O função fundamental do Estado e do governo que o dirige é fazer política - embora ainda exista muita gente que ache tal coisa um sacrilégio. Por isso, se um qualquer governo decide manter participações significativas ou exclusivas em alguma ou algumas empresas ou sectores da economia, tal significa que vê nessa sua presença interesse político. Não sendo um ultra-liberal, devo acrescentar que não tenho grande coisa a opor a tal presença, desde que restrito a algumas empresas ou sectores considerados estratégicos (e eles têm variado ao longo do tempo) e mantendo sempre o primado da livre iniciativa, devidamente regulamentada e regulada, no conjunto da sociedade. É assim que funcionam, e em regra geral bem, as democracias e sociedades mais prósperas e menos desiguais do mundo.
Portanto, se o governo tomou a decisão de não privatizar a Caixa Geral de Depósitos (e, na conjuntura actual, tal decisão tem o meu acordo), tal significa viu nisso interesse político, não sendo caso para estranhar ou sequer criticar que tenha utilizado o Banco como (digamos assim) seu braço armado para prosseguir, na OPA da Camargo Corrêa sobre a CIMPOR, aqueles que são, de momento, os seus interesses políticos fundamentais: realizar o valor dos activos que ainda dispõe em algumas empresas. A crítica que, neste caso, se pode fazer ao actual governo é, isso sim, bem outra: se não deveria ter levado às últimas consequências o seu tão apregoado liberalismo e, consequente e coerentemente, ter privatizado a CGD. Pois é, mas, com mais ou menos apelos ao liberalismo, a tentação é sempre demasiado grande e ao tal ulta-liberalismo aplica-se quase sempre a chamada lei do funil: larga para umas coisas, mas estreita para outras.
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