Na sua dissertação sobre a necessidade de rever o modelo social europeu, um eufemismo para dizer que se quer acabar com ele, coisa que constitui um dos objectivos-chave da actual vaga política ultra-liberal, Mario Draghi, Presidente do BCE, afirmou a dado passo: "observamos que o nível de desemprego é mais elevado nos países com um mercado de trabalho protegido". Duas questões:
- O desemprego é mesmo mais elevado nesses países em virtude do mercado de trabalho ser mais protegido ou existem neles outras condicionantes que, efectivamente, contribuam, de forma decisiva, para essa situação?
- Tendo actualmente Portugal a terceira taxa de desemprego mais elevada da UE e, ao contrário do que se faz crer, sendo, desde há muito, os despedimentos colectivos - os que são efectivamente importantes para a flexibilidade e reestruturação do tecido empresarial - relativamente fáceis (até há pouco tempo, talvez caros, mas fáceis), que terá Mario Draghi a dizer sobre o assunto? Provavelmente, como uma mentira mil vezes repetida tende a tornar-se em verdade absoluta, acha que o mercado de trabalho é rígido e que esse é o problema fundamental que está na base dos 15% de desemprego em Portugal. Sobre este assunto, para Mario Draghi não perder muito tempo, aconselho-o a ler o que diz Luciano Amaral (um homem de direita) sobre o assunto no pequeno livro de divulgação sobre a economia portuguesa que escreveu para a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
No fundo, Draghi faz-me lembrar aquele aprendiz de cientista que resolveu arrancar as asas a uma mosca e depois lhe ordenou mil vezes que voasse. Como, claro, a pobre mosca se recusava a obedecer, o nosso cientista-aprendiz logo concluiu: "mosca sem asas não ouve". Pois...
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