Cavaco Silva deve estar equivocado, ter má memória ou, pura e simplesmente, a achar que os fins justificam os meios, mentindo quando afirma existe em Portugal uma "falta de cultura política do compromisso". É que, ao contrário do que diz o Presidente da República, o regime fundado no 25 de Abril e consolidado com a Constituição de 1976 assentou fundamentalmente em compromissos políticos, desde logo na sua fundação. Não só existiu um consenso quanto à necessidade de uma mudança de regime (excluindo os mais radicais defensores da ditadura, claro), como sempre houve consenso entre PS, PSD e CDS quanto aos elementos estruturantes do novo regime: opção pela democracia liberal representativa e de base parlamentar, fim da tutela militar, integração europeia (embora com "nuances"), revisões constitucionais, privatizações, Estado Social, adesão ao euro, infraestruturas rodoviárias e a chamada política do betão, investimento nas agora chamadas empresas produtoras de bens não transaccionáveis, "Pacto Orçamental" (infelizmente), etc, etc. E, pasme-se, até em relação aos então chamados "desígnios nacionais" como Euro 2004 e Expo 98. O que não se pode confundir é tal coisa com uma espécie de União Nacional, tutelada por Belém, que torne as eleições num pró-forma e instale uma ditadura "de facto" apoiada pelos chamados "senadores" do regime, pela respectiva elite económica e assegurada por uma por uma comunicação social submissa. Nem que a inexistência do tal consenso deva obrigatoriamente excluir acordos possíveis sobre determinadas questões, como PS e PSD provaram ser possível na reformulação da divisão administrativa de Lisboa, exemplo que deveria ser seguido em outros áreas como reorganização dos concelhos e dos tribunais. Estamos conversados?
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