Independentemente dos méritos de gestora e relações públicas de Isabel Jonet, existem duas facetas fundamentais e independentes da sua presidente que estiveram na base do sucesso do Banco Alimentar Contra a Fome:
- Em primeiro lugar o facto da contribuição ser em géneros, em produtos alimentares, logo, destinados a combater a "fome" (cujo objectivo, aliás, está inscrito no próprio nome da instituição, reforçando o fim a que se destina), sempre tida, a par com a doença, como "o maior flagelo da humanidade". Ao contrário das contribuições em dinheiro, que podem ser aplicadas consoante a vontade ou as necessidades dos destinatários, neste caso o "dador" sabe, à partida, a que tipo de ajuda o seu donativo se irá destinar. Para além disso, existe na sociedade portuguesa (pelo menos, na portuguesa) uma tradição, muito judaico-cristã, assistencialista, da "sopa dos pobres" e de nojo ao dinheiro, não poucas vezes ligado à ideia que poderá ser gasto "na taberna" ou esbanjado sabe-se lá onde: vinho, jogo, mulheres, isto é, coisas ligadas ao vício pagão e não à virtude cristã. Isto para não falar dos "pobres ao cuidado de cada família", que nos batiam à porta com regularidade e aos quais de dava habitualmente como esmola roupa e comida. Assim existia a garantia da "genuinidade" da pobreza. Independentemente dos méritos da sua acção - que os tem - é toda esta tradição e valores que o Banco Alimentar recupera, adaptando-a à contemporaneidade.
- Depois, a metodologia utilizada, de recolha nos supermercados, locais de enorme concentração (por alguma razão políticos em campanha privilegiam mercados e feiras), com voluntários muito jovens e quase sempre em número excessivo face ao trabalho necessário, com pilhas de produtos doados colocados à porta já prontos para serem distribuídos, dá enorme visibilidade e um certo ar de "festa" à acção, potenciando a sua mediatização televisiva e quase "forçando" os cidadãos a contribuir (será uma quase vergonha se alguém não alinhar com a maioria numa causa tida por justa a altruísta). Digamos que, tal como as reuniões femininas definem o conceito "Tupperware" e fizeram o êxito da marca, é a recolha nos supermercados e o modo como é efectuada que definem o conceito "Banco Alimentar",a sua "uniqueness", e muito contribuíram para o sucesso da instituição. Pena que Isabel Jonet, que não foi a criadora do conceito mas terá tido a sua quota-parte de mérito no desenvolvimento da instituição, se sirva de uma marca de indiscutível sucesso e de meritória actividade para a sua militância política. Mas isso são já "outros quinhentos"...
Nota: os responsáveis pela comunicação do Banco Alimentar Contra a Fome fizeram este fim de semana um excelente trabalho, conseguindo minimizar os efeitos das (no mínimo) polémicas declarações anteriores de Isabel Jonet.
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