António José Seguro foi um dos que cavalgou a onda anti-socrática para chegar ao poder; primeiro no partido e depois no país, uma vez findo, em 2015 ou antes disso, o prazo de validade do governo que ajudou a eleger. E para esse seu exercício de "surf" escolheu o silêncio, atitude esta que esteve também presente quando os professores e os seus sindicatos representativos, dessa vez sem razão, atacaram algumas reformas (aulas de substituição, avaliações credíveis, reforma das carreiras) que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, embora por vezes com alguma inabilidade política, tentava implementar para melhoria da escola pública. Foi também por esse silêncio que Seguro optou - qual período da História que, à boa maneira "estalinista", se pretende ver apagado - face ao período de governação de José Sócrates e tem sido quase também esse silêncio, aqui e ali quebrado a medo, quase em surdina, por uma ou outra crítica suave, a estratégia seguida por Seguro no relacionamento do seu partido com o Presidente da República, mesmo quando este não se coíbe de lhe bater "forte e feio". Digamos que um silêncio não comprometedor perante as questões concretas se transformou na sua "marca de água", preferindo optar por posições mais claras apenas em princípios de natureza suficientemente vaga e genérica e que, nas circunstâncias actuais, sabe pouco ou muito pouco dependem de qualquer governo de Portugal.
Claro que, prisioneiro que se tornou do seu silêncio, gostaria Seguro de o ter mantido face à greve dos professores, mas, instado a pronunciar-se, fê-lo igualmente pelo silêncio das palavras, optando por um inócuo apelo ao bom-senso e permitindo que o partido que dirige tivesse quase tantas posições face ao assunto como o número dos seus dirigentes com voz mediática, desde o "contra" radical do palavroso Assis, à simpatia da chamada ala socrática, passando pelo oportunismo e tremendo erro político de António Correia de Campos ao afirmar que os portugueses se iriam em massa revoltar contra os professores fortalecendo assim o governo.
É provável, é mesmo mais do que provável, que o silêncio leve António José Seguro ao lugar de primeiro-ministro. Mas para os que, como eu, acreditando na democracia liberal e representativa, se assumem como adversários do actual governo, ter como opção votar no silêncio de Seguro é quase suficiente para transformar qualquer sonho em pesadelo. Enfim, talvez entretanto acorde e se dê um não esperado milagre.
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