguagem aparentemente tecnocrática em que tudo se reduz a "modelos", "fluxos", "valorizações" e "desvalorizações", "oportunidades" e "operações", hermetismo que mais não faz do que camuflar e suportar, na sua aparente tecnicidade, o pensamento político único, radical à direita, do "não existe alternativa.
Digamos que a retórica tradicional dos parlamentos tem também a sua responsabilidade neste "estado de coisas", pois foi o inquestionável esgotamento desse tipo de linguagem que acabou por abrir caminho a esta espécie de "novilíngua" agora dominante. Hoje, o discurso de Pedro Passos Coelho, que não frequentou nenhuma das grandes escolas de gestão, não exerceu funções de responsabilidade em nenhuma empresa de topo e, por isso, de Borges e Moedas apenas conseguiu captar o jargão e ser assim, de qualquer deles, uma espécie de sombra chinesa - algo que quer parecer mas não é - mais parecia uma má comunicação de um medíocre e inseguro CEO a uma assembleia geral de accionistas do que um discurso de um verdadeiro primeiro-ministro ao parlamento do país. No fundo, tratou-se de mais uma manifestação de desprezo pelos portugueses. Lamentável.
Sem comentários:
Enviar um comentário