O divertido ministro Manuel Pinho, ao tentar dar umas explicações atabalhoadas sobre a questão dos salários dos portugueses, disse uma verdade incontroversa: que “os sindicatos em Portugal são forças de atraso”. Sem dúvida. Principalmente se nos referirmos aos sindicatos da Função Pública e dos professores (mas não só), são instituições conservadoras que dificultam qualquer tentativa de modernização dos respectivos sectores e, por “arrasto”, da sociedade portuguesa. O problema é que o divertido ministro o afirmou pelas más razões, isto é, não perante uma situação em que esses mesmos sindicatos tentassem resistir a reformas modernizadoras (e nesse caso bem poderia Manuel Pinho contar com o apoio de uma boa parte dos portugueses) mas quando se manifestavam, com razão, contra afirmações, no mínimo, conformistas do ministro. Ou seja, Manuel Pinho deu de bandeja aos sindicatos (e partidos seus apoiantes) uma oportunidade de ouro para retomarem a iniciativa política e, pior ainda, para o fazerem “pela positiva”, aparecendo como “modernizadores”, adversários de um modelo de desenvolvimento que conduziu o país a “este género assim”. Maior manifestação de “anhuquice” política seria difícil de imaginar, mas o PS já nos habituou a tais coisas: se qualquer tentativa de modernização do país nas questões de sociedade (aborto, droga, educação sexual, direitos dos homossexuais, investigação genética, etc) terá sempre que contar com a resistência da Igreja Católica, resolveu também, em 1998 ao aceitar referendar a legislação sobre o aborto, dar a esta instituição – e principalmente aos seus sectores mais conservadores – a iniciativa política nesta área. Pode, pois, apenas queixar-se de si próprio.
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