"Doo Wop" (I)
Estou certo que a grande maioria dos leitores e ouvintes (sim, que isto dos blogs serve a vários sentidos), ao lerem a expressão, com uma vaga ressonância "onomatopeica", que encabeça este post, vai perguntar-se: “doo wop"?; mas que raio de coisa é essa? E terá razão, claro, pois o “doo wop” é um género musical, dentro da música popular, que teve muito pouca repercussão e foi quase desconhecido em Portugal e na Europa. No outro extremo da escala, lá virão os meus amigos e conhecidos dizer, mais uma vez, “pronto, lá vem ele com o “doo wop”! Razões para este quase desconhecimento? Não sei bem, mas talvez por se tratar de um género musical a “contra ciclo”, cujos anos de glória coincidem (imagine-se), na sua maior parte, com os do rock & roll e "derivados". A “contra ciclo”? Claro, porque o “doo wop” é harmonia vocal e melodia. Suavidade, onde o r&r era ritmo e trepidação. É classicismo onde o r&r era inovação. Estava do lado das convenções, enquanto o r&r as desafiava. Pronto, mas lá perguntarão vocês: “está bem, mas que raio é isso de “doo wop”? Bom, vamos lá tentar uma explicação, que a coisa não é simples. A expressão “doo wop” não é de facto uma onomatopeia, já que não pretende expressar por escrito nenhum som incapaz de ser transmitido por palavras, tal com “boom”, “schuaapp” ou “vrooom”. É, isso sim, qualquer coisa mais parecida com os bem conhecidos “lá, lá, lá” ou “oh, oh, oh, yééé”, sílabas cantadas que não têm qualquer significado real. Pretende, pois, imitar o som dessas sílabas cantadas por grupos de negros (os brancos, no entanto, também acabaram por aparecer por lá), normalmente quartetos ou quintetos, que interpretavam “à cappella” canções de, habitualmente, melodias suaves e em que a harmonia vocal era regra, portanto. Tinham nomes que, em 90% dos casos, os identificavam de imediato como “cultores” do género, tais como “Flamingos”, “Monotones”, “Moonglows”, “Cleftones”, “Cadillacs” e por aí fora. Tudo isto se passava maioritariamente na “East Coast” dos USA e diz aqui um dos meus CD’s (“Roots Of Doo Wop”), dos cerca de uma dúzia que por aqui existem, que talvez a primeira gravação assumidamente do género tenha sido “She’s Gone” dos Dozier Boys”, em 1949! No entanto, já antes disso grupos como os “Ink Spots” e os “Mills Brothers” faziam “coisas do género” e o período de ouro do “doo wop” situa-se basicamente entre 1953/54 e o início da década de sessenta. Em Portugal, aquilo de mais ou menos parecido que se tornou mais conhecido foram os “Platters”, do manager Buck Ram, que no entanto foram apenas uma versão mais comercializável de grupo vocal, já nas “margens” do "doo wop” autêntico. Os grupos multiplicaram-se como coelhos (ou devo dizer que cresceram como cogumelos?), já que o investimento necessário era escasso (a voz fazia quase tudo) e isso servia também, "às mil maravilhas”, a produtores e etiquetas, que se fartavam de poupar em orquestras e músicos de estúdio. Esclarecido o assunto, já que por aqui vamos ficar durante alguns tempos, por onde vamos começar? Não vou seguir uma ordem cronológica, neste caso sem um sentido especial, e comecemos pois por algo que é um bom exemplo do género: “(I'll Remember) In The Still Of The Night” dos “Five Satins” de Fred Parris, gravado em 1956 na cave de uma igreja católica de East Haven, Connecticut. É considerada uma das músicas que dá o nome ao “género”. Quer saber porquê? É só ouvir!!!
PS: Para ter uma ideia geral sobre música "Doo Wop", sem gastar muito dinheiro (gastando mesmo muito pouco), recomendo: "For Sentimental Reasons" - 28 doo-wop classics (Instant)
1 comentário:
Amigo, infelizmente, sou obrigada a discordar de parte da ótima narrativa:
"Claro, porque o “doo wop” é harmonia vocal e melodia. Suavidade, onde o r&r era ritmo e trepidação. É classicismo onde o r&r era inovação. Estava do lado das convenções, enquanto o r&r as desafiava."
Pois aí é que está, o Doo Wop consegue ser bastante debochado, rápido e anti-convencional, a voz do baixo e do tenorino são bem articuladas e quebram qualquer teoria de que são comerciais. Os Doowopeiros vieram der baixo e são ainda mais pobres que o pessoal do Blues, o guitarrista, o saxofonista, eles sequer tinha para comprar um instrumento. Eles estão presentes e muitos sons de Elvis, Buddy Holly, Fats Domino, Little Richard e etc.
E embora o Doo wop tenha tido seus anos dourados de 1954 a 1962, suas harmonias influenciaram grupos como beatles, Hollies, Herman`s Hermis, Mamas and the Papas e Beach Boys, além do Soul e Jovem Guarda.
E conferem uma legitimidade ao som dos anos 50 e 60, tanto que para soar como da época, deve-se recorrer a ele. Doo Wop tem a raiz tão negra quanto o Blues, R&B, Rock ou Soul.
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