Na Educação, o que se tem passado até aqui é uma luta pelo poder; uma luta entre sindicatos e ministério que são quem o tem efectivamente exercido e partilhado. Nada mais. Por isso, a nenhum deles interessa uma efectiva liberalização do sector no sentido de cada escola poder vir a ter uma interferência significativa na escolha dos seus docentes e poder avaliá-los e penalizá-los em função dos resultados obtidos, que é a única maneira de o fazer de uma forma efectiva. Ao abdicar do poder de nomeação e ao permitir uma avaliação objectiva por quem pode efectivamente fazê-la (a hierarquia de cada escola, nomeada e obrigada a apresentar resultados e ela própria também sujeita a avaliação) o Ministério perde uma parte significativa do seu poder e controle. O mesmo acontece com os sindicatos, que perderão influência na justa medida em que uma avaliação rigorosa, em função dos resultados, dê origem a uma diferenciação das competências, com o estabelecimento de competitividade entre os professores e de uma diferenciação salarial entre escolas, competências ou graus de dificuldade apresentados por cada turma. Ou até mesmo por cada disciplina leccionada, não percebendo eu, por exemplo, a razão porque um professor de matemática qualificado, ou de português ou inglês (áreas que são chave no aproveitamento), não possa ser beneficiado em termos salariais. Uma das razões porque os "estes" sindicatos perderam poder e influência fora da função pública e dos professores, foi exactamente porque a electrónica e as novas tecnologias (mas não só) permitiram uma restruturação e reorganização das empresas que minimizou as funções indiferenciadas e pouco qualificadas, pagas com o mesmo salário, subalternizando a importância das grandes contratações colectivas para as quais estes sindicatos (organizados ainda em função daquilo que Toffler chamou a segunda vaga industrial, no século XX) estavam fundamentalmente vocacionados. Basta verificar o contraste que oferecem com outras formas mais modernas de organização laboral - em empresas também elas mais modernas - como, por exemplo, a comissão de trabalhadores da AutoEuropa, e o contraste apresentado nos resultados obtidos...
Por isso, as medidas propostas pela actual equipa ministerial, embora na sua grande maioria vão no sentido correcto, não atingem o essencial, o “santo dos santos” da questão educativa: a autonomia das escolas na contratação e avaliação do seu quadro docente e o estabelecimento, em função disso, de uma hierarquia de valores, competências e salários.
Duas pequenas questões para terminar de vez:
Por isso, as medidas propostas pela actual equipa ministerial, embora na sua grande maioria vão no sentido correcto, não atingem o essencial, o “santo dos santos” da questão educativa: a autonomia das escolas na contratação e avaliação do seu quadro docente e o estabelecimento, em função disso, de uma hierarquia de valores, competências e salários.
Duas pequenas questões para terminar de vez:
- Ainda ninguém me conseguiu explicar, até hoje, porque deve um professor com mais anos de serviço ser aligeirado da sua carga horária, algo que não acontece noutras profissões, sabendo, ainda por cima, que a experiência adquirida o fará investir menos tempo na preparação das aulas. Ou seja, ganha mais e trabalha menos. Nada mal!...
- Não é o objectivo essencial das aulas de substituição, mas, segundo uma reportagem da RTP1, parece que isso conseguiu diminuir um pouco o absentismo dos professores. Simples de perceber: se sabem que vão prejudicar um colega, pensarão duas vezes antes de faltar. Ou então sofrerão pressões do colega. Óptimo!
3 comentários:
Caro JC, as reduções dos professores mais velhos são sem dúvida excessivas. Mas engana-se se pensa que a EXPERIÊNCIA nos faz perder menos tempo a preparar aulas. :)
Isso não é verdade: todas as turmas são diferentes, e todos os anos é preciso recomeçar. De um modo geral, reformulo as bases do meu trabalho de 3 em 3 anos, pelo menos. Para além disso, tem havido muitíssimas mudanças de programas em todas as disciplinas. Qualquer uma destas coisas exige tempo, reflexão, leituras, estudo, pesquisa. Por outro lado, a idade tira-nos a flexibiliade e a paciência para lidar com cento e tal alunos por ano, e é isso que justifica que possamos receber menos turmas... contudo, as reduções em vigor são claramente exageradas, volto a dizer.
Penso que ninguém sem experiência de leccionar compreende o desgaste que é uma aula. Pelo número de alunos envolvidos, pela gestão da relação com TODOS eles, da transmissão de saberes e dos modos de os fazer trabalhar, compreender e aprender.
Parece fácil, visto de fora, tão fácil que até muitos professores recém -chegados à profissão se espantam com a quantidade de trabalho que lhes cai em cima. :)
Um dos nossos problemas é que acabamos muito fechados na escola, com uma experiência profissional muito específica, e tendemos a sentir a incompreensão do resto da sociedade pelas dificuldades do nosso trabalho como uma CENSURA. Numa profissão onde os retornos são muito pouco objectivos, isso é difícil de aguentar: este trabalho não se faz BEM FEITO sem criatividade e uma grande diponibilidade para os alunos e a escola. Isso deixa-nos vulneráveis.
Por outro lado, ainda não se arranjou um método verdadeiramente EFICAZ de controlar e erradicar os abusos.
Quanto à sua ideia de pagar mais a profs de matemática e inglês... desculpe, mas acha mesmo que deve haver matérias de primeira e de segunda ou terceira?! E pelo facto de alguém ser professor de matemática ou inglês é GARANTIDAMENTE MELHOR PROFISSIONAL do que outro de física ou de filosofia ou de biologia ou de história?! E quem decide isso?
Não consigo ver qualquer fundamento
minimamente razoável nessa medida, nem qualquer vantagem pedagógica. As aprendizagens beneficiam umas com as outras, simplesmente.
Bem, já vai demasiado longo, e ainda lhe falta ouvir os tais FAMILIARES!... ;)
Cara Cinderela:
Um último comentário.
1.Claro que um professor de matemática, português ou inglês não é necessariamente melhor profissional do que um de biologia ou... trabalhos oficinais. Mas, dada a importância das matérias para a formação do aluno, tem uma maior responsabilidade, e isso tem um determinado valor.
2. Compreendo perfeitamente o desgaste de uma aula e valorizo o trabalho dos profs. Por isso defendo que os melhores devem ser devidamente avaliados e recompensados, o que não acontece actualmente. No entanto, existem outras profissões igualmente desgastantes e de responsabilidade comparável.
Pronto. continue a aparecer aqui pelo blog. Se não conseguir os documentos até ao próximo sábado tomarei a liberdade de lhos pedir.
Mtº obrigado
É só dizer: tenho o maior gosto em lhos mandar!
Para dizer a verdade, tenho imensa curiosidade sobre o que um profissional da sua área terá a dizer sobre o dito documento!... :)
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