Os principais clubes portugueses têm vivido nos últimos anos essencialmente da dívida que foram contraindo. Falando do meu clube, Luís Filipe Vieira finalmente percebeu (ou teve condições para implementar o que já tinha percebido) que apenas investindo a um nível semelhante ao do FCP conseguiria competir com este pela hegemonia do futebol português. E se esta hegemonia ainda não foi plenamente conseguida, o SLB conseguiu pelo menos dois títulos nacionais, uma Taça de Portugal e presença em duas finais consecutivas da Liga Europa, elevando o seu nível competitivo e tornando-se uma cada vez maior ameaça para o seu rival do norte. É preciso também perceber que a dívida não terá sido contraída apenas com recurso ao crédito bancário, agora cada vez mais escasso ou até inexistente, mas também através de processos de engenharia financeira que terão envolvido os chamados "fundos" e alguns empresários FIFA a esses fundos directa ou indirectamente ligados. Bem ou mal, com maior ou menor regulamentação do mercado (e já escrevi várias vezes o que penso sobre o assunto), foi assim que, com maior ou menor êxito, os três principais clubes portugueses foram vivendo. Há agora, pois, que pagar a factura.
Se há alguns anos não era tanto a necessidade de vender, mas a incapacidade para pagar em conformidade com as ofertas dos melhores emblemas europeus, que levava os clubes portugueses a venderem os passes dos seus melhores jogadores, a isso junta-se agora a necessidade de realizar valor para pagar a dívida entretanto contraída, pelo que daí resulta a impossibilidade de manter plantéis com um mínimo de estabilidade ao longo dos anos, até porque também a necessidade de recurso a processos de engenharia financeira se acentuará. A estabilidade necessária a qualquer organização bem sucedida, essa, tenderá transferir-se para as direcções e administrações dos clubes, seguindo o caminho já traçado pelo FCP há vários anos, e para a manutenção das equipas técnicas durante períodos mais longos, como acontece agora no SLB, assegurando desse modo a continuidade de culturas, filosofias e valores, quer a nível da gestão dos clubes, quer de processos e modelos de jogo. É a vida ou, parafraseando um outro, habituem-se.
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