Tem sido frequente, nos últimos dias, o jornalismo desportivo referir a crise do GES/BES como explicação para a necessidade do SLB vender os passes de tantos dos seus jogadores mais credenciados. Não negando isso possa ter alguma influência no envolvimento do banco em novas operações financeiras ou na renegociação/restruturação de algumas já existentes, não me parece, estando de fora, ser esse o problema principal. Mas o jornalismo desportivo, se em termos gerais já percebe pouco de "bola" (há excepções e já tenho elogiado o esforço de alguns programas da RTP Info), quando se mete por assuntos das áreas de gestão e financeira de imediato "derrapa nas subidas". Mas vejamos.
A crise do crédito bancário não nasceu com os problemas do BES: é uma realidade dos últimos anos. Por outro lado, o SLB e outros clubes portugueses atingiram também neste últimos anos o seu limite de endividamento, sendo portanto impossível ou suicidário continuarem a financiar-se por essa via. Acresce que um dos importantes financiadores habituais dos clubes - Olivedesportos/Controlinveste - actuando tantas vezes como financiador de último recurso, atravessa também ele uma crise com alguma gravidade, para além do SLB ter também decidido pôr fim à parceria existente o que também terá contribuído para os problemas que o grupo de Joaquim Oliveira possa estar a atravessar. Exactamente por isso, o recurso aos fundos de jogadores foi a solução encontrada. Disse-o
aqui, a capacidade para o SLB se movimentar nessa área, com ligações mais ou menos evidentes a empresários como Jorge Mendes (ou outros), terá sido talvez a principal razão para o sucesso alcançado na última época e para a melhoria evidente dos resultados desportivos dos últimos anos. Ora quem investe num fundo, seja ele qual for, fá-lo para ganhar dinheiro, e, neste caso, para reaver o capital investido e realizar as mais-valias esperadas terá que transaccionar o passe dos jogadores que o integram, estando o clube dependente da vontade dos seus parceiros de negócio. Mais, para maximizar os seus proveitos terá que "vender" na altura certa, quando os jogadores estão valorizados, o que, no caso do SLB, resulta da excelente época de 2013/14 realizada. Neste ponto, Jorge Jesus tem de facto razão: o SLB está a pagar o preço do sucesso recente. Parece-me ser fundamentalmente isto o que está em causa e, não nos iludamos, conseguir colmatar as vagas criadas dependerá muito do clube continuar a ser bem sucedido nesta área, onde a concorrência parece ser cada vez maior.
Mas pergunta-se: então e a formação, não pode o SLB recorrer a ela? Bom, o sucesso da política baseada no acesso aos investidores e aos fundos de jogadores tem também a sua contrapartida nesta área: o SLB está sujeito, também aqui e em certa medida, à vontade dos seus parceiros de negócio, isto é, aos jogadores nos quais todas as partes envolvidas pretendam investir; não é, portanto, soberano. E não nos iludamos: para além de nomes como João Cancelo (que me parece ser o de maior potencial), João Teixeira e Bernardo Silva, terem ainda de provar ter capacidade para "dar o salto", o negócio André Gomes prefigura o que poderá acontecer no futuro com os melhores jogadores oriundos da formação: serem integrados em fundos, com o clube a receber de imediato a respectiva compensação financeira, e verem os respectivos direitos desportivos transaccionados bem cedo.
Enfim, tudo isto é positivo, negativo, dispensável, indispensável? Haverá alternativa? Há sempre alternativa, melhor ou pior, mas este é actualmente o quadro no qual o meu clube terá de saber movimentar-se, mesmo que a prazo dele queira sair. É este o desafio que terá de enfrentar para aprofundar o sucesso desportivo já conseguido nos últimos anos.