Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quarta-feira, janeiro 31, 2007
A Igreja católica, o aborto e a intervenção política
Frederico García Lorca (7)
Lisboa...
Dizer que Lisboa precisa de uma estratégia (que actualmente não tem) coerente com o que queremos a cidade seja daqui a 20, 30 ou 50 anos não é nada de novo, claro. Pode mesmo passar por banalidade. E precisa de incluir nessa estratégia uma reorganização administrativa que acabe com as “não sei quantas freguesias” (algumas com poucas centenas de habitantes) e as substitua por uma dúzia de unidades territoriais homogéneas dotadas de maior autonomia e capacidade de acção e decisão (e responsabilidade, também). Mas também precisa, no curto prazo, de saber resolver os seus pequenos problemas do “dia a dia”, desde as armadilhas em que os passeios se transformaram, aos “cócós” de cão espalhados a esmo. Passando, também, pelos “ecopontos” transformados em lixeiras, os gatos vadios, a necessidade de recolha de lixo “separado” porta a porta, o estacionamento a esmo e por aí fora - posso apresentar uma lista completa. Quem não for capaz de resolver estes, e outros, pequenos problemas decerto não conseguirá resolver os mais graves, a exigir outro fôlego, outro prazo e uma situação financeira mais folgada. No curto prazo, Lisboa precisa, pois, de dignidade; a exigida à capital e maior cidade do país, mas que não é mais – e não nos esqueçamos disso – do que a 5ª ou 6ª do espaço ibérico.
Eleições? Sim, claro, mas apenas se o maior partido da actual oposição camarária souber construir, em conjunto ou isoladamente, uma alternativa credível e com condições para se tornar duradoura, dentro dos parâmetros acima descritos. Caso contrário... Estará o PS disposto a isso? Nessas condições, dificilmente arriscará uma derrota.
Milly Possoz e o "Estado Novo" (15)
terça-feira, janeiro 30, 2007
O referendo, a política e a moral
Em 1998, o PS, ao aceitar submeter a referendo a lei sobre o aborto, inviabilizando qualquer decisão futura que por aí não passasse (seria politicamente inaceitável alterar na AR uma decisão anteriormente referendada, vinculativa ou não, como pretende o PCP), permitiu, de facto, que resvalasse para o campo da moral e da religião aquilo que deveria ser, na sua essência, uma discussão política baseada em argumentos de ordem idêntica. Ao fazê-lo, sob a capa de algo aparentemente tão "democrático" como o recurso à democracia directa, está, isso sim, a contribuir, na prática e com esta sua acção, para o enfraquecimento do estado democrático, baseado no primado da política, na eleição representativa e na laicidade das suas instituições. É um caminho perigoso que esperemos acabe bem.
Grandes Séries (2)
Porque vou votar "SIM"
Existe demasiado ruído à volta da questão do aborto, o que dificulta que nos debrucemos sobre aquilo que na realidade é essencial, a questão-chave que determina todas as outras. E essa é uma questão política:
- A actual lei não é aplicada por demonstrar ser perfeitamente inadequada aos sentimentos gerais dominantes na sociedade. É uma lei que desprestigia a democracia e enfraquece a autoridade do estado.
- A mesma lei não impede o recurso ao aborto; apenas as empurra, consoante o seu estatuto económico-financeiro, para o aborto clandestino, na prática tolerado, em clínicas privadas que todos conhecemos ou realizado em condições degradantes e de risco agravado. Ou então no estrangeiro.
- É portanto uma solução socialmente injusta e que alimenta um sector florescente da economia paralela.
- A aprovação da lei proposta a referendo irá contribuir para diminuir os casos de aborto clandestino, diminuindo o risco da intervenção e ajudando a combater a economia paralela. E deixa á consideração de cada um aquilo que na verdade é uma questão de consciência, do foro íntimo dos que têm de decidir: a decisão de abortar.
segunda-feira, janeiro 29, 2007
William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (1)
Grandes Séries (1)
"Portrait Of A Marriage" (1990)
"The BBC's story of early 1900's writer and aristocrat, Vita Sackville-West and her marriage to British diplomat Harold Nicolson. Both Vita and Harold were attracted to members of the same sex. Vita is most well known for her liaison with Virginia Woolf; but the only affair that threaten to destroy Vita and Harold's amicable union was Vita's relationship with childhood friend Violet Keppel."
domingo, janeiro 28, 2007
VPV, os comentadores e o concurso da Srª D. Elisa
Estranho caso, este - acrescento eu -, de um país em que a maioria dos seus comentadores de referência não resiste a pronunciar-se e entrar no debate sobre um concurso de televisão idiota, sem qualquer representatividade e que se destina a realizar o impossível: eleger, no século XXI e em função dos seus valores e modelos, o melhor português de sempre, seja lá o que isso for. E que tal se voltassem à milionésima análise sobre as relações Cavaco /Sócrates?
Michel Platini e a UEFA
sábado, janeiro 27, 2007
Sábado, 27 de Janeiro de 2007
Why don't you ask him?
V:
You know, I don't see what there is to be cagey about, Mr. Marlowe. And I don't like your manners.
M:
Well, I'm not crazy about yours. I didn't ask to see you. I don't mind if you don't like my manners. I don't like them myself. They're pretty bad. I grieve over them long winter evenings. And I don't mind your ritzing me, or drinking your lunch out of a bottle, but don't waste your time trying to cross-examine me.
V:
People don't talk to me like that.
M:
Ohhh.
V:
Do you always think you can handle people like, uh, trained seals?
M:
Hmm, hmm. I usually get away with it, too.
V:
How nice for you.
V:
You go too far Marlowe.
M:
Those are harsh words to throw at a man, especially when he's walking out of your bedroom.
sexta-feira, janeiro 26, 2007
Outras Músicas (16)
quinta-feira, janeiro 25, 2007
História(s) da Música Popular (28)
Já os Cleftones nasceram para estas coisas no bairro novaiorquino de Queens (o tal assim chamado em homenagem a Dona Catarina de Bragança, mulher de Carlos II de Inglaterra), parece que em campanha eleitoral para a associação de estudantes do liceu local. “Heart And Soul” e “Little Girl Of Mine” foram os seus maiores êxitos, mas este "(I Love You) For Sentimental Reasons” é, em si mesmo, quase um resumo de intenções do “Doo Wop”. Aqui fica!
O Cardeal Patriarca hoje na RTP1
A presença do Cardeal Patriarca de Lisboa hoje na "Grande Entrevista" de Judite Sousa (na RTP 1, serviço público de televisão), a quinze dias do referendo sobre o aborto onde a Igreja Católica tem demonstrado não só ser parte interessada como manifestamente interveniente – e não se vislumbrando qualquer outra questão de actualidade que a justifique - vem colocar algumas questões interessantes e importantes:
- Em primeiro lugar que longe vão as intenções expressas por D. José Policarpo em deixar para os leigos o fundamental da discussão sobre o assunto; a hierarquia católica tem-se envolvido de forma bem directa na discussão, por vezes num tom demagógico ou até mesmo manifestando intenções persecutórias e inquisitoriais que se julgariam remetidas para a memória dos tempos. Estou certo não será esse o caso do Patriarca de Lisboa, personalidade de estatura cívica e intelectual insuspeita, mas seria bom ouvir-lhe uma palavra crítica sobre esses casos. Não discuto a legitimidade da Igreja para participar directamente na discussão (a sua rádio oficial assumiu mesmo uma posição e tem todo o direito de o fazer), mas apenas a não conformação com as intenções expressas, o que retirará aos bispos portugueses qualquer autoridade futura para criticar comportamentos semelhantes a personalidades de outras áreas (i.e. políticos).
- Em segundo lugar, tratando-se do serviço público de televisão, que deveria manter uma posição de neutralidade e independência e não sendo a Igreja Católica parte integrante de nenhum dos movimentos ou grupos de cidadãos legalizados (ou constituindo-se ela própria como tal), questiona-se a oportunidade e legitimidade da entrevista a quinze dias do referendo, concedendo aos partidários do “Não” um tempo de antena suplementar, ainda mais através daquele que é, de facto (pela posição que ocupa), a sua personalidade mais influente e destacada.
quarta-feira, janeiro 24, 2007
"Trivia": "dress code" e "teleponto"
Pois no “Público” de hoje (não "linkável", claro), Rui Ramos escreve sobre o QREN. Mas não, não é essa a trivialidade de que vou falar, até porque não só não o é como subscrevo, na generalidade – mais “coisa” menos “coisa” -, o que RR diz sobre o assunto. Vou, isso sim, falar de dress codes e “telepontos”. Trivialidades, pois claro, reconheço-o perfeitamente. E que têm RR e o QREN a ver com tudo isto? Bom... é que RR começa hoje assim o seu artigo: ...”O primeiro-ministro põe o seu melhor fato e o seu melhor “teleponto”, blá, blá blá...” e isso traz-me à memória não só que os portugueses escarnecem, em geral, dos dress codes como também o uso de teleponto, por parte de José Sócrates, foi repetidamente glosado em termos jocosos por uma boa parte da comunicação social, pelo menos no início do seu mandato. E mal! Ou seja, nem os portugueses têm razões para escarnecer dos dress codes nem a comunicação social para "gozar" com a utilização do “teleponto” por parte de José Sócrates. Ora senão vejamos, e vamos por partes.
Os dress codes estão, hoje em dia, bastante aligeirados, mas independentemente de questões práticas (não dá jeito nenhum ir para a praia de fato e gravata ou jogar ténis de sobretudo), eles têm permitido, ao longo dos anos, marcar a importância e solenidade dos acontecimentos. Vestimo-nos de modo mais formal para um casamento ou um enterro, por exemplo, porque são considerados, cada um de seu modo, acontecimentos únicos e solenes, e o próprio traje utilizado contribui para essa solenidade, conferindo-lhe, inclusivamente, um mood and tone adequados. Vestimos fato e gravata para trabalhar, em certas profissões, porque estamos num terreno de relações formais, mas se essa profissão se exercer numa área onde o relacionamento é mais informal (nas áreas “criativas”, por exemplo) o nosso dress code acompanha essa maior informalidade, dispensando o fato completo e gravata. Do mesmo modo, o dress code é mais conservador, e formal, na banca e na advocacia, porque estamos em terrenos tradicionalmente considerados mais “sérios”, onde os negócios têm a ver com o dinheiro e a liberdade (ou a sua restrição) e onde, por isso, devemos inspirar confiança e “solidez” e não “ir com a moda do momento”. Noutra vertente, é um valor assumido que a solenidade dos acontecimentos aumenta com o decorrer do dia, por isso, em termos gerais, é comum um dress code mais formal para um jantar do que para um almoço, o mesmo acontecendo para uma festa à noite se comparada com um cocktail ao fim da tarde. Isto são as questões de base que permitem entender os dress codes, não sendo aqui tempo e local para aprofundamentos e detalhes. Mas, voltando ao primeiro-ministro, se vestiu o seu melhor fato para a apresentação do QREN, fez muito bem, pois embora eu também duvide da eficácia do “dito” QREN, tratou-se seguramente de um momento importante para o governo e para o país.
Quanto ao “teleponto”, ele não é - longe disso - um método “para enganar o pagode”, fingindo que se fala de improviso quando, na realidade, se está a ler. Ou uma manifestação de impotência oratória. O “teleponto” permite, isso sim, que se fale com o rigor conferido por um texto, que está escrito, olhando de frente o público a quem nos dirigimos, o que aumenta a eficácia da comunicação. Permite, também, com alguma facilidade e pouco treino, combinar eficazmente o “à vontade” de um improviso com o rigor de um texto, melhorando assim a comunicação, e facilita a ligação dessa intervenção com a utilização de outros meios audiovisuais (música, slides, filmes, etc). Antes da sua existência e vulgarização, no “dia a dia”, a alternativa era ler um texto ou falar de improviso. No primeiro caso havia a tendência para o discurso; no segundo, ficava-se demasiado na dependência das qualidades de cada um, enquanto orador, e como o melhor improviso é o que foi bem treinado, do tempo disponível para as exercitar.
Dress code e “teleponto” têm assim algo em comum: ambos contribuem para conferir algum rigor e método à nossa vida, algo que, pelos vistos, não agrada lá muito a outros tantos portugueses.
Ainda Torres Novas...
terça-feira, janeiro 23, 2007
When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (13)
these women in this painting
seen so, deeply long agoModels he slept with
or lovers or others
he came uponcatching them as they were
back then
dreamt sleepers
on moving waters
eyes wide openpurple hair streaming
over alabaster bodiesin lavender currentsDark skein of hair blown back
from a darkened face
an arm flung out
a mouth half open
a hand
cupping its own breast
rapt dreamersor stoned realists
drifting motionless
lost sisters or
women-in-love
with themselves or others
pale bodies wrapt
in the night of women
lapt in light
in ground swells of
dreamt desire
dreamt delightStill strangers to us
yet not
strangersin that first night
in which we lose ourselves
And know each other
As Capas de Cândido Costa Pinto (24)
segunda-feira, janeiro 22, 2007
A propósito do julgamento de Torres Novas
Ainda o aborto
domingo, janeiro 21, 2007
História(s) da Música Popular (especial)
"To Have And To Have Not"
A dificuldade dos defensores do "Sim"
sábado, janeiro 20, 2007
Já que é fim de semana... falemos de futebol
sexta-feira, janeiro 19, 2007
Mª José Morgado e Paulo Portas
- Mª José Morgado pode ter participado na conferência do PS sobre o aborto como cidadã e jurista, embora as suas opiniões só tenham peso em razão das funções que ocupou e ocupa.
- Paulo Portas pode estar a aproveitar essa situação para a sua campanha em favor do “não” no referendo - contrária à minha - embora com a sua intervenção só tenha contribuído para dar uma maior divulgação às afirmações expressas por MJM, contrárias às opções de PP.
- Manda o mais elementar bom senso que MJM, em função das suas responsabilidades num processo tão importante e sensível como o “Apito Dourado”, reduza as suas intervenções públicas e mediáticas ao mínimo indispensável, e necessário apenas à correcta prossecução das suas actuais tarefas no processo em causa.
História(s) da Música Popular (27)
Se me perguntarem porque incluo aqui os “Dubs” (um grupo de vida curta vivida entre 1957 e 1958), não sendo um dos mais clássicos do "Doo Wop", a resposta só pode ser uma: porque gosto mesmo deste “Could This Be Magic”, um dos meus "Doo Wop" favourites. Pode ser? É uma fraqueza, reconheço! Os “Dubs” são um grupo maioritariamente sulista, do Alabama e das “Carolinas”. Apenas um dos elementos do grupo, Cleveland Still, era nova-iorquino.
Já os “Monotones” (um sexteto de Newark, New Jersey) são o típico “one hit wonder”, pois “(Who Wrote) The Book Of Love” foi o seu único sucesso, que os levou à fama e ao #5 do Billboard Hot 100 em 1958. Diz a lenda, ou a realidade destas coisas, que “Book Of Love” foi escrito inspirado no então jingle da Pepsodent “You’ll wonder where the yellow went”. Se o foi, não sei, mas é também um dos meus favoritos, num estilo um pouco mais “animado”... Pois aqui ficam os dois... for sentimental reasons.
quinta-feira, janeiro 18, 2007
Ridículo!
quarta-feira, janeiro 17, 2007
Ainda "The Flags Of Our Fathers" - mais Rui Ramos, o Vietnam e o Iraque
A interdependência entre estados, a velocidade de circulação de pessoas, bens e informação, a urbanização crescente tornando homogéneos os “estilos de vida” das nações e, mais tarde, a globalização, fazem desabar o nacionalismo como ideologia e tornam obsoletas as guerras entre nações. Por outro lado, o neo-colonialismo e a “influência” tornam as guerras coloniais resquícios de um passado distante, onde já não nos reconhecemos. A tecnologia, por outro lado, torna o custo das guerras globais incomportável e o das guerras locais difícil de suportar e de se justificar. Poucos já se reconhecem no nacionalismo, e ninguém pensa que as guerras possam melhor as suas vidas. Entretanto, o exército já não é o de “todo o povo”, mas o profissional, treinado e pago, por vezes visto como um corpo estranho pelos seus concidadãos. Por último, a guerra entra-nos em casa, em directo, sem a mediação de fotografias como a de Iwo Jima. Foi isto que mudou nos vinte e cinco e sessenta anos que medeiam entre a WWII e o Vietnam e o Iraque. Foi por isto, Rui Ramos, que falhou a glorificação da soldado Jessica Lynch, ou melhor, foi isto que tornou impossível essa mesma glorificação, como tornará agora qualquer outra semelhante. É também isto que tornará Iwo Jima e a fotografia do monte Suribachi irrepetíveis.
Sugestões da "saison" para melhorar Portugal
- Que tal tornar Sintra um principado independente? Claro que tinham de se redefinir as fronteiras, restringindo-as às zonas nobres e tirando de lá as “amadoras” que se foram criando, mas a ideia parece-me ter pés para andar. Punha-se o Senhor Dom Duarte no trono, havia o palácio de verão (o da vila) e o de inverno (o da Pena), já tem um festival de música, ressuscitava-se a “Rampa de Pena” e o Rally – mais o Grande Prémio ali ao lado no Estoril – pedia-se mais um casino ao Sr. Stanley Ho, emitiam-se uns selos com ilustrações de camélias (a flor oficial), dava-se ao Dr. Seara um clube de futebol para gerir (sem adeptos mas com dinheiro, como o do Mónaco) e fundar-se-ia uma empresa, imitando as municipais, do tipo "Societé des Bains de Mer" encarregue da gestão da coisa. Por fim, conceder-se-iam royal warrants a alguns produtos da região como as queijadas “Sapa”, o desaparecido vinho de Colares ou as “bolas de berlim” do “lá vou eu” da Praia Grande. Ah, e talvez se pudesse fazer “conde” aquele senhor Câmara Pereira, como reconhecimento de ter dado uma boa ajuda para nos vermos livres da Drª Edite. Ponto fraco do projecto: falta-nos a Grace, a Srª Dona Isabel que me desculpe e sem qualquer tipo de menosprezo, evidentemente. Mas talvez se conseguisse combinar um casamento a condizer para um dos Infantes... Que tal?
- E já que estamos no “que tal?”, que tal uma rede de restaurantes portugueses para combater as hamburger houses, pizzerias, croissanterias e quejandas? Ou também os bares de “tapas” não me vão agora acusar de iberismo, pois claro. Em regime de franchise, está bem de ver, com o estado como master franchise, nem vejo hipótese de ser de outra maneira. O layout e imagem seriam simples, assim decalcados daqueles restaurantes a que os portugueses chamam de regionais, com um balcão com beiral, chão de tijoleira, résteas de alhos e “chouriças” penduradas, azulejos com “dizeres” apropriados do tipo “cá em casa só se fia a maiores de 99 anos acompanhados pelos respectivos pais” (versão “saloia” do “in god we trust all the others pay cash”), toalhas e guardanapos de papel (obrigatório), canjeirões de vinho oxidado e o resto deixo à vossa imaginação, desde que as casa de banho estivessem sempre por limpar. E o que se serviria? Está bem de ver: umas "malgas" de sopa de feijão encarnado com couve portuguesa e massa “manga de capote”, sanduíches de torresmos, couratos com a “barba mal feita”, “miaus” com a maior percentagem possível de gordura e entrecosto com feijão. Quem não quisesse vinho poderia beber uma “mine” e como sobremesa o “molotof” que não é português mas é como se fosse: é como no tempo dos meus pais e avós se dizia dos indígenas das colónias que escreviam e falavam português: assimilado. Único digestivo autorizado: bagaço. E não haveria música de fundo nem "juke box", sendo o ruído proporcionado pelo barulho do lavar dos pratos, pela televisão ligada, bebés a chorar e animados jogos de matraquilhos. É começar. É começar. "Oh, simpáticos, vai um tirinho"?!
terça-feira, janeiro 16, 2007
Que modelo para Portugal?
História(s) da Música Popular (26)
segunda-feira, janeiro 15, 2007
As "Evasões" da TSF
domingo, janeiro 14, 2007
Os erros de José Mourinho
Dito isto, lembro-me de dizer, no círculo restrito dos meus amigos mais ligados a estas coisas da “bola” e quando os jornais discutiam as suas possíveis opções “Chelsea” ou “Liverpool”, que Mourinho tinha feito uma má escolha. Primeiro, porque o Chelsea é um clube sem “heritage”, sem a tradição e “cultura” de um Manchester United, Arsenal, Liverpool ou até mesmo de um Newcastle United, sem querer estar a ser exaustivo. Mesmo restringindo-me a Londres, o Chelsea será quando muito o terceiro clube, depois do Arsenal e Tottenham, ou talvez o quarto, se incluirmos o West Ham que eu conheço pior pois as minhas andanças londrinas nunca me levaram muito para os lados, demasiado excêntricos, de Upton Park. Ao escolher o Chelsea de Abrahamovich, Mourinho arriscaria a entrar numa “bolha” que poderia vir a rebentar cedo, por inchar demasiado. Por outro lado, devo dizer que desconfio do “dinheiro novo”, mais a mais - no caso - de origens mais do que duvidosas, normalmente ligado a modelos de gestão (não sei se posso chamá-los assim) demasiado pessoalizados e caprichosos, volúveis e erráticos, centralizados e dependentes de uma vontade mais do que de uma qualquer lógica. Tudo isto já se voltou contra Mourinho na “Champions League”, com algumas arbitragens um pouco duvidosas. Não pelo “efeito” José Mourinho, como a maioria dos jornais portugueses quiseram fazer crer com a sua proverbial magalomania de achar que Portugal é importante e quase o centro do mundo, mas pelo facto de ser o Chelsea de um tal Roman Abrahamovich. E este Abrahamovich será, com certeza, uma personalidade forte e dominante. Demasiado presente. Quanto tempo demorará até ela se chocar com a de José Mourinho?
Passando aos factos mais recentes, para agravar a situação parece que Mourinho decidiu abandonar aquele que era um dos princípios basilares do seu modelo de gestão, mantido, com as devidas distâncias orçamentais, no FCP e no Chelsea: contratar bons jogadores, para um determinado modelo de jogo, mas não as chamadas grandes estrelas. Depois, maximizar a sua performance, inculcando-lhe os seus princípios de jogo, à partida muito bem definidos. Se Ricardo Carvalho, Arjen Robben ou Didier Drogba, por exemplo, já eram jogadores reconhecidos internacionalmente, não eram estrelas de primeira grandeza do futebol mundial. O mesmo em relação a jogadores como John Terry e Frank Lampard. Com a contratação, forçada ou não, de Michael Ballack e Adreji Shevchenko, Mourinho transmite a ideia de ter abdicado desses princípios. Pela mesma razão, parece também ter posto de parte o seu conceito de grupo enquanto entidade orgânica, dotada de uma estrutura e com uma hierarquia de valores. Neste caso, é John Terry que a vem tentar repor, fora de campo, e de quem José Mourinho publicamente afirma espera também a tente repor dentro de campo. Todos estes factos enfraquecem a sua posição. O querer forçosamente ir ao mercado e mostrar-se publicamente agastado por não o poder fazer é sinal de desnorte. Back to the basics, seria um bom conselho.
"Flags of Our Fathers" (2)
sábado, janeiro 13, 2007
Francisco Louçã e a IVG
- Votarei sim, convictamente, no próximo referendo, como já o fiz em 1998.
- Sou de opinião que os Estado deve providenciar para que as mulheres que desejem abortar, dentro da lei, o possam fazer nos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde em condições idênticas, nomeadamente no que se refere ao seu custo, às disponibilizadas para outro tipo de intervenções. Só assim se poderá combater eficazmente o aborto clandestino.
- Considero que uma boa parte da argumentação que tem sido utilizada por alguns grupos de cidadãos defensores do “não” é demagógica e não coloca a discussão numa base séria e esclarecedora.
- Tendo dito isto, considero que o cidadão Bagão Félix (ou outro qualquer – cidadão ou movimento reconhecido) tem todo o direito de utilizar os meios financeiros que conseguir angariar, dentro das normas previstas na lei, para realizar a sua campanha, demagógica ou não, a favor do “não”. Como o têm, também, os cidadãos e movimentos pelo “sim”, onde me incluo - e parece que também Francisco Louçã.
- Mais ainda – e embora eu discorde frontalmente do cidadão Bagão Félix quanto ao argumento (que considero demagógico) dos custos das IVG’s realizadas dentro da lei - não me parece que exista qualquer incoerência entre ele utilizar dinheiro privado, que angaria, na defesa do “não” e defender a não utilização de financiamento público numa questão que tem a sua oposição de princípio.
- Com afirmações como as proferidas em Faro, Francisco Louçã está não só a pôr em causa princípios de liberdade do Estado Democrático, que diz defender, como a prejudicar objectivamente aquilo por que se diz bater: a vitória do “sim” no referendo do próximo dia 11 de Fevereiro.