Pareceu-me sentir algum desconforto da maioria da cena mediática portuguesa face ao resultado de Sarkozy na primeira-volta das eleições francesas. Não por Sarkozy, lui-même, mas porque, de facto, Sarkozy é o candidato do governo português, aquele cuja vitória mais convém à ideologia e prática políticas actualmente dominantes na direita cá do sítio. Por isso, prefere-se colocar em destaque o resultado de Marine Le Pen, como se não se soubesse que nele está contido muito voto de protesto, anti-sistema e típico de uma primeira volta, voto esse criado exactamente pelas opções da política europeia dos últimos anos e da qual Merkel e Sarkozy são expoentes. E depois fazem-se contas estúpidas, somando os votos de esquerda, de um lado, e direita, do outro, como se a segunda volta, a dois, não se traduzisse em mais do que uma soma aritmética dos votos da primeira, e assim se concluir de imediato que Sarkozy sairá na frente. Se assim fosse, não seria necessária uma segunda-volta, bastando tal exercício matemático para se eleger o presidente, poupando-se tempo e dinheiro. Bem melhor fizeram os "media" franceses, realizando sondagens para determinar quais seriam as transferências de intenções de voto na eleição do próximo dia 6 de Maio.
Com a ressalva de que o rigor de sondagens para aferir as intenções de voto numa segunda-volta realizadas antes de uma primeira-volta e, principalmente, no dia dessa mesma primeira-volta deixará algo a desejar, o que é facto que até hoje nenhuma sondagem dá Sarkozy à frente, variando a vantagem de François Hollande entre 4 e 6 pontos percentuais. São pois estas - as sondagens sobre o resultado de dia 6 e sobre as possíveis transferências de voto - as únicas contas válidas para aferir como partem os candidatos para mais quinze dias de campanha e são elas que irão condicionar o seu comportamento. Hollande gostaria a segunda-volta fosse já amanhã, e tentará conservar a vantagem jogando na defensiva, isto é, ao centro, tendo garantidos à partida quase o pleno dos votos da esquerda (são as sondagens que o dizem). Sarkozy terá de recuperar o terreno perdido jogando à sua direita, onde, também segundo as sondagens, a transferência de voto não é tão avassaladora (na casa dos 60%). Mas ao fazê-lo poderá também perder alguns ao centro, terreno dos eleitores de Bayrou. Digamos que a posição de Hollande é bem mais confortável (só tem de não cometer erros), mas jogar ao ataque e à direita é o terreno de eleição de Sarkozy. Prognósticos? Esses só mesmo no fim do jogo.
2 comentários:
Excelente Post JC!
Thanks a lot.
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