sábado, junho 28, 2008

Coimbra e Faro: duas cidades pouco acolhedoras

Por questões profissionais tive de me deslocar esta semana a Coimbra e Faro, apenas com o intervalo de um dia. Penso que a Coimbra teria ido pela última vez há uns quatro ou cinco anos, num dia de Agosto em que a principal preocupação foi de como fugir aos 42º reinantes. No caso de Faro, desde que a “Via do Infante” me poupou ao sacrifício que por lá não passava, acho. Confesso nunca simpatizei com Coimbra e com o espírito coimbrão (LT, toda a gente tem defeitos, mas este não considero um dos meus – sorry – e há excepções na vida) e, para além de assistir por lá a alguns jogos do “glorioso”, só me lembro de a atravessar de passagem ou, uma ou outra vez, de por lá perder um par de horas para mostrar aos meus filhos o salazarento “Portugal dos Pequenitos”.

Pois confesso que esta visita me assustou um pouco (muito). Faro parece uma continuação, em versão urbana, da EN 125, arquitetonicamente desordenada e caótica com um estádio em adiantado estado de putrefacção plantado lá bem no meio da cidade (Christo não o pode embrulhar?). Na “baixa” de Coimbra, mal cuidada, com edifícios sujos e a caminhar para a ruína, juntam-se gente e carros a mais e um comércio entre o popular e o fora de moda, estilo “Armazéns Conde-Barão”. O resto da cidade, nada a distingue de um qualquer subúrbio de Lisboa: Amadora ou Porcalhota, Nova Oeiras ou Odivelas. Aqui, ao contrário do que acontece em Faro, salva-se o estádio onde a Académica (ou melhor, o seu presidente) quer deixar de jogar, um bom exemplo de integração urbana de um grande estádio de futebol.

São, hoje em dia, duas cidades pouco acolhedoras; dois (maus) exemplos de desordenamento e desagregação da paisagem urbana num país modificado por autarquias governadas, na sua maioria, por gente gananciosa e mal preparada, muitas vezes sem escrúpulos. Sempre de mau gosto. Enfim, um país cada vez mais feio.

5 comentários:

ié-ié disse...

Declaração de interesses: nasci em Coimbra em 1947, de lá saí em 1964. Não tenho família em Coimbra. Um dos dois meus grandes desgostos da vida é não ser licenciado pela Universidade Coimbra (o outro é ainda não ser avô). Sou fiel à Briosa (único clube que conheço!) até morrer!

Posto isto: como é bom de ver, vivi os meus primeiros anos de formação em Coimbra. Não sei o que é o "espírito coimbrão", mas cheira-me a insulto ou, para ser mais moderado, provocação.

Não contesto em absoluto a apreciação de Gato Maltês relativamente a Coimbra - eu próprio não conheço a Coimbra de hoje.

O que gostria de responder a Gato Maltês não cabe porém num "comentário", fá-lo-ei noutro forum.

Em todo o caso, e precisamente neste momento, acabo de encontrar os meus amigos de infância de Coimbra de há 40 anos. Estamos reunidos em http://cavalinhoselvagem.blogspot.com/.

Voltamos à velhissima questão do provinciano e do urbano? Espero que não!

Abraço amigo, é um prazer questionar consigo!

LT

ié-ié disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ié-ié disse...

Só mais uma "coisita": foi no "salazarento" "Portugal dos Pequenitos" que dei o primeiro beijo de adolescente à minha primeira namorada.

LT

JC disse...

Caro LT: Quanto ao "espírito coimbrão": insulto, nunca; provocação tb não. Urbano e provinciano? Lisboa é uma província! Apenas uma referência simplificada, mais ou menos sociológica, uma constatação de algo que posso classificar como um certo sentimento de superioridade cultural e intelectual, da mitificação de uma certa boémia estudantil e da maneira de viver a Universidade, do estatuto dominante do estudante face ao "futrica", à mistura com alguma negação de cosmopolitismo, um certo ambiente fechado sobre si mesmo, cuja explicação transcende o espaço e âmbito deste blog. Manuel Alegre é um bom exemplo do que chamo "espírito coimbrão".
Sim, eu sei que sou muito directo, mas, acima de tudo, "no hard feelings", meu caro!
Um abraço e bom convívio. Vou pôr o "cavalinho selvagem" nos meus favoritos.

JC disse...

Ah, e quanto ao "Portugal dos Pequenitos"... O sítio é mesmo salazarento, e v. sabe como ele nasceu e a ideologia que o moldou. Mas percebo que se presta adequadamente a "baisers volés", como são sempre os de adolescente mesmo quando consentidos. Mas não devemos deixar que a nostalgia nos tolde a racionalidade. Para isso cá estão o futebol e as paixões presentes!
Abraço