O governo sabe, melhor do que ninguém, que em tempos em que se torna difícil reduzir ainda mais a despesa com as prestações sociais e sendo a saúde um assunto que está, normalmente, no topo das preocupações dos portugueses, só poderá reduzir a despesa pública de forma sustentada se diminuir a massa salarial da função pública e os pagamentos aos pensionistas. Como tal tem sempre também repercussões no que se passa no sector privado, a estratégia de empobrecimento e de redução dos salários dos portugueses, assumida pelo governo e pela UE, encontra aqui um terreno perfeito para se exprimir. Ora essa diminuição da massa salarial só pode ser feita, de modo eficaz, de duas maneiras: através de despedimentos, o que exclui os pensionistas, parece não ser constitucionalmente permitido, seria muito penalizador para o governo, mas permitiria uma reestruturação racional dos serviços e conservar os melhores trabalhadores, pagando-lhes um pouco melhor; ou através de uma redução pura e simples dos salários anuais, com o fim dos pagamento dos impropriamente chamados "subsídios".
Tendo sido esta última a opção do governo no curto-prazo, este prepara-se agora, tal como seria de prever, para a transformar em medida de longo-prazo. Para isso, irá optar por uma estratégia dupla: lançar uma cortina de fumo passando a pagar o ordenado anual em 12 prestações mensais - o que, como já expliquei neste "blog", até me parece ser positivo, quer para empregadores, quer para empregados, mas suspeito deixe hotelaria, turismo e comércio natalício à beira de um ataque de nervos; e escudado por essa cortina de fumo e com ela tentando uma manobra de diversão, proceder a uma efectiva redução dos salários anuais, adiando a integração dos 13º e 14º mês nas 12 novas prestações em muitos sectores e categoria profissionais da função pública e realizando-a apenas em alguns casos e à medida em que considere "existirem condições" para o fazer. Suspeito, em ano de eleições (2015), irá começar por fazê-lo, e apenas de modo parcial, para alguns pensionistas, ordenados mais baixos, talvez mesmo corporações com maior poder ou importância eleitoral, etc, etc. Isto é: à medida dos seus (governo) próprios interesses. Para já, em termos de gestão de expectativas, este anúncio não deixará de ter repercussões no comportamento actual dos portugueses, contribuindo para uma contracção da procura e o aprofundamento da recessão. Mas, muito francamente, estavam à espera de quê?
1 comentário:
Economia fala com o meu rapaz JC!
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