terça-feira, maio 01, 2007

Futilidades...

Pois se fim de semana prolongado é sempre coisa dada a futilidades, trivialidades do género, já vai sendo tempo de este blog lhes dedicar um post, sem que seja de um de Abril (é de Maio – as centrais sindicais que me perdoem) ou folia carnavalesca. É que se o presidente da minha câmara municipal foi para Staffordshire ver as motos (não sei, também, se comprar uns cãezinhos de loiça), o que acho de indiscutível bom gosto mas deixando a autarquia a ferro e fogo, do que já não se poderá dizer o mesmo, também eu, cidadão e munícipe, terei direito ao meu momento de indulgência numa preguiçosa tarde de 1 de Maio, esperando por reds e blues lá mais um pouco para a noite. Pois vamos lá então a isso, que tarde se começa a fazer.

Dizia uma das minhas avós, francesa de sangue e nascimento e portuguesa por casamento, nem sempre muito conformada com o ter que viver por aqui, que o que verdadeiramente distinguia a elegância de um homem eram os sapatos. É que bem poderia um qualquer “dito cujo” vestir um fato de corte e qualidade inquestionável - Gieves & Hawkes?, digo eu - camisa do “Turnbull & Asser", gravata na mesma linha e assim sucessivamente que nada disso disfarçava um par de sapatos de qualidade e gosto questionável, sujos e maltratados, menos clássicos também. Pior ainda, mesmo que de qualidade e gosto, inadequados ao que se vestia “para cima”. Olhava-se para os sapatos e pronto... Tudo estragado e sem possível remédio. Por outro lado, mesmo que o fato “puxasse” um pouco para o lado dos Fanqueiros (onde não sei se ainda existem e estarão por lá à venda) e o resto não fosse muito diferente, se os sapatos fossem “o que deveriam ser”, facilmente a falta de gosto ou de chic da restante indumentária, indubitavelmente, seria levada à conta de uma falta de meios momentânea, quiçá mesmo de um gesto blasé voluntariamente assumido. Sabedoria sábia! Conselho avisado que me tenho esforçado por cumprir.

O problema é que, por via do sábio conselho, tomei por hábito e vício olhar frequentemente para os pés dos meus estimáveis (estou a ser benevolente) concidadãos, e o que vejo muitas vezes me arrepia. E não me digam que só a falta de dinheiro é a causa, já que não pretendo ver nos pés de portugueses apenas John Lobb e Church, Alden ou Crockett & Jones ou assim sucessivamente. É que ele existe em Portugal muito bom sapatinho a bom preço, sendo apenas a questão o facto de saber procurá-los. É só e apenas mau gosto, ponto final. E a prova está no facto de facilmente concluirmos, se muitas vezes olharmos “para cima”, muitos euros se terão gasto em inutilidades face a sapatinhos, esses sim, de tão mau gosto e inadequação evidente. Mesmo de franzir o nariz. É pois o mau gosto! Só e apenas o “mau gosto”. O tal mau gosto - ou bom gosto - que dizem não se discutir, nunca percebi lá muito bem o porquê. Até porque, assim sendo e assumido, estaria muito próximo de ser a única coisa que se não discutiria aqui pelo rectângulo, terra de muita discussão e bem pouco menor decisão.
Pois cá fico então à espera se passe a discutir o gosto, que, já que hoje é 1º de Maio, diriam os descendentes de Karl Marx é uma questão de classe. Não estarei totalmente em desacordo, muito antes pelo contrário, mas talvez não exagere se sugerir a consideração da palavra em mais do que um dos seus significados. Entretanto, enquanto apenas criticarmos o mau gosto dos outros, a meia voz e surdina, mal eles viram as costas, lá irei continuando a olhar, com inusitada insistência, os pés dos meus fellow citizens. Quando o virem, assim já sabem porquê!

2 comentários:

Eurydice disse...

JC, às vezes fico surpreendida com estas coisas. :)
É que também eu tenho em alta conta a mensagem transmitida pelos sapatos de cada um. Nunca encontrei ninguém que reconhecesse ter a mesma opinião, tirando a mãe e a avó que me despertaram para esta realidade.
Penso que uns sapatos, mesmo que modestos, podem ser adequados e, por isso mesmo, revelarem bom gosto e inteligência. Só à excelente qualidade se pode permitir alguma ousadia, e a chave, o segredo, é realmente serem ADEQUADOS ao momento e à roupa. Para mim, pessoalmente, exijo também bem-estar, porque sou daquelas pessoas que não conseguem pensar se os pés estiverem sob tortura. Bem-estar e elegância... por isso o meu conceito de elegância rejeita os saltos-altos! ;)
Acho que este seu post me vai levar a um momento filosófico dedicado ao tema: e POR QUE é tão importante o sapato?... :)

JC disse...

Cara Castafiore:
Será por isso que em inglês se usa a expressão "to be in someone's shoes" para significar "estar na pele de alguém"?