quinta-feira, junho 14, 2007

Um país de tristes, uma tristeza da país (4)

Qual director do jornal regional de Oliveira do Monte “O Arauto da Imaculada” pedindo desculpa ao senhor bispo por não ter dado o devido destaque à sua última homilia, a RTP pediu desculpa ao Presidente da República por ter interrompido a transmissão das comemorações do 10 de Junho. Que os “defensores de ocasião” da liberdade de expressão não se tenham manifestado, não estranho: a lei do funil é algo com profundas raízes na sociedade portuguesa. Mas algo não deixa de me surpreender: a transmissão integral das cerimónias faz ou não parte das obrigações do “serviço público” de acordo com o respectivo contrato? Se sim, esse deve prever penalizações para o incumprimento de todas ou algumas das suas cláusulas, devendo o assunto ser tratado judicialmente; se não, estamos perante uma violação clara da liberdade de informação vinda de onde menos seria admissível e com a conivência da RTP. Penso que o assunto é grave demais para o relativo silêncio que por sobre ele se abateu.

1 comentário:

Eurydice disse...

Concordo consigo, JC: nesta história é tudo triste!
O Presidente falou e não lhe fica bem, neste caso, fazê-lo deste modo. E a RTP, tão pronta a pedir desculpas pelo que fez?!... Se não devia fazê-lo, por que o fez, em primeiro lugar?
E já não vou falar das cerimónias em si mesmas, que parecem cada vez mais pomposas, iguaizinhas às dos (tristes) tempos de antanho, e que, em vez de mobilizarem as pessoas e lhes reavivarem o sentimento de pertença (parto do princípio que um Dia assim é para isso mesmo: para nos fazer recordar e sentir que temos algo em comum há muitos séculos) se tornam enfadonhas e intermináveis. Claro que a RTP deve ter achado que umas quantas notícias sangrentas e umas indiscrições sobre a vida do jet-set local daria mais dividendos nas audiências do que cumprir a sua parte de SERVIÇO PÚBLICO.
Disto tudo, o que acabo por sentir é que estamos cansados, desanimados, deprimidos - e não só economicamente - e que os responsáveis dos vários sectores nacionais se preocupam com COISINHAS em vez de darem atenção ao que realmente faz a diferença. Como, por exemplo, respeitar a liberdade de imprensa.
Neste capítulo, não vou sequer falar do ego inflamado do senhor Pároco, pela simples razão de que já nem reparo nesse tipo de contradições cívicas: o poder é sempre apetecido por quem não tem outro afrodisíaco, e a coerência, essa, apenas um incómodo para certas consciências com motivações pouco deontológicas.