segunda-feira, julho 07, 2014

"Back in business" ou 5 notas políticas sobre uma visita a Berlim.

  1. Para os que, como eu, já conheciam algumas cidades e zonas da antiga RFA (Colónia, Munique, Düsseldorf, Frankfurt, etc), mas nunca tinham ido a Berlim, um aviso: nada tem a ver. Estamos a falar da capital do antigo e poderoso reino da Prússia, que unificou a Alemanha manu militari, da capital dos segundo e terceiro Reich, ou seja, da cidade imperial símbolo do poder alemão.
  2. Isto significa que quando o parlamento de Bona, depois da reunificação, tomou (por maioria relativamente escassa, diga-se) a decisão de se transferir para as antigas instalações do Reichtag e tornar Berlim a capital da nova Alemanha, não o fez por acaso e isso teve um significado político inequívoco: reconstituir, sob novas formas, o poderia alemão da Europa. E é exactamente esse processo que está em curso.
  3. Aliás, é bem interessante, para não dizer indispensável para quem vem de um país onde a História da Europa Central é quase completamente ignorada no ensino secundário, efectuar uma visita ao Deutsches Historisches Museum, onde nada se esconde e tudo parece dirigir-se a um objectivo fundamental: para o bem e para o mal, nas várias áreas da actividade humana, da política ao conhecimento, da filosofia à indústria, e não tentando sequer escamotear ou desculpar o nazismo, a ditadura da DDR ou até a carnificina da Grande Guerra, em tudo o que se passou na Europa que vai de Paris a Moscovo (Catarina da Rússia era alemã de nascimento e o seu pai serviu no exército prussiano), a Alemanha e, antes dela, os estados alemães com a Prússia à cabeça tiveram um papel fundamental ou pelo menos importante. E, efectuada a reunificação, a Alemanha não irá abdicar desse seu passado e desse seu futuro.
  4. Vinte e cinco anos após a queda da RDA e a reunificação, uma visita a Berlim permite ter uma ideia mais directa do esforço da reconstrução e da quantidade astronómica de dinheiro que tal está ainda a custar. Permite-nos deste modo também compreender (o que não significa aceitar passivamente) a resistência alemã a quaisquer soluções para o problema da dívida dos países periféricos que impliquem um esforço financeiro adicional para o estado alemão. Por isso, e como justificação, inventaram a narrativa dos "preguiçosos" do sul" e do "viveram acima das suas possibilidades". Triste é que tal seja repetido (eu diria, acriticamente "papagueado") por muitos responsáveis políticos do sul da Europa.
  5. Ninguém se iluda: não existirá uma UE sem hegemonia alemã. Ensina-nos a História que a Alemanha do século XXI tenderá a reconstituir a sua tradicional zona de influência (Polónia, Áustria, República Checa, Eslováquia, uma parte dos Balcãs, etc) perante um França enfraquecida e sem voz própria e um UK que se entrincheirá  na sua ilha - em colaboração com a sua antiga colónia americana - e não "alinhará neste filme". Para os povos periféricos, onde Portugal se inclui, será fomentada a emigração para trabalhar nas tarefas menos qualificadas (apesar de tudo, "bem melhor" que o trabalho escravo na Organização Todt dos tempos do Terceiro Reich) ou, para uma minoria instruída, a possibilidade de colaborarem no estrangeiro em tarefas de de grau técnico elevado ou de investigação e desenvolvimento. Ou então abandonarem a UE e procurarem uma alternativa. Será possível e vantajoso? Pois, se não alinharmos pelas certezas de BE, PCP e MRPP e acreditarmos na democracia e na liberdade, é exactamente esse o problema  que temos de resolver.   

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