sexta-feira, junho 20, 2008

Portugal perdeu com a Alemanha? Mas onde está a anormalidade?

Vamos lá a ver:

A selecção portuguesa perder 3-2 com a Alemanha, tri-campeã mundial e idem europeia, é a coisa mais natural do mundo; só não o será para a megalomania de alguns comentadores e jornalistas. Nunca Portugal ganhou quando ambas as equipas necessitavam de o fazer: ganhou 1-0 num jogo particular, 1-0 quando a Alemanha já estava apurada (qualificação do Mundial 86), 3-0 quando para Portugal era indiferente o resultado (Euro 2000) e isso permitia que entrasse descontraído, com a segunda equipa.

O poder físico-atlético (altura, peso, potência muscular, velocidade – por exemplo, Rooney e Tevez não sendo altos possuem elevado poder físico-atlético), por muito que Luís Freitas Lobo diga que com a bola “rente á relva” são todos iguais – não são -, ditou, como seria de esperar, a sorte do jogo: só isso permite a Podolski “cavalgar a linha” e centrar perante a passividade de Bosingwa e Pepe, no 1º golo, e a Schweinsteiger aparecer mais rápido que Paulo Ferreira a marcar, com a convicção de um ¾ perante a área de validação contrária. Idem para as bolas paradas (já agora, viram como a Alemanha não fez uma única falta em zona central, perigosa para a sua baliza, face ao perigo que Cristiano e Simão poderiam representar nesses lances?), mas vejamos: independentemente de questões mais técnicas, do tipo marcação “zona” ou “homem a homem”, a equipa portuguesa é demasiado baixa, e ninguém consegue ser campeão, hoje em dia, com uma equipa de tão baixa estatura, mais a mais com um guarda-redes com enormes deficiências nas saídas às bolas altas. Aliás, esse era também o problema, por exemplo, do tão elogiado Manuel Bento, tão visível nas competições europeias contra equipas que faziam dos cruzamentos para a área uma constante do seu jogo (Liverpool e Ian Rush são lembranças sempre presentes). No campeonato português não se joga assim, mas em contra-ataque, e, por isso, privilegiam-se guarda redes rápidos a saírem às bolas rasteiras. Por outro lado, o “pivot defensivo” e o "ponta de lança" são normalmente elementos essenciais no auxílio á defesa nas bolas paradas (Cardozo faz isso bem no Benfica). Ora a selecção portuguesa não o pode fazer com jogadores como Petit e Nuno Gomes. A equipa precisa pois, urgentemente, de crescer em altura e em poder físico-atlético fora do sector defensivo (Meira, Pelé e Hugo Almeida? Manuel Fernandes se finalmente ganhar a consistência de jogo que lhe tem faltado?), sem perder demasiado os seus princípios e modelo de jogo, e de arranjar um guarda-redes que preencha os requisitos mínimos para este tipo de competições a alto nível. Mas desde quando o não tem, apesar do sobrevalorizado Baía? Desde os tempos do apogeu de Vítor Damas?

Bom, apesar de tudo isto a selecção portuguesa, no Europeu, atingiu os ¼ de final em 96, as ½ finais em 2000, a final em 2004 e os ¼ de final este ano, para além das ½ finais no mundial de 2006. Na Europa, para além da Alemanha, França e Itália, conhecem alguém, nos últimos anos, consistentemente, melhor? Ou preferem a estrela cadente Grécia? Já se interrogaram, num intervalo da megalomania ou quando esta cede, mesmo que fugazmente, lugar à inteligência, se a selecção de um país como Portugal não terá atingindo os seus limites, o seu Princípio de Peter? É bom que o façam quanto antes, para que o desgosto os não mate.

2 comentários:

ié-ié disse...

Bom comentário, gostei. Para dizer a verdade, é-me indiferente a eliminação como seria o apuramento. Nem sequer vi o jogo. Mas ouvi hoje um comentário na rádio que acho que define tudo: "os portugueses jogaram para o contrato". Acho que está tudo dito.

A eliminação de Portugal tem a vantagem de trazer mais umas dores de cabeça a Sócrates. É que agora o povo deixou de estar "opiado".

LT

JC disse...

Mas, meu caro LT, não acho tenham jogado para o contrato. Nos últimos anos, foi a selecção portuguesa que vi a jogar mais colectivamente. E o Deco, que jogava mesmo para o contrato pois vai sair do Barça, foi o melhor, de longe. Temos que nos habituar mais a analisar e dar mais peso ao que se passa no campo (nas 4 linhas, como se diz em futebolês) e menos a atribuir as vitórias e derrotas a outros factores, desde a Srª de Caravagio, à ida de Scolari para o Chelsea ou
à novela Ronaldo. O que há de mais interessante no futebol são mesmo os diversos aspectos (tácticos, estratégicos, treino, etc) do jogo.
Abraço