Um interessante comentário de uma leitora deste blog leva-me a escrever esta nota, completando o que afirmei, em post anterior, sobre o que poderá estar em causa neste referendo:
O modo como os partidários do “Não” têm conduzido a campanha, nesta última semana - apresentando uma proposta que, na prática, é um incentivo ao aborto clandestino -, obriga-me a interrogar, uma vez mais, sobre o que estará em causa neste referendo, para além daquilo que consta da respectiva pergunta e que é bem claro. Para além dos números do próximo domingo poderem significar uma vitória ou derrota da efectiva influência política da Igreja Católica (e, principalmente – friso -, de alguns dos seus sectores e organizações mais conservadoras), na sociedade portuguesa, parece-me que, “cavalgando” oportunisticamente questão da IVG, poderá estar a desenhar-se em torno da campanha um fenómeno de revanchismo e radicalismo político de cariz semelhante ao acontecido em Espanha com o PP. E se em Espanha esse fenómeno se organizou em torno da Associação das Vítimas do Terrorismo e da questão das nacionalidades, os temas politicamente mais “fracturantes” – o que está verdadeiramente em causa é não é o terrorismo mas a natureza do estado espanhol -, conduzindo ao domínio do PP pelos seus sectores mais radicais, em Portugal o movimento parece ter algumas dificuldades em se definir partidariamente, fruto do tema em si, da especificidade de nascimento e crescimento dos partidos políticos, da fragilidade do CDS, da natureza catch all party do PSD e da política reformista e liberal do PS nos sectores económico e estatal. Será que as questões de sociedade poderão, no futuro, contribuir para o necessário rassemblement, “à direita”, do espectro partidário que se situa à direita do PS? Para já, parecem causar alguns problemas à esquerda, retirando ao Bloco algumas das causas que formatavam a sua personalidade e, assim, encostando-o ao PCP com o qual partilha uma concepção conservadora da organização económica e das relações empresariais. Quanto ao resto... uma certeza: a sobreposição de interesses com a Igreja Católica nas questões de “sociedade” dificilmente conseguiria a mesma intensidade e identidade em outras áreas da organização do estado e da economia, e estas áreas são hoje em dia incontornáveis na sociedade portuguesa.
O modo como os partidários do “Não” têm conduzido a campanha, nesta última semana - apresentando uma proposta que, na prática, é um incentivo ao aborto clandestino -, obriga-me a interrogar, uma vez mais, sobre o que estará em causa neste referendo, para além daquilo que consta da respectiva pergunta e que é bem claro. Para além dos números do próximo domingo poderem significar uma vitória ou derrota da efectiva influência política da Igreja Católica (e, principalmente – friso -, de alguns dos seus sectores e organizações mais conservadoras), na sociedade portuguesa, parece-me que, “cavalgando” oportunisticamente questão da IVG, poderá estar a desenhar-se em torno da campanha um fenómeno de revanchismo e radicalismo político de cariz semelhante ao acontecido em Espanha com o PP. E se em Espanha esse fenómeno se organizou em torno da Associação das Vítimas do Terrorismo e da questão das nacionalidades, os temas politicamente mais “fracturantes” – o que está verdadeiramente em causa é não é o terrorismo mas a natureza do estado espanhol -, conduzindo ao domínio do PP pelos seus sectores mais radicais, em Portugal o movimento parece ter algumas dificuldades em se definir partidariamente, fruto do tema em si, da especificidade de nascimento e crescimento dos partidos políticos, da fragilidade do CDS, da natureza catch all party do PSD e da política reformista e liberal do PS nos sectores económico e estatal. Será que as questões de sociedade poderão, no futuro, contribuir para o necessário rassemblement, “à direita”, do espectro partidário que se situa à direita do PS? Para já, parecem causar alguns problemas à esquerda, retirando ao Bloco algumas das causas que formatavam a sua personalidade e, assim, encostando-o ao PCP com o qual partilha uma concepção conservadora da organização económica e das relações empresariais. Quanto ao resto... uma certeza: a sobreposição de interesses com a Igreja Católica nas questões de “sociedade” dificilmente conseguiria a mesma intensidade e identidade em outras áreas da organização do estado e da economia, e estas áreas são hoje em dia incontornáveis na sociedade portuguesa.
1 comentário:
Muito interessante, mais uma vez!...
Parece que ainda ninguém tinha reparado que a IVG está a ser mero pretexto para um exercício de poder em larga escala. Suponho que o estranho tom da campanha - alheio à lógica e decência - se deve a isso mesmo.
O que interessa não é nem o SIM nem o NÃO: é definir pesos, influências, fidelidades.
Brincam com a vida das pessoas, basicamente! E brincam também com a sua dignidade. Imperdoável!
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