quinta-feira, julho 31, 2014

Dois problemas-chave para Jorge Jesus e a SAD resolverem

Partindo do princípio Gaitán e Enzo Perez ficam no plantel (se tal não acontecer, as questões serão outras); Luisão, Jardel e Lisandro Lopez, que parecem ser as três principais opções para o eixo da defesa, irão recuperar rápido e tendo em atenção que o SLB não parece em condições de contratar um guarda-redes de qualidade claramente superior a Artur Moraes, que assuma a titularidade sem de modo inquestionável, Jorge Jesus e a SAD têm dois problemas-chave e urgentes para resolver:
  1. Quem vai assumir a posição "6", sabendo que Fejsa dificilmente voltará a jogar antes do início da 2ª volta do campeonato (e veremos em que condições). Como não me parece exista no plantel alguém com as características que o modelo de jogo de Jorge Jesus exige para a posição, o clube terá de contratar alguém (por empréstimo?, através de um fundo?) que possa entrar "de caras" na equipa.
  2. Como vai ser constituída a dupla de "pontas de lança", o que parece significar "quem irá assumir o papel de Rodrigo". Cardozo é inútil e Derley, independentemente daquilo que ainda tem que provar, parece ser bem mais uma alternativa a Lima. O mais parecido com Rodrigo será Franco Jara, mas é irregular e demasiadas vezes inconsequente. Resta Gaitán, o que implica manter o modelo mas mudar alguns princípios de jogo: Rodrigo é um "sprinter", que desse modo criava desequilíbrios, e Gaitán  é um driblador e um "pensador" de jogo. Jorge Jesus pode, em alternativa, mudar o sistema e passar a jogar apenas com um "ponta de lança",optando por mais um médio, mas não só este não é o seu modelo preferencial, como implica mudar demasiadas coisas. Veremos. 

"Westerns" em Agosto (1)

"Giù la Testa" (aka "Once Upon a Time in the Revolution"), de Sergio Leone
Filme completo c/ legendas em português

Nota: até dia 3 de Setembro, e em substituição da sua habitual programação de cinema, este "blog" preencherá esse espaço, às quintas, sábados e domingos à tarde, com um ciclo dedicado ao "western". Divirtam-se

domingo, julho 27, 2014

Walk On By - The Story Of Popular Song (2/23)

1º Episódio - From Russia With Love (2/4)
BBC - 2001

Seguro e a TAP

António José Seguro opõe-se à privatização da TAP e propõe como alternativa a venda de 50% da transportadora a capitais oriundos dos países da lusofonia, citando especificamente Angola, Moçambique e o Brasil (ter-se-à esquecido da Guiné Equatorial). O que se esqueceu de explicar foram: 
  1. As razões que tornariam interessante para esses capitais a compra de 50% da TAP e por que razão o Estado português deveria optar por essa solução e não por quaisquer outros eventuais interessados ou pela alienação da totalidade do capital da companhia aérea.
  2. Se considera que em Angola e Moçambique existem capitais privados. Por exemplo, se considera os investimentos angolanos, e, já agora, também chineses, em Portugal investimentos privados. Caso os não considere, e como, segundo a sua proposta, 50% do capital continuaria na posse do Estado, deveria esclarecer se preferia subordinar os interesses da TAP e do Estado português aos interesses dos governos de Angola e Moçambique em vez de abrir o seu capital a privados.
  3. Por último, se acha que mesmo com 50% do capital (partindo o princípio que alguém aceitaria um partilha deste tipo) mas com parceiros com o poder de Angola e Brasil o Estado português teria peso suficiente na parceria para decidir fosse o que fosse. Parece que ainda não percebeu o que se passa na CPLP.
Claro que António José Seguro não pensou em nada disto e se limitou a dizer uns disparates que acha serem populares e pensa lhe poderão angariar alguma simpatia na batalha que trava contra António Costa. Mas parece que os jornalista não perceberam isso e se esqueceram de lhe fazer algumas perguntas. Foi pena.

Matiné de Domingo (75)


"She", de Robert Day (1965)
Filme completo c/ legendas em português

sexta-feira, julho 25, 2014

Friday midnight movie (98) - Gothic/Horror (XXVIII)


"Werewolf of London", de Stuart Walker (1935)
Filme completo c/ legendas em castelhano

O que bancos e banqueiros deviam saber mas tem andado esquecido

Uma coisa espero todos - mas todos, banqueiros e restantes cidadãos - tenhamos aprendido nestes últimos anos: para defesa também de todos, banqueiro não é para se deixar fotografar para revistas "cor de rosa", tornar-se vedeta mediática, "mandar" soundbites e "dicas" públicas sobre a vida política, ser visto à entrada e saída de reuniões com governantes, dar entrevistas a propósito de tudo e de nada ou financiar e promover biografias "autorizadas" enquanto não estiver reformado há pelo menos dez anos. De preferência, banqueiro deve mesmo ser alguém cujo nome é desconhecido para 99% dos cidadãos que confiadamente lhe entregam o seu dinheiro. 

Pelo contrário, banqueiro é mesmo para usar fato de jaquetão às riscas, ser escasso nas suas aparições públicas, sóbrio e contido naquilo que diz (e sempre que possível ficar calado), gerir o nosso dinheiro com discrição, tratar de influenciar a vida política nos bastidores, dedicar-se à sua família numerosa nas horas vagas e ter actividade reconhecida, mas discreta, muito discreta, de benemerência ou patrocínio das artes e do património. E , já agora, os bancos locais que projectem uma imagem de algum decoro, e onde entremos com respeito e confiança, e não instituições pintadas de cores berrantes e que continuamente nos "assaltem", nas suas instalações ou pelo telefone, como o faria qualquer vendedor de "banha da cobra". Uma espécie de cura aristocrática, ao bom e velho estilo back to the basics, seria com certeza muito bem-vinda. Fica o conselho.

quinta-feira, julho 24, 2014

Ricardo Salgado: investigação ou propaganda?

Pelos seus contornos, pela oportunidade escolhida, pelo modo como foi anunciada e pelo "media" escolhido para o fazer ("Correio da Manhã"), a detenção de hoje de Ricardo Salgado e a sua constituição como arguido mais parece assemelhar-se a uma enorme operação de propaganda do Ministério Público para acalmar qualquer eventual ira popular e "prestigiar" a Justiça do que uma acção tendo na sua base a vontade clara e inequívoca de investigar, apurar e eventualmente fazer prova de quaisquer ilícitos criminais alegadamente cometidos. Veremos o que o futuro nos reserva, mas bem gostaria de estar errado.

Uma detenção oportuna?

Em Portugal, banqueiros e presidentes de grandes clubes de futebol parecem ser apenas detidos depois de, por quaisquer outras razões, terem caído em desgraça. Foi assim com Vale e Azevedo, posteriormente julgado e condenado, é certo - e não duvido, por um momento que seja, da justiça de tal condenação -, mas que parece também estar por aí para ser convenientemente apontado como exemplo justicialista à populaça. Calhou agora a vez de Ricardo Salgado, convenientemente, só depois do escândalo GES ter rebentado, sem que o que digo signifique, nem de perto nem de longe, qualquer defesa ou sugestão de defesa do banqueiro: a justiça que siga o seu curso dentro da lei e dos limites definidos pelos direitos, liberdades e garantias. Mas que, independentemente das responsabilidades ou eventuais ilícitos criminais cometidos pelo ex-presidente do BES, a sua detenção parece pecar por um oportunismo "déjà vu", lá isso...

quarta-feira, julho 23, 2014

A pré-época do SLB: dos emprestados e da formação.

  1. Só uma pergunta: que interesse há a pôr a jogar gente emprestada como Sidnei, Jara, Nelson Oliveira, etc, que sabemos à partida não vão ficar no plantel e que a equipa técnica obrigatoriamente acompanhou e avaliou durante a época?
  2. João Cancelo? Um treinador até pode ensinar alguém pouco dotado, coisa que Cancelo não é, a jogar futebol. Mas quando o cérebro não ajuda, e aqui já é o caso de Cancelo, pouco há a fazer. Será que Cancelo alguma vez vai entender o que é uma equipa de futebol e o que deve fazer em cada situação do jogo? 
  3. Cancelo, Bernardo, Ivan Cavaleiro? A formação do meu clube e o investimento no Seixal têm de valer mais do que isto. Enfim, talvez João Teixeira venha a tornar-se um "8" interessante. Um "6" não me parece.

4ªs feiras, 18.15h (88) - "Noir" (XII)



"The Woman in the Window", de Fritz Lang (1944)
Filme completo c/ legendas em português

Billboard #1s by British Artists - 1962/70 (21)

The Beatles - "Yesterday" (09-09-1965)

terça-feira, julho 22, 2014

Homenagem a Gerry Goffin (1939 - 2014) - My favourite Goffin & King songs (4)

The Cookies - "Chains" (1962)

O SLB, a situação actual e os fundos de jogadores

Tem sido frequente, nos últimos dias, o jornalismo desportivo referir a crise do GES/BES como explicação para a necessidade do SLB vender os passes de tantos dos seus jogadores mais credenciados. Não negando isso possa ter alguma influência no envolvimento do banco em novas operações financeiras ou na renegociação/restruturação de algumas já existentes, não me parece, estando de fora, ser esse o problema principal. Mas o jornalismo desportivo, se em termos gerais já percebe pouco de "bola" (há excepções e já tenho elogiado o esforço de alguns programas da RTP Info), quando se mete por assuntos das áreas de gestão e financeira de imediato "derrapa nas subidas". Mas vejamos.

A crise do crédito bancário não nasceu com os problemas do BES: é uma realidade dos últimos anos. Por outro lado, o SLB e outros clubes portugueses atingiram também neste últimos anos o seu limite de endividamento, sendo portanto impossível ou suicidário continuarem a financiar-se por essa via. Acresce que um dos importantes financiadores habituais dos clubes - Olivedesportos/Controlinveste - actuando tantas vezes como financiador de último recurso, atravessa também ele uma crise com alguma gravidade, para além do SLB ter também decidido pôr fim à parceria existente o que também terá contribuído para os problemas que o grupo de Joaquim Oliveira possa estar a atravessar. Exactamente por isso, o recurso aos fundos de jogadores foi a solução encontrada. Disse-o aqui, a capacidade para o SLB se movimentar nessa área, com ligações mais ou menos evidentes a empresários como Jorge Mendes (ou outros), terá sido talvez a principal razão para o sucesso alcançado na última época e para a melhoria evidente dos resultados desportivos dos últimos anos. Ora quem investe num fundo, seja ele qual for, fá-lo para ganhar dinheiro, e, neste caso, para reaver o capital investido e realizar as mais-valias esperadas terá que transaccionar o passe dos jogadores que o integram, estando o clube dependente da vontade dos seus parceiros de negócio. Mais, para maximizar os seus proveitos terá que "vender" na altura certa, quando os jogadores estão valorizados, o que, no caso do SLB, resulta da excelente época de 2013/14 realizada. Neste ponto, Jorge Jesus tem de facto razão: o SLB está a pagar o preço do sucesso recente. Parece-me ser fundamentalmente isto o que está em causa e, não nos iludamos, conseguir colmatar as vagas criadas dependerá muito do clube continuar a ser bem sucedido nesta área, onde a concorrência parece ser cada vez maior.

Mas pergunta-se: então e a formação, não pode o SLB recorrer a ela? Bom, o sucesso da política baseada no acesso aos investidores e aos fundos de jogadores tem também a sua contrapartida nesta área: o SLB está sujeito, também aqui e em certa medida, à vontade dos seus parceiros de negócio, isto é, aos jogadores nos quais todas as partes envolvidas pretendam investir; não é, portanto, soberano. E não nos iludamos: para além de nomes como João Cancelo (que me parece ser o de maior potencial), João Teixeira e Bernardo Silva, terem ainda de provar ter capacidade para "dar o salto", o negócio André Gomes prefigura o que poderá acontecer no futuro com os melhores jogadores oriundos da formação: serem integrados em fundos, com o clube a receber de imediato a respectiva compensação financeira, e verem os respectivos direitos desportivos transaccionados bem cedo. 

Enfim, tudo isto é positivo, negativo, dispensável, indispensável? Haverá alternativa? Há sempre alternativa, melhor ou pior, mas este é actualmente o quadro no qual o meu clube terá de saber movimentar-se, mesmo que a prazo dele queira sair. É este o desafio que terá de enfrentar para aprofundar o sucesso desportivo já conseguido nos últimos anos.

segunda-feira, julho 21, 2014

Duane Eddy & Sandy Nelson (3)

Duane Eddy - "Cannonball" (Outubro de 1958)

O jornal "i" e as despesas de Alberto João Jardim

Seria com certeza uma das últimas pessoas do mundo a vir em defesa de Alberto João Jardim e também uma das primeiras a gostar de vê-lo pelas costas - e rapidamente. Mas perante esta notícia apetece-me perguntar ao jornalista seu autor: sendo a Madeira um região que vive essencialmente do turismo, já se interrogou, mesmo apesar das tristes figuras a que Alberto João se permite e dos seus habituais investimentos(?) estapafúrdios, sobre qualquer eventual impacto positivo que estas despesas possam ter na economia da região? Não, não estou a afirmar isso assim aconteça nem, muito menos, a defender a eficácia de tais investimentos ou a figura e acção política do "gauleiter" madeirense, mas antes de "escarrapachar" em título de jornal um custo de muitos milhões de euros, o que é sempre impactuante no desporto nacional em que se tornou a "caça ao político, não seria melhor ir um pouco mais longe na análise da eficácia da acção politica e no custo-benefício de cada investimento? É que depois de efectuada essa análise até talvez possa vir a dar razão ao autor da notícia e a penalizar o execrável Alberto João. Assim...

Cavaco e o BES

Não me parecendo estas afirmações de Cavaco Silva acrescentem o que quer que seja à confiança que os portugueses possam depositar no BES, elas justificam-se apenas por uma razão: Cavaco Silva vem a terreiro em defesa dos seus e, por extensão, de si mesmo: Vítor Bento é seu Conselheiro de Estado e Carlos Costa foi uma espécie de cúmplice numa também espécie de conspiração contra o governo de José Sócrates. Ok, defender-se a si e aos amigos fica sempre bem, mas a política é outra coisa; e, não tendo qualquer eficácia para a confiança dos cidadãos no sistema bancário, não me parece esta intervenção do Presidente da República lhe traga também quaisquer benefícios: se tudo correr bem ninguém se lembrará dela, mas se alguma coisa, por pequena que seja, correr menos bem, ninguém deixará de lhe chamar à atenção pelo seu envolvimento - e, já agora, virá de novo à boca de cena o seu negócio com as acções do BPN.

sexta-feira, julho 18, 2014

Friday midnight movie (97) - Sci-Fi (XVII)


"Creature with the Atom Brain", de Edward L. Cahn (1955)
Filme completo c/ legendas em castelhano

Fats Domino & Imperial Records (7)

"All By Myself" - Imperial 5357 (Setembro de 1955)

Morrer pela Ucrânia?

O Ocidente, ou seja, nós, que nos seus valores e modo de vida genericamente nele nos reconhecemos, desafiou a Rússia pensando que poderia fazer entrar a NATO e a UE de supetão pela sua "porta das traseiras". Levou, deste modo, o desafio demasiado longe, sem prever ou importar-se demasiado com as consequências desde que estas fossem limitadas a uns ucranianos desavindos numa zona que todos somos levados a considerar demasiado longínqua e talvez pouco civilizada. Agora, choque e espanto: concluímos, quando as consequências já nos atingem directamente e causam a morte a mais de duas centenas dos nossos, que brincámos de "aprendizes de feiticeiro". Ou então, pura a simplesmente, não concluímos coisa nenhuma e consideramos apenas estarmos na presença dos inevitáveis "danos colaterais". Mas não se iludam: ninguém, no Ocidente, está nem nunca esteve disposto a morrer pela Ucrânia. 

quarta-feira, julho 16, 2014

4ªs feiras, 18.15h (87) - Bergman (V)

"Sommaren med Monika" (aka "Mónica e o Desejo") - 1953 
Filme completo c/ legendas em português

Big Maybelle - The Okeh sessions (5)

"Please Stay Away From My Sam" (gravação de 29-10-1952)

O mercado de transferências e as pitonisas da "bola"

Quem lê e ouve os jornalistas e comentadores desportivos facilmente conclui, a mês e meio do fecho do mercado, nem sequer valer a pena começar o campeonato: o FCP, endividando-se por todos os poros a Jorge Mendes para evitar o bi-campeonato do SLB, será campeão, o SCP, mantendo a estrutura da época passada, será 2º classificado e ao "Glorioso" nada mais restará senão um envergonhado 3º lugar. Enfim... Talvez esta gente seja a mesma que achava, depois do acontecido na final da Taça de 2012/13, a Jorge Jesus e Cardozo nada mais restava senão a porta de saída; Luisão, depois do encontrão ao árbitro alemão na pré-época anterior, teria de deixar, no mínimo, de ser o capitão da equipa; sem Javi Garcia e Witsel o SLB estaria condenado ao insucesso e, por fim, terá sido esta mesma gente que prognosticou o SCP de Godinho Lopes, com aquela enorme lista de nomes sonantes contratados, seria um forte candidato ao título - e assim sucessivamente. Felizmente para o meu clube e infelizmente para o nosso velho e respeitado rival de Alvalade, como sabem, nada disso se confirmou (o SCP realizou mesmo uma excelente época apenas quando mudou de estratégia), o que lança a reputação desta espécie de pitonisas de trazer por casa para as ruas da amargura.

Já agora, várias perguntas: quem conhecia Matic, que actuava nas reservas do Chelsea, antes da sua afirmação como grande jogador no SLB? E David Luiz? E Oblak, sujeito à "via sacra" dos empréstimos? E quantos prognosticaram, depois de uma clara inadaptação que o fez regressar à Argentina, o sucesso de Enzo Perez como nº "8", que o levou mesmo a disputar uma final do Mundial pela sua selecção? Lembram-se em que clube Fábio Coentrão passou de um extremo sem grande sucesso a defesa-esquerdo contratado pelo Real Madrid. E quanto tempo demorou Di Maria a tornar-se titular do SLB e, depois, a transferir-se para o Real Madrid e a tornar-se uma estrela do futebol mundial? E também ainda se lembram de um Rodrigo, primeiro, emprestado sem grande sucesso ao Bolton Wanderers e, depois, arrastando-se como suplente do SLB? Ah, e Fejsa, para quem anda esquecido, era suplente no Olympiakos, não é assim?

Enfim, querem que continue ou diga já à administração do meu clube que é bem melhor ir jogar a Liga da Patagónia?

terça-feira, julho 15, 2014

Motor City (21)

"Singin'" Sammy Ward - "That Child Is Really Wild"/"Who's The Fool" (Setembro de 1960)

O mundial coreano ou o vídeo "viral".

A Coreia do Norte e o seu regime são o que são e parece apenas o PCP ter dúvidas sobre o que lá se passa. Para quem quiser ter um conhecimento um pouco mais próximo recomendo o excelente livro de José Luís Peixoto sobre a sua visita ao país dos "Grandes e Queridos Líderes". Lê-se bem, é objectivo e tem um bom preço; um misto de leitura política e de viagens ideal, sem qualquer menosprezo mas antes como um elogio, para estes fins de tarde quentes de Verão.  

Mas a que propósito vem isto? Bom, o que me espanta é que existindo já informação suficiente sobre o regime norte-coreano (execrável, sanguinário e tudo o que lhe possamos apontar - e eu acrescentaria ainda muito mais coisas negativas), e apesar das suas facetas de ópera cómica (embora quem lá viva não lhes deva achar graça nenhuma), ainda exista gente instruída e com responsabilidades governativas e de gestão nas sociedades democráticas e ocidentais, incluindo em Portugal, capaz de acreditar, nem que seja apenas por um momento, na autenticidade daquele vídeo sobre uma inventada final do Mundial entre a Coreia do Norte e Portugal.Tal diz tudo sobre o primarismo e ausência de formação política, à mistura com um voluntarismo ultra-radical, de muita gente da geração que actualmente nos governa e/ou ocupa os lugares de poder. Mais ainda, ajuda a transformar o inenarrável e perigoso regime norte-coreano, que começa por oprimir insuportavelmente os seus cidadãos, numa caricatura, quase num país de banda desenhada, numa espécie de Bordúria ou de Sildávia, uma excentricidade que não será para levar muito a sério e apenas serve para nos fazer rir de vez em quando. Uma tristeza...   

segunda-feira, julho 14, 2014

Tarzan pulp (1)

Capa de Clinton Pettee (Outubro de 1912)

E substituir Oblak?

Não sei quem o meu clube irá contratar para substituir Jan Oblak, mas dadas as circunstâncias e a empatia existente entre o esloveno e os adeptos, recomendaria uma opção de baixo ou nenhum risco, o que significa, se possível, um guarda-redes experiente e testado em equipas de primeira linha do futebol europeu, mesmo que já a aproximar-se do fim da carreira. Podemos chamar-lhe uma espécie de solução Michel Preud'homme, se quisermos. 

Sobretudo, não "embarcar" no "encanto" de um daqueles guarda-redes que mais deram nas vistas no Mundial, "brilhando" em equipas com poucas ou quase nenhumas ambições quando, sendo estas submetidas a intenso domínio, pareciam praticamente intransponíveis. Esta é uma daquelas circunstâncias em que a administração do SLB não pode falhar.

The Satellite/Stax records story (31)

Rufus Thomas - "It's Aw'rite" (24 de Agosto de 1962)

E no fim?... Ganhou mesmo a melhor equipa, que até foi a Alemanha

A Argentina deu ontem uma lição táctica de como se deve jogar contra esta Alemanha: "bloco" baixo, linhas juntas, fecho de todo e qualquer espaço e saídas rápidas a jogar, neste caso através da rapidez e técnica de Messi e Lavezzi, principalmente, com a sua capacidade de aceleração com a bola colada aos pés e superioridade no "um para um". Foi isso que Portugal deveria ter feito, neste caso aproveitando a capacidade de Cristiano e Hugo Almeida para ganharem vantagem nos "sprints" longos e para caírem nas costas dos defesas contrários. Foi o contrário disso o que o Brasil fez, desposicionando-se defensivamente com invulgar frequência (e é nos equilíbrios e transições defensivas que melhor se vê o dedo do treinador) e, mesmo sem Neymar, não aproveitando a capacidade de condução de bola de jogadores como Óscar e Willian. 

Não chegou, e ainda bem, pois não só ganhou a melhor equipa do Mundial, como eu tenho esta eterna mania de, salvo muito raras excepções, torcer sempre pelos "meus" europeus contra qualquer tipo de intromissão de gringos". A Argentina até teve as melhores oportunidades? Sim, talvez, mas quem, como eu, vê futebol e tem o bom hábito de o discutir quase desde que nasceu, está farto de grandes exibições e superioridade em oportunidades de golo, para, no fim, a maior parte das vezes, ganhar a melhor equipa, a mais concentrada, mais "madura", a mais fiel aos seus princípios e ideias (e a Argentina teve de abdicar de alguns dos seus) e, por fim, no conjunto, aquela com melhores jogadores. E não foram os alemães quem, por inépcia e desconcentração, falharam dois ou três golos em frente de Manuel Neuer.

Nota. Já agora, e a propósito de Manuel Neuer, perceberam bem a diferença entre um grande guarda-redes, de classe mundial, e uns daqueles de "engate", que por lá apareceram em equipas menores, a dar espectáculo e que deixaram quase toda a gente boquiaberta, com ar de papalvos?

domingo, julho 13, 2014

Matiné de Domingo (73)

"The Sea Wolves", de Andrew V. McLaglen (1980)
Filme completo c/ legendas em português

Scolari, o hino e as emoções

Penso que nada reflecte melhor aquilo que foi a selecção do Brasil neste Mundial do que aquela idiotice de continuar a cantar o hino (numa sua versão mais longa) após a instalação sonora do estádio ter terminado a sua difusão. Está ali tudo: a importância desmesurada dada às emoções, em detrimento da racionalidade técnico-táctica; o populismo expresso num ultra-nacionalismo que se reflecte em um dos "símbolos da pátria" (em Portugal tínhamos tido as bandeiras); a busca de uma ligação entre a equipa, a assistência nas bancadas e o "povo" em geral (as desculpas ao "povo" pelas derrotas foram recorrentes), baseada apenas num primarismo emocional e não na qualidade e eficácia do futebol praticado; e, por fim, a opção por um comportamento em campo demasiado frenético, com muitas correrias e passes longos despropositados que fomentavam essas mesmas emoções, tornando assim impossíveis quaisquer críticas ao "querer", à "garra" e à "atitude" dos jogadores e da equipa, críticas também elas populistas e que fazem habitualmente parte do cardápio de quem nada percebe do jogo e se limita a criticar os jogadores usando argumentos de natureza semelhante aos que usa para vilipendiar os que considera  "ricos e poderosos".

Nada disto é novo em Scolari, e se usado com parcimónia até consegue por vezes obter bons resultados nas selecções nacionais, que pouco ou nenhum tempo têm para treinar princípios e modelos de jogo e com uma ligação popular quantitativa e qualitativamente diferente do que acontece com os clubes. Funcionou bem em Portugal, excepto quando, como contra a Grécia, no Europeu, os problemas muito específicos colocados pela selecção de Otto Rehhagel exigiam uma abordagem mais centrada na racionalidade técnico/táctica e no estudo criterioso do adversário. Mas a questão que se deve colocar agora, quando é demasiado fácil "bater" em Scolari, é se sem essa sua abordagem emocional e populista (que, note-se, pessoalmente abomino), quando da sua passagem por Portugal, a selecção nacional teria mesmo conseguido chegar à decisão final com a Grécia, onde o treinador brasileiro falhou então redondamente. Mas  aí entramos já na pura e simples especulação.

sábado, julho 12, 2014

quarta-feira, julho 09, 2014

4ªs feiras, 18.15h (86) - Novo cinema alemão (II)

"Die Ehe der Maria Braun", de Rainer Werner Fassbinder (1979)
Filme completo c/ legendas em inglês

3 notas 3 sobre a goleada de ontem

  1. O Brasil-Alemanha de ontem foi quase um "copy paste" do Portugal-Alemanha: ambas as equipas (Portugal e Brasil) pensaram que poderiam jogar contra este Bayern travestido de "Mannschaft" "de igual para igual", "olhos nos olhos", e duas ou três jogadas iniciais, criando relativo perigo, ainda mais os convenceram. Pagaram cara a ousadia ainda dentro do primeiro quarto de hora e, a partir daí, ficaram "perdidos na tradução", sem saberem se deviam recuar e juntar linhas, evitando a goleada, ou manter o plano inicial. Sem cabeça, o Brasil de ontem optou por tentar recuperar "à maluca" (é mesmo o termo), sofrendo as consequências. Podiam ter sido dez.
  2. A semelhança vai até ao ponto de ambas as equipas dependerem demasiado de um jogador: Cristiano Ronaldo, no caso português, e Neymar, no caso do Brasil. Acontece que o primeiro jogou inferiorizado e o segundo nem sequer jogou. Fatal. Se, no caso de Portugal, ainda se compreende tal dependência de Cristiano (havia demasiados "pernas de pau" na equipa), no caso do Brasil, com bons jogadores para dar e vender (excepção ao tal Fred que nem na selecção portuguesa teria lugar), tal dependência é incompreensível. Ou melhor, revela uma total ausência de ideias e de plano de jogo.
  3. Muito mais do que Thiago Silva, David Luiz é bem o "capitão" de Scolari e símbolo desta equipa do Brasil: pouca ou nenhuma cabeça, indisciplina táctica total e muito mais emoção do que razão. Como foi possível ver os jogadores alemães trocarem três e quatro passes em plena grande-área brasileira até fazerem golo? 

terça-feira, julho 08, 2014

Roy Orbison SUN recordings (3)

"Rockhouse" - Sun #251 (1956)

Clubes portugueses: dívida e estabilidade

Os principais clubes portugueses têm vivido nos últimos anos essencialmente da dívida que foram contraindo. Falando do meu clube, Luís Filipe Vieira finalmente percebeu (ou teve condições para implementar o que já tinha percebido) que apenas investindo a um nível semelhante ao do FCP conseguiria competir com este pela hegemonia do futebol português. E se esta hegemonia ainda não foi plenamente conseguida, o SLB conseguiu pelo menos dois títulos nacionais, uma Taça de Portugal e presença em duas finais consecutivas da Liga Europa, elevando o seu nível competitivo e tornando-se uma cada vez maior ameaça para o seu rival do norte. É preciso também perceber que a dívida não terá sido contraída apenas com recurso ao crédito bancário, agora cada vez mais escasso ou até inexistente, mas também através de processos de engenharia financeira que terão envolvido os chamados "fundos" e alguns empresários FIFA a esses fundos directa ou indirectamente ligados. Bem ou mal, com maior ou menor regulamentação do mercado (e já escrevi várias vezes o que penso sobre o assunto), foi assim que, com maior ou menor êxito, os três principais clubes portugueses foram vivendo. Há agora, pois, que pagar a factura.

Se há alguns anos não era tanto a necessidade de vender, mas a incapacidade para pagar em conformidade com as ofertas dos melhores emblemas europeus, que levava os clubes portugueses a venderem os passes dos seus melhores jogadores, a isso junta-se agora a necessidade de realizar valor para pagar a dívida entretanto contraída, pelo que daí resulta a impossibilidade de manter plantéis com um mínimo de estabilidade ao longo dos anos, até porque também a necessidade de recurso a processos de engenharia financeira se acentuará. A estabilidade necessária a qualquer organização bem sucedida, essa, tenderá transferir-se para as direcções e administrações dos clubes, seguindo o caminho já traçado pelo FCP há vários anos, e para a manutenção das equipas técnicas durante períodos mais longos, como acontece agora no SLB, assegurando desse modo a continuidade de culturas, filosofias e valores, quer a nível da gestão dos clubes, quer de processos e modelos de jogo. É a vida ou, parafraseando um outro, habituem-se.

Cavaco Silva e o "beija-mão real"


Ora vamos lá ver, embora a coisa não passe quase de um "fait divers".

Cavaco Silva é quem é, nasceu onde nasceu - aliás, nunca o escondeu - e numa república democrática qualquer cidadão pode, felizmente, ascender, por escolha dos seus concidadãos, à chefia do Estado, desde que cumpridos determinados preceitos legais (em Portugal, ser maior de 35 anos e ter tido sempre a nacionalidade portuguesa, para além de outras "minudências"). Por isso mesmo, Cavaco Silva não é obrigado a ter nascido ensinado: alguém pouco avisado lhe terá um dia dito que era chique beijar a mão a uma senhora, principal mente sendo rainha (para além de nova e "gira") e pronto, ele acreditou; fizesse o mesmo à rainha de Inglaterra e eu gostaria de ter visto - mas aí a coisa "fia mais fino".

Mas sendo quem é - e mesmo que outro fosse - Cavaco Silva não tem, neste caso, qualquer responsabilidade por quase ter "lambido a mão" a Letízia Ortiz: é para gerir coisas deste género que existe o chamado Protocolo de Estado, dirigido por um embaixador de carreira, e caberia a esse mesmo Protocolo definir junto de Cavaco Silva e de outras entidades oficiais quais as formas de tratamento e cumprimento adequadas na circunstância, para além de tudo o resto que é habitual em visitas deste tipo. Poupava Cavaco Silva - que bem ou mal é Presidente da República - à chacota e o Estado português ao ridículo.

segunda-feira, julho 07, 2014

Ainda a propósito da Prússia...

Frederico o Grande (1712 - 1786) - Sinfonia para duas flautas, dois oboés, duas trompas, cordas e baixo contínuo.
1º andamento - Allegro assai

"Back in business" ou 5 notas políticas sobre uma visita a Berlim.

  1. Para os que, como eu, já conheciam algumas cidades e zonas da antiga RFA (Colónia, Munique, Düsseldorf, Frankfurt, etc), mas nunca tinham ido a Berlim, um aviso: nada tem a ver. Estamos a falar da capital do antigo e poderoso reino da Prússia, que unificou a Alemanha manu militari, da capital dos segundo e terceiro Reich, ou seja, da cidade imperial símbolo do poder alemão.
  2. Isto significa que quando o parlamento de Bona, depois da reunificação, tomou (por maioria relativamente escassa, diga-se) a decisão de se transferir para as antigas instalações do Reichtag e tornar Berlim a capital da nova Alemanha, não o fez por acaso e isso teve um significado político inequívoco: reconstituir, sob novas formas, o poderia alemão da Europa. E é exactamente esse processo que está em curso.
  3. Aliás, é bem interessante, para não dizer indispensável para quem vem de um país onde a História da Europa Central é quase completamente ignorada no ensino secundário, efectuar uma visita ao Deutsches Historisches Museum, onde nada se esconde e tudo parece dirigir-se a um objectivo fundamental: para o bem e para o mal, nas várias áreas da actividade humana, da política ao conhecimento, da filosofia à indústria, e não tentando sequer escamotear ou desculpar o nazismo, a ditadura da DDR ou até a carnificina da Grande Guerra, em tudo o que se passou na Europa que vai de Paris a Moscovo (Catarina da Rússia era alemã de nascimento e o seu pai serviu no exército prussiano), a Alemanha e, antes dela, os estados alemães com a Prússia à cabeça tiveram um papel fundamental ou pelo menos importante. E, efectuada a reunificação, a Alemanha não irá abdicar desse seu passado e desse seu futuro.
  4. Vinte e cinco anos após a queda da RDA e a reunificação, uma visita a Berlim permite ter uma ideia mais directa do esforço da reconstrução e da quantidade astronómica de dinheiro que tal está ainda a custar. Permite-nos deste modo também compreender (o que não significa aceitar passivamente) a resistência alemã a quaisquer soluções para o problema da dívida dos países periféricos que impliquem um esforço financeiro adicional para o estado alemão. Por isso, e como justificação, inventaram a narrativa dos "preguiçosos" do sul" e do "viveram acima das suas possibilidades". Triste é que tal seja repetido (eu diria, acriticamente "papagueado") por muitos responsáveis políticos do sul da Europa.
  5. Ninguém se iluda: não existirá uma UE sem hegemonia alemã. Ensina-nos a História que a Alemanha do século XXI tenderá a reconstituir a sua tradicional zona de influência (Polónia, Áustria, República Checa, Eslováquia, uma parte dos Balcãs, etc) perante um França enfraquecida e sem voz própria e um UK que se entrincheirá  na sua ilha - em colaboração com a sua antiga colónia americana - e não "alinhará neste filme". Para os povos periféricos, onde Portugal se inclui, será fomentada a emigração para trabalhar nas tarefas menos qualificadas (apesar de tudo, "bem melhor" que o trabalho escravo na Organização Todt dos tempos do Terceiro Reich) ou, para uma minoria instruída, a possibilidade de colaborarem no estrangeiro em tarefas de de grau técnico elevado ou de investigação e desenvolvimento. Ou então abandonarem a UE e procurarem uma alternativa. Será possível e vantajoso? Pois, se não alinharmos pelas certezas de BE, PCP e MRPP e acreditarmos na democracia e na liberdade, é exactamente esse o problema  que temos de resolver.