Portugal é, ainda hoje, uma sociedade demasiado fechada, um país onde ainda se cultiva demasiado o secretismo e onde o estado e as suas instituições desconfiam à partida dos cidadãos e das suas capacidades. Onde ambos, estado e cidadãos, se olham frequentemente mais como inimigos do que como cooperantes, mesmo que, aqui e ali, conflituais nos seus objectivos e interesses. As elites desconfiam do povo porque o acham incapaz, iletrado e demasiado boçal - a “piolheira” do rei D. Carlos; o povo desconfia das elites porque considera que estas o desprezam e se mostram incapazes de desenvolverem o país, de lhe darem um rumo que permita a esse mesmo povo o progresso por que anseia. Isso acabou por criar nele um sentimento de inveja, uma sensação de injustiça face àqueles que progridem, progresso sempre visto mais como fruto de uma qualquer “trafulhice” do que como resultado de esforço e inteligência.
Esse secretismo e desconfiança reproduzem-se também ao nível de muitas empresas, internamente e na sua relação com os utilizadores dos serviços prestados, principalmente naquelas que no passado eram estatais ou detêm, ainda hoje, posições de quase monopólio ou de pouca transparência num mercado incipiente ou protegido (transportes, telecomunicações, energia, etc). Basta ter trabalhado em empresas de matriz anglo-saxónica para verificar como nelas tudo se passa de modo bastante diferente, internamente e na sua projecção para o exterior. É exactamente essa dicotomia de culturas e mentalidades que se expressa exemplarmente neste artigo do "Independent" (nota: não é um tablóide!) sobre o desaparecimento de Madeleine McCann e o modo de actuação da polícia portuguesa. Mais do que reacções xenófobas ou de virgens despeitadas, talvez fosse bem melhor tentarmos aprender algo com alguns bons exemplos alheios.
Esse secretismo e desconfiança reproduzem-se também ao nível de muitas empresas, internamente e na sua relação com os utilizadores dos serviços prestados, principalmente naquelas que no passado eram estatais ou detêm, ainda hoje, posições de quase monopólio ou de pouca transparência num mercado incipiente ou protegido (transportes, telecomunicações, energia, etc). Basta ter trabalhado em empresas de matriz anglo-saxónica para verificar como nelas tudo se passa de modo bastante diferente, internamente e na sua projecção para o exterior. É exactamente essa dicotomia de culturas e mentalidades que se expressa exemplarmente neste artigo do "Independent" (nota: não é um tablóide!) sobre o desaparecimento de Madeleine McCann e o modo de actuação da polícia portuguesa. Mais do que reacções xenófobas ou de virgens despeitadas, talvez fosse bem melhor tentarmos aprender algo com alguns bons exemplos alheios.
2 comentários:
Salvo erro, alguém especializado cá do burgo explicou precisamente isto: que a rotina estabelecida é demasiado morosa.
Claro que a falta de efectivos empurra para erros destes. Por exemplo, a minha casa foi objecto de duas tentativas de arrombamento com menos de seis meses de intervalo. A PSP, contactada, explicou que só estava autorizada a comparecer caso TIVESSEM REALMENTE ENTRADO dentro de casa, dada a falta de efectivos. Ora é muito provável que se pudessem recolher indícios no exame da porta e contribuir para uma maior segurança dos cidadãos. Para mim, é apenas mais um sinal de que este é um país de faz de conta: tudo se destina a parecer e não a ser!
Contudo, aposto que no fim disto tudo se vão culpar os operacionais e não a política inconsequente que despovoa as esquadras, mina a confiança na Polícia e retira a esta os meios necessários ao cumprimento da sua missão.
Cara Bianca:
Discordo num ponto: o problema, aqui como noutras áreas, em Portugal, não é falta ou escassez de meios. É o melhor e mais rigoroso aproveitamento dos meios disponíveis. É a organização, a gestão, a capacidade de liderança, a inovação,a mentalidade, etc. A escasssez de meios é uma desculpa esfarrapada e, muitas vezes, é mesmo um bom ponto de partida para obrigar a inovar.
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