Existe uma clara diferença entre a alienação pelo Estado de empresas como a EDP a REN ou a ANA e a privatização da TAP e da RTP: nos dois últimos casos, embora de modo menos acentuado em relação à RTP, existe uma clara ligação emocional entre os portugueses e essas empresas, e no caso da TAP tal só encontrará talvez paralelo na relação que a maioria dos portugueses igualmente estabeleceu nos últimos anos com a selecção nacional de futebol. E se no caso da RTP a sua gestão tantas vezes política e as opções ideológicas de cada um - até porque uma televisão produz ideologia - ainda muitas vezes se sobrepõem e conseguem mesmo ultrapassar essa relação emocional, no caso da TAP, talvez porque demasiadas vezes vista como o pedaço de território nacional e o "porto de abrigo" em terra alheia e estranha, e até por vezes hostil, os portugueses sempre a consideraram como "sua", e é a partir dessa noção de posse que estabeleceram desde sempre a sua exigente relação com uma companhia aérea à qual sempre pediram a perfeição e nunca desculparam quaisquer falhas.
Significa isto que esse relacionamento emocional se deve sobrepor sempre à lógica económica e financeira quando da opção ou decisão de privatizar? Digamos que não totalmente. Mas há que ter em conta que a ligação dos cidadãos a um país (e do país com os seus cidadãos) se faz muito através da sua identificação com os símbolos e valores que o representam, e desse modo será sempre indispensável ter tal coisa em consideração antes e durante qualquer opção definitiva. E, para o bem e para o mal - e não tendo eu qualquer objecção de fundo quanto à sua privatização - a TAP, tal como a selecção nacional, conseguiu edificar-se como um desses símbolos, coisa que este ou qualquer outro governo não podem nem devem ignorar.
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