Francamente, não vejo de que modo a proposta de Rui Rio dos votos em branco e nulos corresponderem a cadeiras vazias no parlamento poderia revitalizar os partidos e a democracia. Deixando de lado os votos nulos, que têm significado muito diverso entre si, por tal não lhes podendo ser atribuído um valor comum, penso que a proposta de Rio é negativista e apenas contribuiria, pelo menos no momento presente, para alimentar o populismo anti-partidos e anti-políticos e para um achincalhamento da democracia e da representação parlamentar. O sistema actual não é perfeito, mas existem alternativas, como algumas das propostas de que o politólogo André Freire tem sido promotor e porta-voz (listas abertas, por exemplo), que poderão ser discutidas e me parecem poder contribuir bem mais do que esta mirabolante ideia de Rui Rio para a sua evolução num claro sentido do aperfeiçoamento e aprofundamento democráticos. E, já agora, convém também lembrar Rui Rio que se o objectivo dos governos é promover, a cada momento, o interesse público - e isso é indiscutível - a democracia parlamentar não existe no vazio: ela existe em função da representação institucional, livre e aberta, dos vários grupos de interesses e classes sociais - que Rio designa por "corporações" - e é desse confronto que nasce o que se designa por "interesse púbico" - que, aliás, é tudo menos alheio a esse conflito de interesses particulares.
Por fim, seria bem mais interessante que políticos experimentados, como Rui Rio, em vez de cavalgarem em proveito próprio (o que sempre negam) as várias ondas populistas, tivessem uma acção didáctica junto dos cidadãos, contribuindo assim para desmontar alguns dos mitos de que se alimenta esse mesmo populismo. É que, infelizmente, se existem fortes razões para descrença no regime, ainda há também quem acredite que elas estão fundamentalmente nas "gorduras do Estado", no "número excessivo de deputados", nos "ordenados milionários e mordomias dos políticos", na "corrupção generalizada" e assim sucessivamente. Fica o desafio.
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