quinta-feira, junho 05, 2008

A sanção aplicada ao FCP em nada prejudica o futebol português: antes pelo contrário

Mais uma vez, vamos lá tentar ser claros: a condenação do FCP pela UEFA, tal como a do mesmo clube, União de Leiria e Boavista internamente, não desprestigia nem mancha a imagem do futebol português, tal como a condenação de Al Capone não manchou a imagem dos Estados Unidos: prestigiou-a. O que manchava a imagem e o prestígio do futebol português era, isso sim, a verificação de uma suspeição (ou muito mais do que isso) permanente sem que fosse possível determinar, isolar e punir os culpados e responsáveis, tal como o que manchava a imagem dos Estados Unidos era a impunidade de que gozavam a Máfia e o gangsterismo e não a sua condenação e erradicação. O que mancha a imagem e prejudica o futebol português é um regulamento que não permite que se punam os prevaricadores com a justiça que seria proporcional ao delito, e a necessidade de essa mesma justiça proporcional apenas poder ser feita através de uma instância internacional. O que manchava e desprestigiava a imagem dos Estados Unidos eram os negócios “para-legais” dirigidos por Capone, Bugsy Siegel ou Lucky Luciano, e o que os prestigiava eram homens como Henry Ford ou Franklin Delano Roosevelt, tal como o que desprestigia o futebol português é a existência, enquanto seus dirigentes, de personalidades como Pinto da Costa, Valentim e João Loureiro ou Vale e Azevedo (para falar só dos já disciplinar ou criminalmente punidos). Portanto, a sua condenação e afastamento apenas poderão representar qualidade e valor acrescido, prestígio e um passo em frente. Triste, apenas, que isso se fique a dever maioritariamente à UEFA, tal como muitas outras realizações do país nos últimos tempos se ficam a dever à União Europeia.

O que é, de facto, mais importante para o futebol português, para o crescimento e sustentabilidade em bases sólidas de uma indústria em crise financeira e de espectadores por via da má qualidade dos espectáculos e descrédito no seu funcionamento: os possíveis pontos que o FCP deixará de conquistar nas competições europeias – onde competia por via de classificações internas obtidas, agora comprovadamente, de modo irregular - ou uma indústria a funcionar em bases competitivas de igualdade, credíveis e sérias? Deixemo-nos, pois, de hipocrisias e reacções eivadas de corporativismo “bacoco” – doenças endémicas deste país obsoleto - como as que tenho visto vindas da parte dos chamados “homens do futebol”. Fazer justiça pelos meios legais não desprestigia nada nem ninguém, antes pelo contrário: é expressão saudável do funcionamento de uma sociedade democrática e livre, civilizada e progressiva. Não o fazer, varrendo o lixo para debaixo do tapete, envergonhadamente, ou deixando-o á solta nas ruas, é, ele sim, sintoma de doença endémica que apenas leva ao definhamento e decadência. Que levou o futebol português, enquanto indústria, ao beco da bancarrota e dos salários em atraso de onde não consegue sair.
Ainda bem que existe a União Europeia; ainda bem que existe a UEFA!

2 comentários:

gin-tonic disse...

Belo post, caro JC. Chama-se a isto colocar os pontos nos ii, pensar claro e judiciosamente sobre o desvario que por aí corre. Diga-se que a inteligência é sempre um prazer. A cereja no topo do bolo seria o Benfica, caso se mantenha a decisão de ontem da UEFA - e tenho sérias dúvidas sobre isso - declinasse, por esta via, a participação na pré-eliminatória da "Champions". Mas isso seria pedir demasiado aos rapazes que gerem os destinos do clube!

JC disse...

Obrigado, Gin-Tonic. E assino por baixo o que diz.
Abraço