Sou, desde há muitos anos, defensor em abstracto da privatização da TAP, não me parecendo existam, nas condições em que se tem vindo a transformar o transporte aéreo, razões de fundo para manter a TAP nas mãos do Estado. Isto, independentemente da possibilidade ou impossibilidade legal do Estado poder injectar dinheiros públicos na companhia ou de tal privatização fazer ou não parte do "Memorando de Entendimento", terreno por onde tem grassado a maior demagogia.
Mas tendo dito isto, e passando agora ao concreto, que é o que mais interessa, tenho as maiores reservas para com "esta" privatização, não só pelo péssimo registo de privatizações apresentado por este governo (na verdade, e maioritariamente, vendas ao Estado Chinês e à cleptocracia angolana de sectores estratégicos da economia nacional), como pelo perfil dos compradores que até ao momento se perfilam para a transportadora.
Face a este meu dilema, não vou, portanto, cerrar fileiras com os "falcões" do governo contra os sindicatos da TAP, que defendem, como aliás é legítimo e lhes compete, os seus postos e condições de trabalho. Mas também não irei "rasgar as vestes" pelos que juram e tresjuram pelo papel indispensável da TAP nas salvação da pátria ou da "portugalidade", seja lá o que isso for. Mas lá que olho com enorme desconfiança e criticismo para o que se está a passar, tal é coisa que não posso deixar de afirmar. Além do mais, parece-me o governo e os seus "falcões" mediáticos estarem a tentar transformar este assunto num braço de ferro ideológico, o que nada favorece uma decisão sensata e afasta aqueles, como é o meu caso, para quem a privatização da TAP nunca seria um campo de batalha. Mas claro que vendo aqui, na luta anti-sindical em que transformou o negócio da TAP, uma boa hipótese de vitória, o governo nunca hesitaria em travar esta batalha, mesmo que com o habitual recurso à demagogia mais rasteira do tipo "os emigrantes coitadinhos que não podem vir passar o Natal com os seus". Esqueceu-se o governo de quem os mandou emigrar.