quinta-feira, dezembro 27, 2012

Artur Baptista da Silva e o sentido de humor do regime

Enfim... eu sei que o homem tem um registo digno de nota, até parece que já cumpriu pena por desfalque (ou falcatrua do género), mas será que é caso para a Procuradoria Geral da República "se meter ao barulho"? Será que a austeridade fez desaparecer o sentido de humor, o gosto pela pequena transgressão, a atracção pelo "charme" dos Arséne Lupin de ocasião? Estou a ver que sim, excepto àquele que deveria ser o mais acabrunhado de todos, o jornalista Nicolau Santos, mas que numa pequena nota de pedido de desculpas - no seu "mood & tone" - não deixa, contudo, e pela expressão utilizada ("fui mesmo embarretado"), de esboçar um quase-sorriso e aceitar, mesmo que apenas subliminarmente, ter-se deixado seduzir pelo "glamour" do galã Artur.  Era a única atitude inteligente que lhe restava? Talvez, mas por ter sabido manter o seu sentido de humor e ter conseguido discernir, numa situação para si incómoda e quase-limite, qual a resposta adequada, já merece o meu respeito.

A este propósito convém também lembrar aos mais novos, mas também aos mais esquecidos - que os há -, que nos idos de 70 (1973, 1971, para ser mais preciso), em plena "crise do petróleo", um grupo que incluía Mário ("Nicha") Araújo Cabral, o futuro "chef" Michel Costa, "Manecas" Mocelek e Jorge Correia de Campos se fez passar por um conjunto de dirigentes árabes ligados ao principal mentor da OPEP e enganaram bem enganado o jornalista do Século José Mensurado, tendo o jornal publicado notícia de primeira página com tal extraordinário exclusivo. Pois, estávamos em plena ditadura, vivíamos numa sociedade fechada, de um conservadorismo bafiento e tudo o que "cheirava" a transgressão, mesmo que vindo de alguns "playboys" do Portugal de então, era como que uma lufada de ar fresco numa época que já tresandava a fim de regime. Mas convém também lembrar que apesar dessa mesma ditadura, do conservadorismo e do regime não ver com bons olhos qualquer transgressão à modorra instituída, não consta o governo e os poderes oficiais tivessem pedido a cabeça dos "charmeurs" de ocasião e, excepto talvez o pobre do Mensurado (e se calhar até ele, embora não conste o sentido de humor fosse um dos seus activos), todos acabámos por rir a bom rir com um acontecimento que quebrou a monotonia do país provinciano da época. O que, claro, serve de exemplo para a única coisa saudável que devíamos fazer agora.

4 comentários:

Anónimo disse...

A PGR gosta de andar na ribalta sob a luz incandescente dos holofotes...que até podem emitir (a luz) em várias cores.

"Chamar-me burlão é fácil, aos burlões do BPN não chamam nada" ABS, dixit. E não é que o homem tem (mais do que) razão.

Cumprimentos

JC disse...

Enfim... terá pelo menos alguma. O caso BPN, pela sua gravidade e natureza dos implicados, não tem mesmo comparação possível.

Anónimo disse...

O caso dos "árabes" do Tavares foi em Fevereiro de 1971, não em 1973.

JC disse...

Obrigado pele correcção. Vou emendar no texto.