segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Uma nova direita

Uma das conclusões mais interessantes a retirar do referendo é que ele marca a primeira intervenção política de grande visibilidade mediática de uma direita moderna, liberal e laica. É uma direita que maioritariamente nasce ou se consolida - e intervém - na blogosfera, com uma visão cosmopolita do país e que não se revê no conservadorismo e no catolicismo tradicionais da direita portuguesa. A participação activa, no lado do “SIM”, de personalidades como Carlos Abreu Amorim, Helena Matos, Vasco Rato, Pedro Lomba ou, até, Tiago Barbosa Ribeiro, do “Kontratempos”, aí está para provar que as mudanças na sociedade portuguesa (v.g. crescimento urbano, maior literacia, terciarização e crescimento das classes médias), que deram origem ao nascimento e consolidação do “Bloco de Esquerda”, se reflectem também à direita, num “arejamento” saudável no campo das ideias que também tem feito caminho no interior do próprio PS. Gostaria de sublinhar que, a nível dos media tradicionais, quem melhor disso se apercebeu foi a RTPN, fazendo reflectir esta nova realidade no seu “Choque Ideológico”, uma lufada de ar fresco no debate político das televisões. Convergências (algumas) e divergências (outras) à parte, é o país que fica mais respirável.

3 comentários:

Eurydice disse...

Gostei deste seu post.
Embora tenha cada vez mais dúvidas sobre o que é isso de esquerda e direita, e sinta uma inclinação pelos ideiais de esquerda, penso que uma direita esclarecida é essencial, dentro daquele princípio de que ninguém tem o monopólio da verdade e de que todos tem algo a contribuir para o bem comum.
No entanto, não incluo o Bloco dentro do conceito de "esquerda esclarecida": acho-os incrivelmente CONGELADOS! Com o uso de alguns chavões modernaços têm conseguido conquistar um eleitorado desiludido com, por exemplo, o monolitismo do PC.

JC disse...

Cara Cinderela.
Não digo queo bloco seja esquerda esclarecida. Se verificar bem, o que digo no post é que o Bloco responde, tal como a direita liberal, às modificações na composição sociológica da sociedade portuguesa: "urbanização", terciarização, subsequente laicidade e maior cosmopolitismo. Enquanto o PCP é o partido da 2ª vaga industrial, do operariado puro e duro, o bloco é-o das novas gerações urbanas. Infelizmente, não se libertou da visão demasiado estatista da sociedade e da economia.
JC

Eurydice disse...

OH, eu tinha percebido. Estava só a querer clarificar a minha própria ideia sobre o Bloco, depois de ter dado o epíteto de "esclarecida" a uma direita que faz falta.

Gostaria de ver emergir uma esquerda esclarecida, claro. Muito, mesmo! ;)