Um conselheiro de Estado nomeado pelo Presidente da República ser comentador político residente de uma estação televisiva é, já por si, uma originalidade muito portuguesa que, no mínimo, passa ao lado dos mais elementares critérios da ética. Ponto. Mas, muito francamente, não vejo que vantagens possa trazer ao líder do maior partido da oposição entrar em polémica directa e assumida com tal personagem. O adversário político fundamental de António José Seguro é, de facto, o primeiro-ministro e líder do maior partido da coligação governamental, e nunca um qualquer comentador político por muito que a audiência das suas homilias alcance níveis elevados. Assim, ao iniciar e assumir tal polémica, Seguro, quer queira, quer não, está, de facto, a valorizar o papel de Marcelo Rebelo de Sousa e a caucionar essa sua por demais conhecida e questionável noção de ética, além de que se permite jogar no terreno de eleição do visado.
Significa isto que o PS não deveria reagir ás afirmações do comentador da TVI e conselheiro de Estado? Nada disso, mas teria outra força política e seria bem mais consentâneo com os diferentes papéis que Seguro e Marcelo representam na vida política do país se o Partido Socialista assumisse uma reacção institucional em vez do seu secretário-geral assumir uma polémica individualizada que só o pode diminuir. E se nessa reacção institucional visasse também o comentador no ponto onde ele é mais fraco: a sua mais do que questionável noção do que é a ética democrática.
2 comentários:
Inteiramente de acordo, JC. A Política já não é o que era.
Deixa-me contar um pequeno episódio de que fui um dos protagonistas.
Há uns anos, PS e Conselho de Revolução entraram em divergência. Sousa e Castro, porta-voz do CR, "desancou" o PS, já não me lembro a que propósito, mas também é irrelevante.
O PS reuniu o seu Secretariado Nacional para responder. Uma jornalista do Gabinete de Imprensa do PS, hoje vedeta por aí, alertou-me para um comunicado do PS.
Estamos a falar de um período onde as tecnologias actuais de comunicação não estavam ainda disponíveis.
Fui de taxi para a rua da Emenda (onde era então a sede do PS) buscar o comunicado "passado" pela jornalista.
Na redacção da agência noticiosa onde trabalhava, verifiquei que o comunicado tinha sido manuscrito por Mário Soares.
Como não me tinha sido pedido qualquer reserva, foi isso mesmo que escrevi: "num comunicado manuscrito por Mário Soares, o PS...".
Foi o Carmo e a Trindade na rua da Emenda. É que o PS e o seu secretário-geral pretendiam manter a discussão ao nível institucional e não pessoalizá-la e eu, inadvertidamente, gorei o objectivo.
A jornalista do PS foi afastada...
Desculpa, JC, o tempo e espaço que te tomei, mas achei interessante esta maneira de estar na Política do PS de então e de a comparar com o PS de agora...
LT
Desculpa? Eu é que te agradeço esta tua contribuição tão a propósito.
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